quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Quem vê cara, não vê coração

Não é de hoje que brigamos por direitos iguais para todos, independente de raça, credo, condição social, ou seja lá o que for. Porém, infelizmente, ainda há muito preconceito por aí. Não é novidade, por exemplo, que as mulheres, principalmente as que ocupam cargos mais estratégicos, ganham consideravelmente menos que os homens. Por que isso acontece? Porque, como o próprio nome diz, todos nós prejulgamos pessoas, situações e/ou coisas de acordo com as experiências que já vivenciamos ou, até mesmo, de acordo com as imposições da sociedade. O problema é que esse conceito que fazemos, muitas vezes é feito sem que nós mesmos conheçamos e, com isso, estereotipamos sem perceber o quão perigoso é isso. 

O preconceito a que quero me ater hoje é com pessoas que estão acima do peso. Pesquisas nesse sentido já foram feitas e o resultado apontado é de que realmente existe certo preconceito no meio profissional com pessoas obesas. Apesar de qualquer tipo de preconceito ser ilegal, ainda é possível tomar conhecimento de situações onde profissionais são descartados pelo simples fato de serem gordinhos. Sabemos que apenas empresas não idôneas cometem esse tipo de infração, porém, vale discutir o assunto. O que não podemos é tapar nossos olhos para o que está errado e deixar que dia após dia verdadeiros talentos percam preciosas oportunidades por causa do que apresentam em sua carcaça. 

Vários são os motivos que levam uma pessoa à obesidade. Algumas, por exemplo, possuem distúrbios metabólicos que impedem a gordura dos alimentos que elas ingerem se transformar em fonte de energia, acumulando calorias com maior facilidade que outras que não possuem esse tipo de problema. Outros, infelizmente, realmente não cuidam da alimentação e, consequentemente, da saúde. É por causa desses que vem o preconceito. Alguns gestores acreditam que se uma pessoa não é capaz de cuidar de si mesmo, não é apto para assumir responsabilidades e dar conta de fazer um trabalho com capricho. Eles associam, na verdade, a gordura ao desleixo. 

É preciso ficar claro, entretanto, que não é verdade a máxima de que “só é gordo quem quer”. Alguns se esforçam, fazem tratamentos, exercitam-se, possuem uma excelente alimentação e uma disciplina impressionante, porém, nem assim conseguem diminuir alguns números na balança. Apesar de os hábitos da vida moderna favorecerem a obesidade, nem todos os gordinhos podem ser considerados sedentários, assim como, ser magro não é sinônimo de saúde. Se pararmos para refletir, é ignorância pensar que uma pessoa gorda não é capaz de cuidar de algo, pois o inverso seria verdadeiro – o magro ser capaz de cuidar bem de um trabalho, já que cuida bem de sua saúde – e sabemos que isso nem sempre é verdade. Aliás, uma coisa não tem nada a ver com a outra. 

Há quem diga, inclusive, que os obesos deveriam ganhar menos, já que eles possuem uma maior probabilidade de serem morosos, improdutivos ou qualquer coisa do gênero. Talvez para cargos que requeiram esforços físicos, isso possa ser uma verdade. Mas o que isso tem a ver com liderar, criar, vender, inovar? Absolutamente nada. Exatamente por isso, repugno qualquer pessoa que ignore as capacidades técnicas de um profissional, simplesmente pelo tipo físico dele. Claro que, se as competências comportamentais deixarem a desejar (entrando na história do desleixo), há que se repensar a contratação. Mas, volto a dizer, isso não tem a ver com a pessoa ser gorda ou não. Tem a ver com personalidade, responsabilidade consigo mesmo etc. Uma série de fatores que excluiria qualquer profissional independente de até onde vai o ponteiro da balança. 

Levando em consideração que no Brasil existem cerca de 10,5 milhões de obesos, fico imaginando quantos profissionais excepcionais temos e que são descartados antes mesmo de poderem mostrar a que vieram. A advertência vale para aqueles que estereotipam ideias de talentos de acordo com a cor do cabelo ou da pele, da idade e do sexo. Por isso, vale a lembrança, todos somos capazes. O que nos torna diferentes uns dos outros é o esforço que utilizamos para colocar em prática essa capacidade. Jamais podemos ser aprovados ou eliminados em um processo seletivo por causa de qualquer atributo físico ou crença. 


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