Quando o assunto é carreira,
atire uma pedra quem nunca bancou o especialista e encheu a cabeça de um amigo
ou colega de trabalho de conselhos. Mas, especialistas advertem, nestes casos,
é muito fácil cair num clichê - daqueles que nem a realidade mais acredita.
Confira quais os clichês de
carreira que são propagados por aí, segundo especialistas de carreira (de verdade):
“Você tem que planejar os próximos cinco anos da sua carreira”
A questão está presente em boa
parte das entrevistas de emprego feitas por aí. Saber a resposta é essencial
para mostrar seus valores e intenções para o recrutador. Mas se agarrar
fielmente aos planos de carreira não é uma boa estratégia.
“As coisas mudam demais. Você corre o risco de recusar oportunidades
porque elas não têm relação com seu objetivo final”, afirma Gisela Kassoy,
especialista em carreira e criatividade.
“A gente não conhece todo nosso potencial. A gente
pode se envolver com coisas que nunca pensamos e acabar gostando”.
“Faça o que você ama que o dinheiro te seguirá”
Fazer o que você ama é
essencial. Agora, é ilusão pensar que isso é garantia de que o dinheiro virá.
“A pessoa gosta tanto do que ela faz que pode optar por um tipo de trabalho que
pague menos”, afirma Gisela. Agora, segundo a especialista, não gostar do
trabalho e não ter um bom salário “é uma dupla tragédia”.
“Se você gosta do seu trabalho, será sempre feliz”
História de carochinha, conto
de fadas ou ficção científica pensar que o fato de gostar do seu trabalho é
garantia de sorrisos fartos todos os dias. A vida profissional é bem mais
complexa do que isso. Por mais apaixonante que sua carreira seja, uma coisa ou
outra pode não agradar você. E é essencial aprender a lidar com isso.
“A profissão está para a nossa
era assim com o casamento estava para os anos 60. As pessoas pensavam que
bastava se apaixonar para que tudo estivesse resolvido. O amor salvava tudo”,
afirma Gisela.
Como o amor entre duas pessoas
não salva – e tem lá seus altos e baixos, toda função profissional também
possui seus “porens”. "Você pode amar seu trabalho, mas talvez não goste
de lidar com as políticas da empresa, com a falta de autonomia”, diz a
especialista. E por aí vai.
“O amor à primeira vista pode
ser um equívoco tremendo assim como a antipatia e o desinteresse à primeira
vista também”, afirma.
“Para ter sucesso na carreira, é preciso ser
gestor”
Nem sempre. Tudo depende do
seu referencial de sucesso e satisfação profissional. “Sucesso é relativo”,
afirma Joseph Teperman, sócio da Flow Executive Talents. “Muita gente é feliz
com uma posição de especialista”.
Não é preciso chegar a um
cargo de liderança para provar para os outros que você está crescendo na carreira.
Muitas empresas, por exemplo, oferecem planos de carreira em Y – aqueles
destinados para quem tem um perfil mais técnico.
A mesma questão cabe para quem
já está no cargo de diretor e sente a pressão dos companheiros para mirar um
cargo de presidente. Nem todos querem a responsabilidade e a pressão que é
comandar uma empresa.
Agora, o único jeito de saber
qual plano de carreira é mais coerente com o seu perfil é conhecendo muito bem
a si mesmo. “É preciso autoconhecimento para saber onde se quer chegar”, afirma
o especialista.
“Para ficar rico, você tem que ser empreendedor”
Mais da metade dos jovens
brasileiros afirmam que, em algum momento de suas carreiras, terão um negócio
próprio, segundo levantamento recente da Cia. De Talentos. O retorno financeiro
e a autonomia que o empreendedorismo pode dar são alguns dos fatores para tanta
empolgação em torno do tema.
Mas, Fernanda Mota,
sócia-diretora da M3, pondera: “abrir um negócio próprio ainda é muito
arriscado”. Poucos são os que conseguem sobreviver ao primeiro ano de
nascimento da nova empresa. “É preciso ter uma noção de administração de
empresas, de empreender e de como trabalhar com dificuldades”, diz.
“Existe um limite pra o crescimento profissional”
O fato de chegar ao cume da
sua área profissional não significa que é hora de se acomodar. Ao contrário.
“Hoje em dia, as carreiras são muito dinâmicas. Você pode estar no topo um dia
e no outro, demitido”, diz Gisela.
Mas não é só isso. “O
conhecimento não tem fim. Sempre existirá alguma coisa para você aprender e se
atualizar”, afirma a especialista. “Este lá (onde você pode parar de crescer
profissionalmente) não existe”.
“Profissões em alta são garantia de emprego”
Se todo mundo está falando
sobre uma profissão ou especialização, cuidado. A demanda elevada de hoje pode
ser a saturação do amanhã. “Todo mundo se prepara para as posições que estão
mais em alta e com isso, o mercado fica saturado, não tem mais espaço para
aquelas pessoas”, afirma Fernanda, da M3.
“Se você, realmente, não
estiver uma identidade com aquele mercado, vai chegar uma hora que você não vai
mais para frente”, diz a especialista.
“Quem tem um salário maior é mais feliz”
“Apenas 20% das pessoas mudam
de emprego por causa do salário”, diz Teperman, da Flow. “Isso faz parte de um
clichê macro da vida que diz que dinheiro traz felicidade”. Quem já recebeu um aumento
interessante sabe que, na prática, isso não é verdade.
Teperman conta que pesquisas
mostram que ganhadores de loteria até ficam muito felizes ao receber a bolada.
Mas a felicidade volta a níveis semelhantes ao que a pessoa tinha antes de
ficar rico.
“É possível ter controle de tudo quando o assunto é
carreira”
Você pode ter um currículo
impecável, uma formação teórica capaz de fornecer as melhores sacadas e uma
ótima percepção do mercado. Mas nada disso é suficiente para dar a você total
controle sobre o que pode suceder nos dias que se seguem. “Algumas variáveis
você até pode controlar, mas não todas”, diz Gisela.
“Ideias boas se vendem sozinhas”
A sua sacada pode até ser
sensacional, mas se você não souber como embalá-la, as chances da ideia não ser
aceita aumentam, afirma Gisela. “As pessoas tendem a se apaixonar pelas
próprias ideias e não levam em conta as questões políticas, nem como deve apresentá-las.
Não é bem assim”, diz a especialista.
“Fazer hora extra no trabalho é sinônimo de
produtividade”
Definitivamente, ficar horas a
mais no trabalho não significa que você tem tudo para ganhar o título de funcionário
do mês. “Quem tem a mesa lotada de afazeres, vira a noite trabalhando, não
necessariamente é o mais produtivo”, diz Fernanda. Em alguns casos, isso até
pode ser sinônimo de desorganização.
“A fórmula do sucesso alheio terá o mesmo efeito
para você”
Não é porque o mundo está
falando do último viral do momento, que você deve fazer o mesmo.
Não é porque o caminho
escolhido pela concorrência deu certo, que você deve segui-la. Ao contrário:
“Se está todo mundo fazendo a
mesma coisa, é hora de cair fora”, aconselha.
Ela explica que ao copiar aquilo
que já é a bola da vez, você “não terá o efeito surpresa”.
E por isso os riscos de não
dar certo são elevados. A dica é seguir, sim, as tendências. Mas fugir de tudo
que é clichê. Anotou?
“Faça o curso que todo mundo fez|faz”
“Reciclar você tem que se
reciclar sempre. Mas fazer o mesmo MBA que todo mundo já fez na empresa não é o
caminho", afirma Gisela. “Aposte em um curso diferente que torne você
especial, que traga uma contribuição diferente para a companhia”. E que seja
coerente com suas aspirações profissionais.
“Ter uma carreira internacional é essencial – e vai
fazer você feliz”
Muita gente por aí,
provavelmente, já sentiu inveja daquele amigo que roda o mundo a trabalho.
Mas, apesar de interessante,
carreira internacional não é para todo mundo. “Você passa metade do mês dentro
de um avião, dormindo em hotel. É difícil ter rotina, dificulta o
relacionamento”, afirma Teperman.
“Mercado de trabalho é ruim
para todos que têm mais de 40 anos”
O papo de que depois dos 40
anos é difícil se recolocar no mercado de trabalho é ultrapassado.
Com o descompasso entre
procura e oferta de profissionais qualificados, os recrutadores estão de olho
nos currículos cheios de experiência – algo que só os mais velhos podem
oferecer. Mas essa realidade só vale para profissionais que estejam
atualizados. E, claro, tenham muita energia, afirma o especialista da Flow.
“Se mudar de carreira, tudo que aprendi até agora
será em vão”
Quem decide dar uma guinada na
carreira e partir para outra área profissional pode ficar tranquilo: tudo o que
você aprendeu até agora pode ser sim usado no novo emprego. “O conhecimento
sempre é aproveitado. Talvez você não utilize as mesmas competências, mas,
indiretamente, você pode transformar a experiência em conhecimento”, afirma Fernanda.
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