Foi praticamente com a
criação do brainstorming que as ideias deixaram de ser reféns da
inspiração ocasional.
De fato, a partir de umas
regras simples tais como adiar o julgamento, oferecer muitas ideias e pegar
carona nas propostas alheias, a mente passa a dar vazão a todo o tipo de
ideias, inclusive aquelas que farão toda a diferença para a situação proposta.
Entretanto, por ser uma
metodologia antiga e consagrada, o brainstorming já sofreu algumas deturpações,
sendo a mais comum a transformação da tempestade cerebral (esta é a tradução
literal do termo) em garoinha fina, ou seja, em vez de colocar todas as ideias,
sem censura, as pessoas fazem uma lista acanhada de soluções-clichê para a
situação.
Vira e mexe é publicado
algum artigo ou estudo dizendo que o brainstorming não é uma técnica
eficaz. O artigo The Brainstorming Myth, escrito por Jonah Lehrer,
defende a crítica como uma forma de aprimorar as ideias. Ele tem toda razão,
mas negligencia o fato de que o brainstorming tem duas etapas – a segunda
delas justamente dedicada às críticas.
Os tímidos também têm suas
queixas: Susan Cain, no livro “O Poder dos Quietos”, reclama de um mundo
injusto, no qual os introvertidos não têm vez, embora possam ser bastante
criativos. De fato, usando a classificação de tipos psicológicos de Myers
Briggs, pode-se dizer que os introvertidos precisam elaborar seu
pensamento antes de verbalizá-lo, enquanto os extrovertidos pensam em voz alta. Vantagem para os extrovertidos. Entretanto, os tímidos não foram abandonados.
Ferramentas com o Pensamento Lateral, mais racional e estruturado, se adéquam
perfeitamente aos que preferem elaborar em silêncio.
Por outro lado, o
brainstorming evoluiu. Por exemplo, por se conhecer melhor o funcionamento do
cérebro, foi acrescentada uma nova regra, a de se esforçar para ter novas
ideias. Aliás, esta regra é quase um slogan na IDEO, empresa criadora da
metodologia do Design Thinking, onde o brainstorming é reverenciado.
Temos brainstomings com
post its, brainstormings eletrônicos, brainstormings propositalmente em mesas
de bar ou locais que favorecem um clima de abertura.
Mas para quem ainda não
conseguiu tirar proveito dele, o que falta?
Talvez entender o papel do
facilitador. Scott Berkun, autor de vários artigos sobre o tema, afirma que
criticar uma experiência de brainstorming que não tinha um facilitador é o
mesmo que criticar uma cirurgia feita sem nenhum cirurgião presente.
E por que isso?
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Em primeiro lugar porque o
facilitador é neutro. Ele não torce por nenhuma ideia, nem está preocupado em
não contrariar determinados participantes. Seu foco é o processo e como
torná-lo mais produtivo.
Por isso mesmo, o
facilitador precisa saber analisar e respeitar a cultura do grupo. Se há
pessoas extremamente críticas ou pessoas que se deixarão intimidar pelas
críticas, mesmo as que surgirem após o brainstorming, talvez seja mais
aconselhável usar outra ferramenta. Um bom facilitador conhece várias delas, e
tem condições de optar pela mais adequada.
Além das ferramentas, um bom
facilitador conhece os fenômenos típicos da dinâmica dos grupos. Por exemplo,
um grupo ousa pouco se estiver na fase de inclusão, mas tende à conformidade de
ideias se tiver muita convivência. É preciso saber administrar os
comportamentos típicos de cada etapa.
Outro aspecto importante é a
diversidade de conhecimento. Na teoria, os melhores grupos são aqueles que
envolvem pessoas com expertises e pontos de vista diferentes. Nos grupos que
envolvem co-criação, clientes, fornecedores ou membros de comunidades
envolvidas com os projetos, estarão presentes. Mais uma vez, é o facilitador
que garante que um participante não se sinta com mais ou menos poder e
responsabilidade justamente em função de seu papel.
E finalmente, o facilitador
dará espaço para os injustiçados tímidos.
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