quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O lobo que alimentamos

Conta uma antiga lenda que, certa noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse:  – “Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é Mau:  É raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego. O outro é Bom: É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.”

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:  – “Qual lobo vence?”

Então, o velho índio respondeu: – “Aquele que você alimenta.”

Acredito que, ao longo de nossa caminhada, quando escolhemos nos tornarmos pessoas melhores, criarmos condições para que o Lobo Bom saia vencedor nesse conflito interior.

Mas, acredito também, que a grande maioria de nós vai passar por toda a existência sem que esse conflito termine definitivamente, afinal, dia após dia estamos alimentando os dois lobos.Em alguns momentos damos mais comida para um e em outros damos mais comida para o outro. Da mesma forma, em diferentes locais e em diferentes circunstâncias temos diferentes critérios para decidir qual lobo será alimentado.

Cada relação faz com que alimentemos de forma diferente cada um dos dois lobos.
A disputa acontece a todo instante e em todos os lugares.

Mas, existe um local onde essa briga costuma ser especialmente intensa. Um local onde os conflitos, a necessidade de aprovação e a competição interna nos deixam mais vulneráveis e mais confusos. Um lugar onde muitas vezes não estamos bem certos a respeito de qual lobo será mais útil para a nossa sobrevivência: o ambiente de trabalho.

Na vida profissional, apesar de acreditarmos apenas no nosso Lobo Bom, às vezes nos vemos ‘obrigados’ a usar o nosso Lobo Mau.

Muitas vezes nos propomos a alimentar o Lobo Bom, mas, sem que percebamos, passamos a acreditar que essa bondade pode nos deixar vulneráveis. E assim, mesmo não querendo, alimentamos o Lobo Mau.

Outras vezes entramos nas relações com a maior boa vontade, com o coração aberto, mas quando encontramos o Lobo Mau das outras pessoas, entramos numa posição defensiva e passamos a acreditar que somente o nosso Lobo Mau será capaz de nos defender.

Como não acreditamos que diante do Lobo Bom o Lobo Mau foge, escolhemos atacar na mesma moeda.

E o pior é que não aceitamos, não compreendemos e não toleramos o Lobo Mau que o outro coloca para fora, enquanto achamos que o nosso Lobo não é tão mau, afinal, ele está apenas reagindo aos ataques.

Procuramos destruir o Lobo Mau do outro, sem nos darmos conta de que, com isso, só estamos alimentando o nosso.

É essencial percebermos que negar o nosso lado obscuro é apenas uma forma de alimentá-lo.
Nós somos luz, mas também temos trevas.

Reconhecer isso é essencial para o nosso crescimento enquanto seres humanos.

Em outras palavras, reconhecer o mal que podemos fazer ou que já fazemos aos outros e, consequentemente a nós mesmos, é um passo fundamental no caminho do aprimoramento.

Reconhecer que essa briga existe dentro de nós e nos ajuda a entender que, se por um lado podemos realmente viver toda a nossa vida convivendo com o conflito entre os dois lobos, por outro e, a todo momento, podemos fazer a escolha de qual deles vale a pena continuar a alimentar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário