sábado, 10 de novembro de 2012

Davi e Golias


Muitos especialistas em marketing dirão que uma das transformações mais significantes que ocorreram nos últimos 10 anos foi a mudança de poder das marcas para os consumidores. 

O poder dos clientes, como muitas marcas descobriram, não está apenas mudando o mercado, mas também está alterando como as empresas trabalham.

A internet e as mídias sociais tornaram mais fácil se agruparem e agirem como uma força que deve ser levada em consideração. Uma voz solitária agora pode aglutinar-se em uma massa de milhares e até de milhões.

Varejistas, intensamente preocupados em manter a fidelidade de seus consumidores diante da concorrência acirrada, forçarão as empresas a mudar a mensagem de suas marcas, embalagens, ingredientes e fornecedores para evitar transtornos aos clientes.

Um bom exemplo é o caso da Maionese Hellmann's: até recentemente, ninguém tinha perguntado de onde vinham os ovos que eles utilizavam. Mas um supermercado questionou e ameaçou excluí-los da lista de produtos se não fossem ovos de galinhas criadas ao ar livre. Outros se uniram a esse movimento. A Unilever não teve escolha a não ser mudar, mas ainda conseguiu transformar esse incidente em uma campanha publicitária para fazê-los parecer os mocinhos. Isso é uma verdadeira “virada de jogo”.

O escândalo recente dos telefones grampeados pelo jornal News of the World representou uma nova baixa para a imprensa – como se as pessoas já não fossem desconfiadas dos jornais antes. Mas foi o poder do povo, e de grupos como Mumsnet (com mais de 1,5 milhões de membros), que fez o maior estrago ao exigir que as empresas parassem de colocar publicidade no jornal. Marcas, desesperadas para não decepcionarem a grande massa de clientes e os poderosos grupos sociais, concordaram.

“Uma criança com um laptop de US$600 consegue derrubar uma campanha de 6 milhões de dólares.” Eu coloquei essa citação em muitos blogs para destacar um fator que eu chamo de “terrorismo de marca” (brand terrorism). Podem parecer palavras fortes, mas você não pode subestimar o poder das redes sociais, especialmente quando a verdade vai contra a mensagem de marketing. A verdade, seja utilizada de forma maliciosa ou apenas factualmente, pode machucar. Pior, pode te custar milhões e a sua reputação.

Fato é que nós acreditamos nas pessoas mais do que nas corporações. Uma pesquisa da TNS revelou que apenas 17% do público acredita em anúncios, e somente 14% acreditam em publicidade de produtos verdes. Mas quase todos nós acreditamos em nossos amigos, familiares e colegas de trabalho. E graças á internet, podemos conversar com todos eles ao mesmo tempo.

Veja o caso da empresa de cadeados de bicicletas Kryptonite. Eles fabricavam cadeados inquebráveis. Pelo menos é o que eles diziam em suas campanhas de marketing, até que alguém colocou um vídeo na internet de um dos cadeados Kryptonite sendo aberto com uma simples caneta Bic. Desastre. A notícia se espalhou e a empresa caiu em um grande buraco negro.

“Olhe por trás do rótulo” (Look behind the label) era uma antiga campanha da Marks & Spencer, mas se realmente olhássemos por trás de muitas marcas, não íamos gostar do que encontraríamos – mesmo os éticos (ou os que se dizem éticos, pois há uma diferença). É impossível marcar todas as opções. Grandes marcas corporativas podem tentar, mas é praticamente impossível ser completamente ético, principalmente se o seu foco é aumentar o lucro ano após ano para seus investidores.

Se você está procurando alguma sujeira ecológica debaixo do tapete, é fácil encontrar um pequeno ponto (um Calcanhar de Aquiles ético) e estendê-lo. E agora temos uma legião de pseudo-jornalistas usando blogs e Twitter, todos com imensa vontade de divulgar o próximo eco-escândalo.

Como se isso não fosse má notícia suficiente para as grandes corporações, agora as mídias de massa também estão buscando suas histórias nas redes sociais. O Sun atacou a rede Starbucks com a manchete “Starberks” e “O grande desperdício”. 

Poderia muito bem ser uma história trágica sobre trabalho escravo no terceiro mundo ou o desmatamento de florestas, mas não. A manchete era sobre uma torneira de baixa pressão que fica atrás dos balcões e é usada para limpar colheres. Ela era deixada aberta permanentemente e (de acordo com The Sun) desperdiçava 23,4 milhões de litros de água diariamente -  o suficiente para abastecer a população da Namíbia.

A maioria das pessoas deve estar se perguntando “Namíbia, onde fica isso?”. Há muitos desertos lá. A população é de apenas 1,987 milhão (censo de 2003). “Milhões de galões ralo abaixo, suficiente para manter um país vivo”, dizia o subtítulo da reportagem. Obviamente, o observador astuto notará que como a água não podia ser eficientemente transportada para a Namíbia, essa é uma analogia irrelevante.

Mas quando você olha por trás da marca do jornal The Sun, você pode ver como eles estão usando-a para divulgar sua versão da história. Todos nós já ouvimos o termo “greenwashing” (marketing verde), esse é o “anti-brandwashing”.

Sendo uma grande marca americana, como McDonald´s, a Starbucks recebe muitas críticas desmerecidas, mas eles sabem como lidar com elas. Com uma das maiores bases de fãs no Facebook, com 23 milhões de “Curtir”, a Starbucks simplesmente deixa que os admiradores saibam o que está sendo dito sobre ela e deixa que eles decidam. Você pode atacar uma marca, mas não pode atacar seus fãs. Marcas lutam com advogados, os fãs lutam com paixão.

Em contraste, quando a Pret, rede de lojas de sanduíches do Reino Unido, foi atacada por vender uma participação para o McDonald´s, todos os funcionários foram informados sobre a situação e como reagir às críticas. Enquanto os consumidores realizavam suas compras, alguns acabavam comentando sobre a transação com o McDonald´s. Mas os funcionários foram capazes de responder cara a cara e a batalha de marketing foi ganha rapidamente. Muito inteligente.

O que começa como um pequeno grupo pode crescer rapidamente para uma massa influente que as grandes marcas precisam ouvir. ColaLife, criada por Simon Berry, começou como uma ideia no Facebook e explodiu. Berry estava tentando convencer a Coca-Cola a usar a vasta rede de distribuição deles para um bem maior, ajudando centenas e milhares de pessoas.

“Nossa ideia é que a Coca-Cola poderia usar seus canais de distribuição (que são impressionantes nos países em desenvolvimento) para contribuir sais de reidratação para pessoas que precisam deles desesperadamente”, diz Berry. “Talvez dedicando um compartimento em cada dez caixas para um kit salva-vidas?” A ideia deu um novo significado aos famosos slogans “A vida tem um gosto bom” e “Coca-Cola dá vida”.

A campanha de Simon reuniu um grupo de apoiadores usando redes sociais para divulgar o projeto e criar uma comunidade digital de ativistas – milhares juntaram-se à causa na Facebook.

Esse caso mostra como uma pessoa pode rapidamente ganhar destaque e tornar-se tão influente quanto uma instituição de caridade ao colocar pressão sobre as grandes corporações; um novo conceito de Davi e Golias.

Considerando que o antigo modelo colocava as instituições de caridade como os campeões de determinados problemas ou causas, agora qualquer membro apaixonado e impulsionado pelo público consegue reunir forças e pressionar mudanças. Há algumas evidências de que os sites de pessoas comuns focados em problemas estão ganhando mais adeptos do que sites tradicionais de caridade. Será que no futuro as causas comuns substituirão as organizações de caridade como principais influenciadores?

Há apenas uma regra – seja honesto. 

Se você mentir, isso irá se refletir mais tarde. E lembre-se, “omitir a verdade” pode funcionar para os políticos, mas o público não irá aceitar. Você não terá argumentos, pois quando a verdade vier a tona sua marca estará morta. E os stakeholders não ficarão felizes.

A verdade é a única forma de lidar com esse cenário. 

Os consumidores têm muito mais poder do que você, porque as pessoas acreditaram em outras pessoas antes de acreditar em sua marca. 

E com as redes sociais como ferramenta, elas podem te derrubar como Davi Derrubou Golias.

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