terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Atrás do Prejuízo: a formação de profissionais não consegue atender à demanda. - Rubens Stephan

Obs. Lucchesi: Leia o texto como se o mesmo abordasse sua área de atuação.

É visível que os investimentos em ações de marketing direto (e suas várias vertentes de fidelização, interação, ativação) estão se acelerando. 

Acompanhando o aumento nos investimentos, cresce a demanda por profissionais especializados, mas a formação de mão de obra qualificada teima em não se ampliar no mesmo ritmo. Na medida em que estes fluxos se desequilibram, a caça a bons e experimentados talentos lembra a dança das cadeiras, onde a meta é tomar um lugar do seu vizinho. Há um rombo em seu organograma? 

É provável que você termine por tirar um funcionário empregado em um concorrente, fornecedor ou parceiro. 

Até que alguém tire um seu. 

Não é difícil identificar algumas das causas deste racionamento de boa mão de obra: 

a) Este é um ramo de atividade ainda novo. Contam-se nos dedos da mão os exemplos de empresas, fornecedoras de serviços ou usuárias, que atuavam com marketing direto há vinte ou trinta anos. O uso consistente de bancos de dados em marketing é ainda mais recente, impulsionado pela busca de maior produtividade em marketing e pela queda dos custos de hardware e software. 

Com isto, há pouca troca de experiências e são poucos os gerentes com vivência para transmitir conhecimento. 

b) A competição por talentos é acirrada. Bancos, empresas de cartões de crédito, operadoras de telefonia fixa e de celulares, seguradoras, editoras, empresas de aviação, shopping centers e supermercados, estão todos em busca de melhores processos para adquirir e manter clientes. São empresas grandes, com recursos para investir e com objetivos de curto prazo. 

A consequência é a necessidade de garimpar talentos aonde eles estiverem. 

c) O desafio de qualificação é complexo. O que se procura, na maioria das vezes, é uma mistura inusitada de marketing com habilidades técnicas, uma química especial que raramente se combina em um único profissional. Este talento não é adquirido apenas na escola - a construção de um profissional qualificado requer anos de carreira dedicada. 

Mas repare no círculo vicioso: na maioria das empresas, os departamentos dedicados ao marketing de relacionamento raramente são gerenciados por um profissional que cresceu no cargo. A "prata da casa" em geral não encontra o tempo nem o apoio para crescer até assumir cargos de decisão. As equipes são completadas com gente trazida de fora. 

Pior: na maioria das empresas as equipes são pequenas e não contam com uma estrutura hierárquica de muitos níveis. Um bom profissional que sai abre um rombo que quase sempre precisa ser recomposto com gente experimentada, trazida de outras empresas. A dança das cadeiras, assim, se realimenta.

Há soluções para este impasse, seja você um profissional cuidando do seu futuro, seja um executivo buscando completar sua equipe.

Do ponto de vista pessoal, uma carreira em marketing de relacionamento não poderia ser mais promissora. Há uma demanda contínua e crescente por bons profissionais. Como tornar-se "contratável"? 

Formação acadêmica é o primeiro passo, claro e necessário. Um exemplo é a área de database marketing, com a qual convivo diariamente: toda semana recebo um punhado de currículos de candidatos às mais diversas posições. 

Meu primeiro filtro - eliminatório - é o histórico escolar. Uma boa formação pode ter duas orientações: técnica (sistemas, estatística, matemática, engenharia) ou em marketing administração / propaganda. 

O pulo do gato, que não é intuitivo e requer uma decisão consciente, está no conhecimento cruzado. Analistas de Sistemas precisam pensar em clientes e em resultados gerados por um melhor relacionamento. Profissionais de marketing precisam conhecer as ferramentas e técnicas de bancos de dados, modelagens e internet, para planejar e executar ações mais efetivas. Isto só é alcançado com desenvolvimento contínuo. Há cursos complementares excelentes, coordenados pelas associações da área, recheados de gente com experiência. Um bom profissional deve fazer parte dessas associações. Há, também, conferências nacionais e internacionais. E há, sobretudo, uma infinidade de livros excepcionais, cobrindo todos os fundamentos da área. 

Lembro sempre de um desses livros, escrito por Drayton Bird, que logo nas primeiras páginas coloca a pergunta: "você operaria seu cérebro com alguém que aprendeu medicina apenas olhando por aí?"

O cuidado com a formação é crítico. Um conselho prático: agarre e valorize as oportunidades de trabalho. Caso a sorte permita, grude-se como chiclete a um bom profissional do mercado e aprenda com a experiência.

Sob o ponto de vista das empresas, parece haver uma consciência geral de que a consolidação dos negócios passa inevitavelmente pela formação de bons profissionais, que atendam necessidades cada vez mais sofisticadas dos clientes. Apenas roubar bons funcionários dos outros não é a solução: além de não resolver o problema intrínseco da carência de mão de obra, cria instabilidade e provoca distorções de remuneração. 

Todas as iniciativas de formação devem ser elogiadas, mas empresto aqui destaque aos cursos da FGV, de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E há os inúmeros cursos de formação promovidos pelas Associações do setor (como a ABEMD citada). Entendo que também cabe às empresas (mais uma vez, misturo intencionalmente fornecedoras de serviços e usuárias de marketing de relacionamento) apoiar o crescimento do mercado, estimulando e patrocinando alunos, dedicando horas de trabalho ao treinamento e abrindo portas para estagiários. 

Todos ganham com isso.

Ao final, uma certeza: em nossa área de atividade não há mais lugar para uma abordagem amadorística. A formação das novas gerações de profissionais é do interesse de todos.



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