segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ideias e melancias


Há dois meses resolvi cuidar do meu jardim. Quando limpava o mato, percebi uma planta diferente. Tinha uma folhagem com desenho irregular e cor meio verde-acinzentada. Não me pergunte porque, mas eu decidi não arrancá-la. Talvez mera curiosidade, talvez uma expectativa por uma surpresa, ou até mesmo, preguiça…

O fato é que, dois meses depois, a plantinha cresceu e mostrou a que veio ao mundo. Com ramos rasteiros de mais de 1 metro de comprimento, percebe-se facilmente que se trata de um pé de melancia! Pode-se notar, ainda que muito pequena, com um mero centímetro de diâmetro, que possui o formato, cor e desenho de uma melancia. Com certeza, uma das sementes que as crianças jogaram no jardim. Obviamente continuarei a observá-la, e até cuidar dela, mas, sabendo agora do que se trata, não tenho a menor expectativa que a fruta cresça até sua plenitude, sobretudo considerando o ainda insipiente tamanho da planta. Mas isso me trouxe um motivo de reflexão.

Quantas ideias surgem na nossa mente e que arrancamos sem dar-lhes a chance de maturar e mostrar o que podem se tornar? Quantas coisas passam pela nossa cabeça que ignoramos e logo esquecemos pautados pela nossa noção de absurdo, impossível, inadequado, sem importância, ‘fora do padrão’, descartados como ervas daninhas? Roger Von Oech, autor do livro ‘Um Toc na cuca’, chama estas atitudes de ‘bloqueios mentais’, ou seja, todas as barreiras que, às vezes, nós mesmos impomos às nossas ideais.

Tenha em conta também, que uma ideia pode parecer óbvia e fácil depois que a conhecemos. Pode parecer fácil plantar melancias, mas com certeza, aquela semente que vingou foi apenas uma das dezenas que foram jogadas pelas crianças durante um churrasco. Muitas vezes, para se chegar a uma boa ideia, é preciso ter muitas para poder escolher. Muitas ideias fracassam até que uma se torne um sucesso. Charles Thompson define como sua regra número 1 de criatividade em seu livro ‘Grande ideia’: ‘A melhor maneira de ter grandes ideias é ter muitas ideias e jogar fora as ruins’.

Outro ponto de reflexão: durante estes mesmos dois meses, tentei salvar um pequeno arbusto que eu havia plantado para fechar a composição de uma parte do jardim. Por mais que protegesse do sol intenso, regasse com precisão diária, mantivesse-a adubada e podada, ao final ela não sobreviveu e secou. Por quê? Por que a despeito de todo o carinho, atenção e cuidados, ela se recusou a se adaptar à sua nova moradia? Por que ela não deu certo se estava cercada de todas as condições para crescer e se desenvolver?

A verdade é que às vezes, a planta pode ser linda, cara e até forte e resistente. Mas se não for plantada no local e momento certos, de nada adiantam seus esforços para desenvolvê-la, simplesmente não era para ser. Na contrapartida, uma simples semente, encontrando as condições necessárias para brotar e se tornar uma planta, encontrará seu caminho sozinha, sem nenhuma ajuda.

Mais uma vez, assim são as ideias. Quando elas surgem, elegemos uma que julgamos ideal e investimos tudo nela, esquecendo que a janela da oportunidade talvez não esteja aberta naquele momento o que acaba por nos levar a desperdiçar boas ideias. O pior é que muitas vezes, você se concentra tanto em uma única ideia que não percebe as coisas acontecendo ao seu redor, não percebe outras oportunidades surgindo, não consegue ver as outras perspectivas que esta mesma ideia pode trazer para ser melhor aproveitada.

Cuidado também com a empolgação. Uma ideia pode ter se mostrado muito boa, mas não era o que você procurava. Para quem quer um jardim ornamental, o que fazer com um pé de melancia? Se ela não orna com o resto, se ela não se adéqua ao contexto, não tenha dó de descartá-la. Na melhor das hipóteses, simplesmente transplantá-la para um local mais apropriado.

Por fim, levei dois meses para descobri que eu tinha um pé de melancia no meu jardim. Talvez sejam necessários alguns meses para ter uma melancia de fato. A boa ideia tem que estar associada com o tempo também. Evoluir uma ideia que está quinze minutos à nossa frente é diferente de uma ideia que esteja a anos-luz à frente. Muitas boas ideias como a fotocopiadora levaram mais de 20 anos para se tornar um acessório fundamental nos escritórios. Esteja ciente do tempo que será necessário para sua ideia se tornar viável. Se ao invés de uma melancia, eu quiser jacas, talvez tenha que esperar mais de 10 anos entre a muda e a fruta!

Por Marcos Hashimoto


Nenhum comentário:

Postar um comentário