A simplicidade não dá Ibope, definitivamente!
Preferimos complicar nossas vidas e a dos outros, fugindo das medidas e das
atitudes simples, procurando dar charme e uma falsa aura de nobreza ao que
fazemos. E nisso sacrificamos o entendimento e a utilidade. E não percebemos
nossa culpa - infelizmente, somos tão incompreendidos... Não alcançam nosso
valor e a profundidade de nossas contribuições... Fazer o quê, então?!
No ambiente de trabalho, é incontável o número das
situações que poderiam receber soluções rápidas e de fácil implementação, se
optássemos pelo simples. Preferimos soluções mirabolantes e pretensamente
grandiosas a práticas mais pé-no-chão. Isso nos dá assunto para encontros e
seminários, quando podemos expor nossas políticas e planos baseados na última
moda.
E por falar em moda, a ojeriza de muitos gestores ao
simples e ao óbvio enriquece os gurus dos negócios. Não dialogam com os
funcionários, com o pessoal que realmente pode contribuir - até porque esse
pessoal é que vai ter de implementar as ações -, porque isso não dá status. Ao
contrário, gastam fortunas com consultorias de grife ou engolem teorias e
propostas alienígenas, que nem sequer digerem adequadamente para uma correta
adaptação à cultura local. Mas, nas conversações com colegas de outras
empresas, despejam o que leram e pretensamente praticam - e quantas vezes falam
um monte de besteiras sem se darem conta disso.
Em família, ou na vida privada, continuamos agindo da
mesma forma. Buscamos teorias mirabolantes que expliquem nossos fracassos, mas
não enxergamos o óbvio - a falta de diálogo e a fuga do simples. Exemplos não
faltam e seria ocioso, aqui, mencioná-los.
Certa vez vivi uma experiência interessante, que
ilustra isso. Queríamos desenvolver um manual que, ao mesmo tempo em que
orientasse quanto à correta maneira de fazer determinada tarefa, contivesse
algum estímulo à leitura - ou iríamos cair na mesma situação de manuais
anteriores, nunca lidos. Consultamos especialistas no assunto, levantamos
orçamentos, namoramos produções bem elaboradas e, claro, dispendiosas, mas com
assinatura.
Preocupado com o gasto que iríamos ter, resolvi
conversar com alguns funcionários, que usavam um roteiro que havíamos elaborado
internamente, para saber deles qual seria uma boa maneira de apresentar aquele
documento, de forma que todos lessem e tirassem proveito. Para minha surpresa,
um desses funcionários tinha por hobby a elaboração de HQ, ou seja, era um
desenhista de histórias em quadrinhos, e sua sugestão foi óbvia - elaborar o
manual na forma de quadrinhos. Ele cuidou do desenho, nós, os gestores,
asseguramos que o texto atendia às necessidades.
Não precisa dizer que a solução, além de atender
plenamente à necessidade e evitar um gasto significativo, nos permitiu
descobrir e explorar a habilidade de um funcionário, que se sentiu valorizado
com isso (e deixemos claro que ele foi devidamente recompensado, antes que os
críticos de plantão atirem as pedras!). Aliás, essa valorização de habilidades
escondidas é assunto fértil na Gestão do Conhecimento.
Soluções simples, decorridas de uma atitude simples -
conversar, dialogar, perguntar a quem vai usar... Não doi e como ajuda!
As reflexões acima foram motivadas pelo texto abaixo,
que recebi via e-mail. Trata-se de uma pilhéria que tem fundo de verdade.
"Sem as justificativas de afastamento fornecidas
pela guerra fria, norte-americanos e russos ingressam numa promissora fase de
colaboração, especialmente na exploração do espaço sideral. Num desses
momentos, ao fazerem suas anotações, a bordo de uma nave em órbita, o
cosmonauta russo elogiou seu colega americano:
- Ótima, essa sua caneta.
- Não é? Ela representa nossa genialidade, engenhosidade e criatividade.
- Sério?
- Sim. Quando iniciamos os testes no simulador de gravidade zero, percebemos que as canetas esferográficas não escreviam - a tinta não fluía.
Uma empresa de
consultoria foi contratada para solucionar o problema. Levou uma década e
investiram mais de 10 milhões de dólares, mas valeu à pena, a solução veio.
Essa maravilha escreve em qualquer condição: em ambiente de gravidade zero, de
cabeça para baixo, não importa a superfície, e tem a mesma performance em
qualquer temperatura, seja muito abaixo de zero ou a 300ºC.
- Puxa! - admirou-se o russo. Tivemos o mesmo problema, nas mesmas circunstâncias de uso do nosso simulador - a tinta das esferográficas simplesmente não saía.
- E como vocês resolveram o problema?
- Optamos por usar lápis".
Se procurarmos mais o lápis e deixarmos de lado um
pouco nossa arrogância novidadeira e nossa fome por soluções sofisticadas,
tornaremos nossas vidas e as dos que nos cercam mais fácil, com certeza.
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