domingo, 21 de abril de 2013

Solidão e a angústia do titã grego Atlas


Sentir solidão é absolutamente comum para aqueles executivos e empresários que passam a ocupar a gestão de seus negócios. Eu, pessoalmente, chamo esta sensação de angústia de Atlas - um dos titãs gregos, condenado por Zeus a sustentar o céu para sempre - é a de ter a enorme tarefa de não só suportar sozinho o mundo nos ombros como também equilibrá-lo e torná-lo mais leve e assim mais fácil de transportar. O fardo foi temporariamente aliviado por Hércules durante um de seus 12 trabalhos, mas Atlas foi enganado e voltou a carregar os céus sobre os ombros. Aparentemente, até mesmo o grande Hércules não estava muito interessado em fazer este trabalho perdurar por muito tempo.

A única grande certeza de quem chegou ao topo é que não há certezas. O dia a dia da gestão traz muitas dúvidas sobre os caminhos corretos para atingir os auspiciosos objetivos projetados; medos sobre os reais impactos das decisões não somente na empresa como também nas vidas de muitas pessoas; e inseguranças das mais variadas. Tudo isto faz parte do poder!

Com quem o gestor poderá compartilhar suas angústias? Com quem ele pode realmente contar? Como descobrir estas pessoas dentro da organização? Quando se contrata um executivo para assumir a presidência ou gestão de um negócio, este terá que enfrentar um período angustiante de adaptação e integração. Conhecer cada integrante de sua equipe (características técnicas, experiências, competências, motivações e comportamentos) e estabelecer relações de credibilidade e responsabilidades serão alguns dos desafios encontrados.

A meta será a sobreposição da equipe versus o desafio. "Será que este time está preparado para me auxiliar a cumprir as metas com as quais eu me comprometi?" É muito difícil, neste primeiro momento, ter a confiança de dividir sentimentos e idéias com alguém. Está na hora de "reconhecer o ambiente antes de querer ser reconhecido". Até porque há uma boa possibilidade de que alguns destes profissionais tenham sido preteridos à posição. A decisão de alguns é a de trocar a equipe, o que considero um grande erro, pois há uma chance de perda não somente intelectual como financeira e de talentos. Minha recomendação é a de avaliar o time através de uma ferramenta de "assessment" completa e que contemple as várias facetas de cada um.

Se, por outro lado, o executivo escolhido vem de "dentro de casa" ele já conhece melhor o ambiente e sua estrutura de poder, mas também, provavelmente, terá que lidar com as frustrações de outros. Por algum motivo ele foi o escolhido. Nem sempre está decisão ficou clara para todos os que ambicionavam a posição.

Mas mesmo tomando estes cuidados, muitas vezes, pode-se chegar à conclusão de que ainda é difícil ou inapropriado "se abrir" com alguém. Uma alternativa é a de recorrer ao conselho. Se não houver, estruturar a montagem de um conselho consultivo. A preocupação aqui é a de buscar conselheiros externos cujas características e qualidades venham de encontro com os interesses estratégicos do negócio.

Atualmente, vários executivos também recorrem a organizações como a YPO (Young Presidents Organization) e a TEC (Chief Executives Working Together) em busca deste apoio. É também uma fórmula organizada e independente de dividir suas dúvidas. De qualquer forma, todos nós já tivemos nossos momentos de Atlas. O importante é agir sem precipitação, mas agir para que a situação não se perpetue, pois pode trazer reflexos muito negativos tanto para a vida pessoal como profissional. 


Fonte: Gazeta Mercantil - SP - Vida Executiva

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