terça-feira, 21 de maio de 2013

Para onde fugir?



Reza a lenda que, durante uma palestra, um grande terremoto fez com que os discípulos corressem desesperada e insanamente em busca de um abrigo, enquanto o mestre impassível assistia à cena.

Quando o perigo passou, os discípulos, um tanto envergonhados por sua covardia, perguntaram ao mestre se ele jamais sentia medo, afinal apenas uma coragem sobre-humana poderia manter alguém tão tranquilo, tão imperturbável diante de tamanho risco de morte.

“Enganam-se vocês”, disse o Mestre. “Eu também senti medo. Eu também fugi do terremoto. Todavia, enquanto vocês fugiam para fora, eu fugia para dentro. A fuga de vocês era uma fuga inútil, pois para onde vocês fossem, o perigo lá estaria. Por isso, fugi para dentro de mim mesmo, onde nenhum terremoto poderia chegar”.

Vivemos bombardeados de informações, precisamos alcançar as metas estabelecidas e fazemos parte de um mundo onde a selvageria da competição nos obriga a lutar para vencer, e sobreviver.

Na busca da aceitação e do reconhecimento profissional, precisamos lidar com tudo isso escondendo os nossos medos, provando qualidades, que nem estamos muito certos se realmente temos, e demonstrando uma tranquilidade que, muitas vezes, está longe de ser a verdade de nossos sentimentos.

Estamos correndo do terremoto.

Mas precisamos disfarçar a nossa fuga. Não podemos mostrar fraqueza. Devemos esconder toda e qualquer fragilidade.

O problema é que continuamos a procurar abrigo fora e não dentro de nós mesmos.

Passamos a acreditar no nosso cargo, no nosso status e, sobretudo, na nossa habilidade de vender aquilo que nem sabemos ao certo se realmente somos.

Colocamos as nossas referências na compra de um apartamento maior, de um carro melhor e de roupas mais caras, acreditando que, por si só, essas conquistas materiais serão capazes de encobrir as nossas inseguranças.

Esquecemo-nos de que nós valemos aquilo que somos e não aquilo que temos.

Esquecemo-nos de que o ser é consistente e o ter é fugaz. De que o ser é eterno e o ter é efêmero.

Acredito que um dos grandes desafios das organizações modernas está exatamente em criar ambientes profissionais onde as pessoas possam ser o que realmente são. Criar ambientes onde as pessoas possam se deparar com as próprias fraquezas e, consequentemente, tornarem-se mais fortes a partir do conhecimento de suas fragilidades.

Se nas reuniões corporativas onde todos querem falar para apresentar seus resultados, seus feitos, as pessoas fossem convidadas para expressar suas incertezas, suas inquietudes, as empresas passariam a enfrentar com muito mais força e coragem os diversos terremotos que o mercado traz.

Vivemos um momento de transformação onde, cada vez mais, os líderes precisam estimular as pessoas a encontrarem os seus centros de equilíbrio. A buscarem dentro de si as verdadeiras respostas.

O problema é que para ajudar as pessoas nessa caminhada, esses líderes precisarão primeiramente trilhar esse caminho. E ainda são poucos os que estão dispostos a correr esse risco.

Aprender a fugir apenas para dentro de si mesmo, eis aí um bom desafio…

Um carinhoso abraço.




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