Muito mais do que ter uma boa formação
técnica, para ser um profissional de primeira linha o mercado de trabalho cada
vez mais exige competências e habilidades que não são ensinadas em sala de
aula. Há um descolamento entre os dois mundos. “O ensino acadêmico não explora
a realidade do mercado de trabalho e das corporações”, afirma Juliana Justi,
gerente de Talentos América do Sul da Basf. Boa parte dessas exigências das
empresas está relacionada a competências comportamentais, como resiliência e
flexibilidade. Essas competências não são ensinadas na universidade, cujo foco
é o conteúdo teórico.
Por isso, profissionais da área de RH
ouvidos pelo Canal Rh consideram fundamental estreitar as
relações entre empresa e universidade para ajudar a preencher essa lacuna.
O fato de as universidades focarem a
formação na base teórica e em preparar o aluno de forma generalista – capaz de
lidar com vários tipos de empresa, de grandes a pequenas -, é, para Masaaki
Itakura, diretor de Estratégia Corporativa da Tokio Marine Seguradora, uma das
razões desse distanciamento entre universidade e empresa.
Segundo ele, como
cada companhia tem uma cultura diferente e atua em um mercado distinto, as
universidades se atêm às matérias básicas de cada área em detrimento de habilidades
mais específicas, que interessariam a apenas uma ou outra companhia.
Muitas das características apontadas
pelas empresas podem ser desenvolvidas com o tempo. “A vivência trará esse
aprendizado”, diz Patrícia Lima, gerente de RH da Dow Corning. As empresas
podem ajudar nesse processo. Os profissionais de RH apontam que isso é possível
por meio de treinamentos práticos, coaching e feedback.
Confira abaixo as habilidades e
c0mpetências que o mercado demanda, mas que passam longe das salas de aula.
Adaptabilidade/flexibilidade: O
mundo do trabalho está em constante mudança. As empresas se transformam, os
gestores são substituídos e as demandas sofrem alterações ao longo do tempo. “O
profissional tem que saber lidar com a mudança”, afirma Marinildes Amorim de
Queiroz, especialista de RH da Vale Fertilizantes.
Foco no resultado: As
empresas não se interessam pelos colaboradores que são acomodados. Elas têm
preferência por aqueles que estão atentos ao que está ocorrendo ao redor e
procuram agir diante das demandas. “Não basta ter competência técnica, tem que
mostrar resultados”, diz Marinildes, da Vale Fertilizantes, acrescentando que a
entrega tem de ter qualidade. “Não basta fazer de qualquer jeito.”
Perfil empreendedor: A
capacidade de transformar conhecimento em prática e de forma integrada é bem
vista pelo mundo corporativo. Isso só é possível com profissionais
empreendedores. “Poucas universidades possuem projetos que visam desenvolver
esse tipo de profissional”, diz Miriam Kimura, gerente de Aquisição de Talentos
da Dell Brasil.
Saber ouvir: “A
liderança é construída em cima da troca, é preciso falar, mas também escutar”,
diz Miriam, da Dell. Segundo ela, os profissionais de hoje não sabem ouvir,
estão mais interessados em falar, o que prejudica o desenvolvimento de projetos
e a resolução de problemas. A habilidade de saber ouvir está relacionada à
capacidade de se relacionar bem e estabelecer networking.
Paixão: O
profissional que faz diferença é aquele que tem paixão por aquilo que faz. “Ele
vai demonstrar isso em todos os aspectos de seu trabalho: tem vontade de
aprender, de mostrar resultados, faz não porque é obrigação, mas porque gosta”,
afirma Patrícia Lima, gerente de RH da Dow Corning.
Humildade: As
faculdades têm formado pessoas que acreditam que é preciso sair do mundo
acadêmico sabendo tudo. “Mas isso é impossível e tem criado um problema para as
empresas”, conta Patrícia, da Dow Corning. Os profissionais recém-formados
passam na entrevista a ideia de que sabem realizar determinadas tarefas, mas na
prática não entregam resultados, diz. “É preciso ter humildade para reconhecer
o que não sabe e também para se relacionar com os outros”, recomenda.
Resiliência: Essa
é uma competência que separa o profissional sadio do doente, diz Patrícia, da
Dow Corning. O mercado de trabalho exige demais das pessoas e, se o
profissional não tiver resiliência, vai adoecer, diz ela. Ser resiliente é a
capacidade de vir, doar, se entregar, mas tirar o pé do acelerador quando
necessário.
Liderança: Liderar não é a mesma coisa que ser chefe e é uma
característica essencial para todos os colaboradores. “Liderança é um aspecto
fundamental, não no sentido hierárquico ou de cargo, mas na habilidade de
influenciar de maneira construtiva um grupo de pessoas para atingir objetivos”,
afirma Juliana Justi, gerente de Talentos América do Sul da Basf.
Trabalho em equipe: Em
uma empresa, ninguém é uma ilha. Um trabalho de um colaborador – quando não é
feito em conjunto de outros – dependerá inevitavelmente, em algum momento, do
trabalho de outro. “É fundamental que o colaborador saiba trabalhar em equipe e
que tenha um bom relacionamento interpessoal, garantindo a satisfação de seus
clientes internos e externos”, afirma Masaaki Itakura, diretor de Estratégia
Corporativa da Tokio Marine Seguradora.
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