terça-feira, 23 de setembro de 2014

Fazendo jus à oportunidade

Indigno-me com a falta de visão de algumas pessoas e o que é mais curioso é que, na maioria das vezes, quanto mais baixas as posições hierárquicas, mais comum escutarmos coisas do tipo: “eu não sou pago pra fazer isso” ou “o que eu vou ganhar ficando até mais tarde no trabalho?”. 

Certa vez, tive uma estagiária que pensava e agia mais ou menos assim.

Isabela chegava todos os dias no horário estipulado e quando dava a hora de sair, não esperava sequer cinco minutos para se levantar, sempre estava com a bolsa pronta em cima da mesa e com o computador na espera para ser desligado. Ela era uma menina muito educada e parecia ter grande força de vontade. Porém, possuía o triste defeito de achar que só deveria fazer as coisas que lhe foram passadas na primeira semana de trabalho. Não entendia que, se estava à disposição da empresa, deveria acatar as coisas que lhe eram solicitadas na medida em que o tempo ia passando. 

Em outra área da empresa, em contrapartida, havia Marina, uma mocinha mais jovem que Isabela, mas que possuía um desempenho muito mais admirável. As duas não tinham tantas responsabilidades assim, até mesmo pelo fato de serem estagiárias, porém, Marina mostrava uma conduta muito mais madura. Chegava sempre antes do horário e só ia embora após terminar todas as suas tarefas, independente se havia extrapolado sua cota do dia ou não.

Certa vez, presenciei uma cena que me deixou muito desgostoso. O Coordenador de Isabela estava super atarefado, fechando alguns projetos que seriam apresentados numa reunião dali dois dias. Numa tentativa de se desafogar e conseguir terminar os principais afazeres da área, pediu à jovem que deixasse suas tarefas de lado naquele dia e o ajudasse com outras questões mais importantes. A resposta de Isabela pareceu ter vindo de supetão. Simplesmente disse que não faria aquelas coisas, pois tomariam muito seu tempo e não conseguiria sair em seu horário habitual. O Coordenador, meio atordoado, respondeu-lhe que não era uma opção, mas sim uma ordem para ser seguida. Constrangida, pôs-se a fazer aquilo que o chefe havia pedido. Ao dar o horário de encerramento de suas atividades se levantou e despediu de todos, deixando o escritório e as atividades inacabadas.

Chamei seu coordenador e conversei a respeito da moça. Disse que naquela situação seu dever era impor respeito e explicar que, por se tratar de uma situação atípica, ela deveria ter ficado sem pestanejar. Citei Marina como exemplo, que naquele exato momento ainda estava no escritório a mil por hora. Concordo que esse tipo de conduta tem que vir do próprio profissional, mas, convenhamos, tudo também vai da forma com que o gestor coloca as situações para seus subordinados. 

Dou meu braço a torcer, seu gestor era muito bom, Isabela é que realmente deixava a desejar em sua conduta. Tanto ela quanto Marina possuíam as mesmas chances de serem efetivadas, pois, coincidentemente, formar-se-iam na mesma época. Cada uma, porém, havia imprimido uma imagem na cabeça de cada um dos decisores da empresa e as opiniões eram unânimes, se tivéssemos que optar por uma delas, sem dúvida a escolhida seria Marina. 

Ao aproximar-nos do fim de ano e da formatura do ano, porém, descobrimos que Marina havia reprovado em sua banca de TCC e teria que cursar mais um semestre na faculdade, enquanto Isabela comemorava os 8 pontos que garantiram sua formatura. A decisão era aparentemente simples, renovaríamos o contrato de estágio de uma e efetivaríamos a outra. Mas não foi isso que fizemos, não achávamos justo com uma moça tão dedicada e sabíamos que sua reprovação tinha acontecido por questões inusitadas que não condiziam com sua capacidade. Já Isabela, mesmo tendo passado não merecia nosso voto de confiança. Após me reunir com os coordenadores das moças, chegamos a uma conclusão inédita na empresa. Dispensamos Isabela, agradecendo por suas contribuições com a empresa e efetivamos Marina, mesmo ainda sendo uma universitária. 


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