Sábado passado estava em um supermercado quando encontrei com
um amigo que conheci algum
tempo atrás, quando dava
consultoria a uma empresa. Há quase dois anos esse meu amigo está desempregado
– e olhem que é um sujeito muito competente e com excelente formação acadêmica,
com MBA, vivência internacional e tudo o mais.
Sua “incompetência”? Ter
45 anos de idade.
Pedi-lhe que me encaminhasse um
currículo e no texto do e-mail que me enviou horas depois, um trecho me chamou
a atenção – para dizer a verdade: me chocou.
Dizia textualmente:
“Nesta semana, contatado por um
headhunter para uma vaga de gerência e tendo preenchido todos os requisitos do
perfil do cargo (... ) fui informado de que talvez não possa prosseguir neste
processo, pois simplesmente estão em busca de um SER HUMANO entre 28-40
anos!!!”
Não é primeira nem a última vez que
volto a tocar no assunto do preconceito ainda reinante na maioria das empresas
com relação à idade dos candidatos. Por isso, não vou me dar ao trabalho de
apresentar os dados e argumentos contra essa incompreensível discriminação, que
citei em um artigo anteriormente publicado aqui, chamado “Com que idade
você está velho para o mercado?”. Quem se interessar pelo assunto,
basta consultar a relação dos meus artigos anteriores neste mesmo site.
Mas antes de prosseguir, quero fazer um
esclarecimento: espero que nenhum leitor pense que estou fazendo propaganda da
empresa onde sou o Diretor de Recursos Humanos e Qualidade de Vida, mas não
posso resistir à tentação de informar a todos os empresários e responsáveis
pelas áreas de Recursos Humanos, que acabamos de contratar o Sr. Meireles, que
tem 70 anos de idade. Vou repetir para o caso de alguém achar que não leu
direito ou que ocorreu um erro de impressão: MEIRELES,
NOSSO MAIS NOVO FUNCIONÁRIO, TEM SETENTA ANOS DE IDADE.
Com carteira
profissional assinada e tudo o mais que manda o figurino trabalhista, este
bravo cearense está compartilhando sua vasta experiência comercial com o nosso
pessoal de Vendas e só tem recebido elogios da equipe. Estamos todos muito
satisfeitos com o desempenho do Meireles – que, aliás, tem demonstrado uma
enorme disposição para o trabalho e uma incrível habilidade no manuseio do seu
Notebook.
Eu não tenho a menor idéia de por
quanto tempo os neurônios humanos preservam intactas as informações,
experiências e conhecimentos adquiridos ao longo do tempo. Mas posso assegurar
a vocês, a julgar pelo desempenho do nosso mais novo funcionário, que não são
apenas por 70 anos.
Costumo comparar a experiência com a
liberdade: uma vez conquistadas, jamais as esquecemos – e o passar dos anos só
nos faz aumentar o desejo de praticá-las. Nada mais penoso para o profissional
que é marginalizado pelo mercado apenas por ser “idoso” do que ter a plena
consciência do seu valor e da sua utilidade e, no entanto, ver seu tempo
escoar-se em recordações e lembranças concretas de um passado de glórias e
homenagens - troféus, placas, diplomas, prêmios – que hoje, quando manuseados,
servem apenas para tornarem seus olhos úmidos e o coração pesado, com um
sentimento que se aproxima muito da injustiça e do vazio.
O que acho incrível é que já se esgotou
o tempo para o mercado de trabalho entender que não são as rugas nem os cabelos
brancos que determinam a competência de uma pessoa. Desafio a quem me apresente
um argumento cientifico válido a este respeito.
E uma outra coisa que também é muito preocupante com
relação a este absurdo preconceito: de
acordo com o ocorrido com o meu amigo, parece que a cada dia que passa
diminui o limite máximo de admissão - já
chegamos ao surrealista número de 40 anos de idade!
Acho a juventude maravilhosa: quanta
saúde, vibração, energia, disposição e quanto desejo de realizações e
conquistas. Mas, que me entendam os jovens, a questão da competência ainda está
(e continuará assim por muito tempo) condicionada à da vivência pessoal e
profissional – e essas vivências só são obtidas com o passar do tempo, através
de experiências sabiamente vividas. Claro, sei que experiência não é tudo. Já
li em algum lugar que “experiência não se mede pelo tempo de anos vividos,
mas pelo que se fez com esse tempo”.
No entanto, se experiência não é tudo, o conhecimento
acadêmico também não o é.
Muito longe de se auto-excluirem, experiência e conhecimento na verdade se
complementam e se ajudam mutuamente! É por isso que, para nós, o fator idade
não tem a menor importância. Tanto que, se por um lado contratamos um
profissional de 70 anos, por outro temos centenas de jovens no nosso quadro de
colaboradores. Porque a nossa estratégia é simples e tem se mostrado eficaz a
julgar pelos bons resultados que vêm sendo obtidos: somar ao vigor e
impetuosidade dos jovens a experiência dos mais velhos e vice-versa. Posso
garantir que essa mistura dá um belo casamento.
Cada idade tem sua competência específica. Do ponto de vista
exclusivamente profissional, sem necessidade de atitudes paternalistas, é fácil
perceber que há perfis de cargos que se adequam a idades diferentes. O que, no
frigir dos ovos, não se constitui em nenhuma novidade. Como há muito tempo
disse o escritor alemão Georg Lichtenberg (1742-1799), em “Aforismos”:
“Não fosse a lembrança da mocidade, não se lamentaria a velhice.
(...) Pois o velho, em seu gênero, é decerto uma criatura tão perfeita como o
moço na sua”.
* Floriano Serra é psicólogo, diretor de RH e
Qualidade de Vida da APSEN Farmacêutica, eleita pelo 4o. ano consecutivo
"uma das Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil" (Revistas
EXAME- VOCÊ SA FIA e ÉPOCA/Great Place to Work). Está entre as 10 primeiras no
ano de 2008.
Fonte: http://www.guiarh.com.br/
Fonte: http://www.guiarh.com.br/
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