Sentir solidão é absolutamente comum para aqueles
executivos e empresários que passam a ocupar a gestão de seus negócios. Eu, pessoalmente,
chamo esta sensação de angústia de Atlas - um dos titãs gregos, condenado por
Zeus a sustentar o céu para sempre - é a de ter a enorme tarefa de não só
suportar sozinho o mundo nos ombros como também equilibrá-lo e torná-lo mais
leve e assim mais fácil de transportar. O fardo foi temporariamente aliviado
por Hércules durante um de seus 12 trabalhos, mas Atlas foi enganado e voltou a
carregar os céus sobre os ombros. Aparentemente, até mesmo o grande Hércules
não estava muito interessado em fazer este trabalho perdurar por muito tempo.
A única grande certeza de quem chegou ao topo é que não há certezas. O dia a
dia da gestão traz muitas dúvidas sobre os caminhos corretos para atingir os
auspiciosos objetivos projetados; medos sobre os reais impactos das decisões
não somente na empresa como também nas vidas de muitas pessoas; e inseguranças
das mais variadas. Tudo isto faz parte do poder!
Com quem o gestor poderá compartilhar suas angústias? Com quem ele pode
realmente contar? Como descobrir estas pessoas dentro da organização? Quando se
contrata um executivo para assumir a presidência ou gestão de um negócio, este
terá que enfrentar um período angustiante de adaptação e integração. Conhecer
cada integrante de sua equipe (características técnicas, experiências,
competências, motivações e comportamentos) e estabelecer relações de
credibilidade e responsabilidades serão alguns dos desafios encontrados.
A meta será a sobreposição da equipe versus o desafio. "Será que este time
está preparado para me auxiliar a cumprir as metas com as quais eu me
comprometi?" É muito difícil, neste primeiro momento, ter a confiança de
dividir sentimentos e idéias com alguém. Está na hora de "reconhecer o
ambiente antes de querer ser reconhecido". Até porque há uma boa
possibilidade de que alguns destes profissionais tenham sido preteridos à
posição. A decisão de alguns é a de trocar a equipe, o que considero um grande
erro, pois há uma chance de perda não somente intelectual como financeira e de
talentos. Minha recomendação é a de avaliar o time através de uma ferramenta de
"assessment" completa e que contemple as várias facetas de cada um.
Se, por outro lado, o executivo escolhido vem de "dentro de casa" ele
já conhece melhor o ambiente e sua estrutura de poder, mas também,
provavelmente, terá que lidar com as frustrações de outros. Por algum motivo
ele foi o escolhido. Nem sempre está decisão ficou clara para todos os que
ambicionavam a posição.
Mas mesmo tomando estes cuidados, muitas vezes, pode-se chegar à conclusão de
que ainda é difícil ou inapropriado "se abrir" com alguém. Uma
alternativa é a de recorrer ao conselho. Se não houver, estruturar a montagem
de um conselho consultivo. A preocupação aqui é a de buscar conselheiros
externos cujas características e qualidades venham de encontro com os
interesses estratégicos do negócio.
Atualmente, vários executivos também recorrem a organizações como a YPO (Young
Presidents Organization) e a TEC (Chief Executives Working Together) em busca
deste apoio. É também uma fórmula organizada e independente de dividir suas
dúvidas. De qualquer forma, todos nós já tivemos nossos momentos de Atlas. O
importante é agir sem precipitação, mas agir para que a situação não se
perpetue, pois pode trazer reflexos muito negativos tanto para a vida pessoal
como profissional.
Fonte: Gazeta Mercantil - SP - Vida Executiva
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