A historiadora Zuleika Alvim, de 68 anos, não queria seguir o caminho mais
tradicional da sua profissão: dar aulas. Preferiu contar um tipo diferente de
história, a empresarial. Em 1985, ela criou a Grifo Projetos Históricos e
Empresariais, especializada no assunto. Hoje, Zuleika trabalha para grandes
corporações que dão cada vez mais importância para esse tipo de trabalho e
emprega 36 pessoas, a maioria historiadores que, como ela, buscavam novas
formas de atuar na profissão.
Com o mercado de trabalho aquecido, o surgimento de novas tecnologias e a
flexibilização nas formas de contratação, nichos de mercado em áreas mais
tradicionais do conhecimento, como história, geografia e medicina, estão
crescendo e abrindo espaço para profissionais dinâmicos e criativos. E esses
segmentos oferecem vantagens, incluindo maior remuneração ou estabilidade.
A historiadora Beth Totini, de 53 anos, que deixou a carreira de professora
para trabalhar com história empresarial, garante que esse mercado está cada vez
mais aquecido. "Há cinco anos, percebo um aumento da valorização dessa
área pelas organizações, principalmente por causa do surgimento de novos
paradigmas como o da responsabilidade social", diz. "As empresas
perceberam que o conhecimento da própria história faz diferença na elaboração
do planejamento estratégico."
É o caso da Unilever, empresa que há dez anos mantêm um centro de memória em
sua sede, em São Paulo, administrado pela Grifo Projetos Históricos e
Empresariais, a empresa de Zuleika. Desde a criação do centro, a companhia
conseguiu melhorar sua comunicação com os consumidores, reposicionar produtos
no mercado e tomar uma série de decisões estratégicas. "Sem olhar para a
história, perdemos a perspectiva para fazer novos lançamentos. Em 2008, nós
conseguimos fazer um planejamento estratégico até 2012 porque tínhamos esse
tipo de conhecimento", diz o vice-presidente de assuntos corporativos da
empresa, Luiz Carlos Dutra.
Além dos mapas. Quando o estudante Pedro David Albuquerque, de 24 anos, entrou
na faculdade de geografia, acreditava que uma das melhores opções de carreira
era a de professor universitário. No fim do segundo ano do curso, conseguiu um
estágio em uma área que até então desconhecia, o geomarketing, técnica que utiliza
a localização geográfica para analisar as melhores possibilidades de mercado
para uma empresa. Há mais de dois anos na área, ele mudou de emprego, mas não
de carreira. "Quando comecei a estudar geografia, diziam que eu tinha dois
caminhos: ser professor ou trabalhar no mercado de engenharia com
geoprocessamento. Com o tempo, vi que existiam outras possibilidades."
O demógrafo Reinaldo Gregori, fundador da empresa de geomarketing Cognatis, diz
que a profissão é promissora. "Com os avanços econômicos e o esgotamento
dos mercados óbvios, esse tipo de estudo se torna cada vez mais necessário para
as empresas. E a procura por profissionais do ramo só tende a aumentar."
No entanto, considera a disseminação desse tipo de conhecimento muito pequeno
nas universidades. "Os cursos ainda só preparam o aluno para trabalhar na
academia."
Gestor
Há dez anos, o médico ginecologista Tony Piha trocou o jaleco por terno e
gravata. Gerente de farmaeconomia da Astra Zeneca, ele dá suporte médico para a
área de produtos, promove treinamentos para a equipe de vendas, estabelece
protocolos clínicos para a descrição de fármacos e viaja para trabalhar também
em unidades da empresa em outros países. A mudança ocorreu após o médico sofrer
o calote de uma operadora de planos de saúde que quebrou. "Tive de acionar
outras formas de renda. Foi quando encontrei uma colega que trabalhava como
auditora de convênios médicos e me indicou para uma vaga", diz ele, que
passou ainda por uma seguradora de saúde antes de entrar na farmacêutica.
"Descobri um outro lado da medicina e agora posso usufruir dos benefícios
da contratação por meio da CLT."
Para complementar sua formação, o médico cursou um MBA em gestão da saúde e
percebeu que vários de seus colegas de profissão estão trocando as clínicas
pelo escritório. "A gestão na área de saúde é um mercado promissor, porque
a saúde no mundo inteiro está quebrada e as empresas precisam cada vez mais de
profissionais que consigam fechar essa conta."
O diretor de RH da Astra Zeneca, Miguel Monzu, conta que há campo para
profissionais de medicina também em outras áreas, como as de relacionamento
médico e pesquisa clínica. "O interessante é que vários médicos entram na
empresa, se envolvem como trabalho e acabam migrando para outro departamento
fora da área de saúde, como o marketing, por exemplo."
Monzu recorre a head hunters para contratar profissionais, mas diz que é comum
também receber indicações. O laboratório não exige experiência prévia na
função, mas há habilidades essenciais para esse tipo de trabalho. "Ter
facilidade de comunicação é muito importante, assim como Inglês fluente.Também
preferimos que o candidato seja especialista em alguma área da medicina",
diz Monzu. "Depois de entrar em uma empresa, os médicos costumam fazer algum
curso de especialização, o que não é exigido num processo seletivo, mas pode
ser um ponto positivo a favor do candidato."
A consultora de recursos humanos do Grupo DMRH, Naamisis Campos, diz que muitas
carreiras têm apresentado novos nichos em decorrência do aquecimento do mercado
de trabalho e da flexibilização das formas de contratação. "O profissional
pode prestar variados tipos de serviços e não precisa necessariamente seguir
carreira em uma empresa", diz. E as companhias estão procurando quem tenha
conhecimento multidisciplinar e seja capaz de identificar e suprir novas
demandas.
"O profissional deve buscar novas tendências sempre." Entre as
mudanças percebidas pela consultora, estão a procura por trabalhadores de áreas
tradicionalmente práticas, como professores de educação física, chefs de
cozinha e pilotos de avião, com experiência na área administrativa e por
pessoas com conhecimento em sustentabilidade. "As empresas não olham só
para o técnico, elas procuram pessoas com fluência em outro idioma, conhecimento
tecnológico e visão de negócio", afirma Naamisis.
Fonte: O Estado de São Paulo
Autor: Ligia Aguilhar
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