sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O QUE FALTA PARA UM BRAINSTORMING FUNCIONAR BEM?

Foi praticamente com a criação do brainstorming que as ideias deixaram de ser reféns da inspiração ocasional.

De fato, a partir de umas regras simples tais como adiar o julgamento, oferecer muitas ideias e pegar carona nas propostas alheias, a mente passa a dar vazão a todo o tipo de ideias, inclusive aquelas que farão toda a diferença para a situação proposta.

Entretanto, por ser uma metodologia antiga e consagrada, o brainstorming já sofreu algumas deturpações, sendo a mais comum a transformação da tempestade cerebral (esta é a tradução literal do termo) em garoinha fina, ou seja, em vez de colocar todas as ideias, sem censura, as pessoas fazem uma lista acanhada de soluções-clichê para a situação.

Vira e mexe é publicado algum artigo ou estudo dizendo que o brainstorming não é uma técnica eficaz.  O artigo The Brainstorming Myth, escrito por Jonah Lehrer, defende a crítica como uma forma de aprimorar as ideias. Ele tem toda razão, mas negligencia o fato de que o brainstorming tem duas etapas – a segunda delas justamente dedicada às críticas.

Os tímidos também têm suas queixas: Susan Cain, no livro “O Poder dos Quietos”, reclama de um mundo injusto, no qual os introvertidos não têm vez, embora possam ser bastante criativos. De fato, usando a classificação de tipos psicológicos de Myers Briggs, pode-se dizer que os introvertidos precisam elaborar seu pensamento antes de verbalizá-lo, enquanto os extrovertidos pensam em voz alta. Vantagem para os extrovertidos. Entretanto, os tímidos não foram abandonados. Ferramentas com o Pensamento Lateral, mais racional e estruturado, se adéquam perfeitamente aos que preferem elaborar em silêncio.

Por outro lado, o brainstorming evoluiu. Por exemplo, por se conhecer melhor o funcionamento do cérebro, foi acrescentada uma nova regra, a de se esforçar para ter novas ideias. Aliás, esta regra é quase um slogan na IDEO, empresa criadora da metodologia do Design Thinking, onde o brainstorming é reverenciado.

Temos brainstomings com post its, brainstormings eletrônicos, brainstormings propositalmente em mesas de bar ou locais que favorecem um clima de abertura.

Mas para quem ainda não conseguiu tirar proveito dele, o que falta?
Talvez entender o papel do facilitador. Scott Berkun, autor de vários artigos sobre o tema, afirma que criticar uma experiência de brainstorming que não tinha um facilitador é o mesmo que criticar uma cirurgia feita sem nenhum cirurgião presente.

E por que isso?

Em primeiro lugar porque o facilitador é neutro. Ele não torce por nenhuma ideia, nem está preocupado em não contrariar determinados participantes. Seu foco é o processo e como torná-lo mais produtivo.

Por isso mesmo, o facilitador precisa saber analisar e respeitar a cultura do grupo. Se há pessoas extremamente críticas ou pessoas que se deixarão intimidar pelas críticas, mesmo as que surgirem após o brainstorming, talvez seja mais aconselhável usar outra ferramenta. Um bom facilitador conhece várias delas, e tem condições de optar pela mais adequada.

Além das ferramentas, um bom facilitador conhece os fenômenos típicos da dinâmica dos grupos. Por exemplo, um grupo ousa pouco se estiver na fase de inclusão, mas tende à conformidade de ideias se tiver muita convivência. É preciso saber administrar os comportamentos típicos de cada etapa.

Outro aspecto importante é a diversidade de conhecimento. Na teoria, os melhores grupos são aqueles que envolvem pessoas com expertises e pontos de vista diferentes. Nos grupos que envolvem co-criação, clientes, fornecedores ou membros de comunidades envolvidas com os projetos, estarão presentes. Mais uma vez, é o facilitador que garante que um participante não se sinta com mais ou menos poder e responsabilidade justamente em função de seu papel.

E finalmente, o facilitador dará espaço para os injustiçados tímidos.



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