De quantos milhões você
precisa para sobreviver? De quantas casas, carros, joias, contas bancárias,
cartões de crédito, celulares e outros bens dos quais milhares de pessoas não
conseguem abrir mão? Vale a pena acumular bens, títulos, cargos e honrarias ao
longo de uma vida inteira?
Quanto desperdício de energia
vital, diria Sócrates, filósofo da Grécia Antiga, se vivesse nos dias de hoje.
São necessárias milhares de horas de trabalho para sustentar as intermináveis
carências do ser humano. Na prática, será que precisamos de tudo isso para
viver relativamente bem?
Minha profissão requer o
envolvimento com diferentes tipos de pessoas, de diferentes empresas em
diferentes cargos. Não há como fugir da necessidade constante de lidar com
pessoas e reposicioná-las sempre que necessário em processos de mudança e
reestruturação organizacional.
Por mais profissional que você
tente parecer, todo processo de mudança é doloroso. Na maioria dos casos,
lidamos com emoções o tempo todo e, por experiência, posso afirmar que são
poucos os que conseguem aceitar as mudanças com o profissionalismo necessário
para evitar a resistência e facilitar a transição.
Muitas pessoas não entendem o
rito de passagem. Ninguém é dono do cargo, da função, do crachá ou do posto que
ocupa, temporariamente, por mais comprometido que seja. Posições são
transitórias, organizações e líderes também, motivo pelo qual a resistência e o
excessivo apego ao cargo em nada contribuem para o crescimento pessoal e
profissional do ser humano.
Em geral, as pessoas preferem
o cargo ao emprego, a morte à simplicidade. É duro chegar ao topo, entretanto,
mais difícil ainda é manter-se nele, motivo pelo qual o desapego é um desafio
constante. Preparamo-nos para subir, nunca para descer, mas, por vezes, o processo
é inevitável.
Quando as únicas coisas que
nos movem são o cargo, o dinheiro, a posição social, os carros e os bens acumulados,
tem algo de errado conosco. Tudo isso é um meio e não um fim. Além do mais,
quando o ter é mais importante que o ser, o sofrimento é maior.
Senti isso na pele há oito
anos quando fui demitido de uma grande empresa. Eu ocupava um cargo de confiança,
importante até onde eu imaginava, mas, de um dia para o outro, o cargo foi
extinto com a mesma facilidade com a qual eu fui demitido.
Nesse momento, o mundo desaba
e, num estalar de dedos, você não tem mais cargo nem salário nem crachá. É como
se lhe tirassem o chão e, logo abaixo, houvesse um poço de jacarés
famintos. Quando existe apego em excesso, o recomeço é uma batalha consigo
mesmo. Você não é mais diretor nem gerente nem sequer aquele simples assistente
dedicado.
Por essas e outras razões, para muitos, somente a dor e a reflexão são capazes de fazê-los amadurecer e repensar certos valores equivocados que, quando adotados, acabam afastando as pessoas da missão (vocação) original. Quanto maior o apego, maior a frustração.
É bom ser abastado, ter
dinheiro, ocupar cargos importantes, ser valorizado pela sociedade, mas isso
não pode ser garantido para todos durante o tempo todo. O que ignoramos por
completo representa bem mais para a sociedade: pobreza extrema,
sustentabilidade do planeta, violência generalizada.
O desapego é uma arte que não
se aprende da noite para o dia. Exige experiência, amadurecimento, força de
vontade, paz de espírito. Todas as coisas são efêmeras, dizia o Fernando
Pessoa.
Por experiência comprovada,
posso afirmar que, muito mais importante do que ocupar uma posição de destaque
na sociedade, é trabalhar com afinco para viver com dignidade e transformar o
mundo num lugar mais digno para se viver.
Se isto não for suficiente
para reflexão, lembre-se das palavras de Sócrates, filósofo grego, ao passear
por uma feira de supérfluos naquela época: "Quantas coisas sem as quais
posso viver tranquilamente".
Pense nisso e seja feliz!
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