terça-feira, 14 de maio de 2013

A CRÍTICA QUE CONSTRÓI


O bom relacionamento no ambiente de trabalho é um fator fundamental não apenas para a integração das equipes, mas, especialmente, para a boa produtividade. O respeito às pessoas não deve fazer distinções de nenhuma ordem - e aqui estão incluídas as diferenças hierárquicas. 

Apesar da maioria das empresas saber e investir em estratégias direcionadas ao tema, alguns números mostram que nem sempre os planos condizem com a realidade. Uma empresa paulista de pesquisa entrevistou cerca de dois mil funcionários, de 100 empresas, e descobriu que 42% deles haviam vivenciado histórias de humilhação no ambiente de trabalho. Num outro estudo, também realizado com duas mil pessoas, de diferentes países, o mau relacionamento com as lideranças ficou em primeiro lugar, sendo apontado por 26% como motivo para pedir demissão. 

Na sociedade em que vivemos, os profissionais estão cada vez mais cientes de suas capacidades técnicas, valorizando os ambientes de trabalho que primam pelo respeito e que lhes oferecem condições reais de desenvolvimento. Eles buscam uma gestão participativa, em que suas idéias são ouvidas e seus erros utilizados como fonte de conhecimento. 

Hoje, a postura esperada de um chefe é a de um líder que conquista credibilidade pelos seus traços comportamentais, e uma em especial toma cada vez mais força: a reverência, que é a capacidade de venerar qualquer coisa ou pessoa que está fora do controle humano, como Deus, a verdade, a justiça, a ética, a natureza ou até mesmo a morte. A partir dela, consegue-se nutrir a capacidade de respeitar o próximo. Essa característica permite ao líder tratar com maturidade situações corriqueiras, mas que, mal conduzidas, podem gerar muito estresse e insatisfação.
 

A reverência já entrou na pauta das empresas, uma vez que manter líderes, e não chefes, nos quadros de funcionários tornou-se fundamental, e qualquer profissional que demonstre traços de arrogância pode ser preterido de uma importante posição. Os líderes costumam inspirar os que estão ao seu redor e, ao contrário dos chefes, respeitam todos, independentemente do nível hierárquico. 

O poder sem reverência é um estímulo à arrogância, traço negativo da personalidade para qualquer profissional, especialmente para os que comandam equipes ou sonham em fazê-lo. É importante lembrar que os líderes não são tiranos, nem tampouco os tiranos são líderes. Quem exerce o poder pelo medo não é confiável e também não confia nos outros. 

Dito isso, vamos a um pequeno exemplo de como um chefe age numa situação corriqueira do dia-a-dia organizacional: "chamar a atenção" de um profissional. Ao colocar o chapéu do chefe, ele provavelmente fará com que o profissional passe por uma das situações mais constrangedoras possíveis, que é ser humilhado na frente de outras pessoas. Assim, mexe-se com dois sentimentos ou valores importantes do ser humano: a vergonha e capacidade técnica, derrubando qualquer comprometimento que ele possa ter com a empresa. Não bastasse isso, o próprio "assediador" sai com a imagem arranhada, por não ter controlado suas emoções e ter constrangido um colega na frente de outros. Se fez com um, pode fazer com todos; ou seja, passa a ser visto como um tirano. 

Na mesma situação, como agiria um líder? No lugar do confronto, entra o diálogo e, como regra geral, o respeito reina. Ele olhará o profissional como um parceiro e não como um subalterno. Ele sabe que possui um talento diante dele que pode precisar apenas de alguma orientação. Ele não irá correr o risco de causar um efeito negativo no profissional. Para facilitar esse processo, vale organizar um roteiro de como passar por essa situação da melhor maneira. 

Como já dito, a regra geral é o respeito. Lembre-se sempre disso. 

Sempre convide o profissional para uma conversa particular; uma crítica em público pode ser extremamente constrangedora para todos. 

Não seja agressivo. 

O feedback deve ser dado na forma de PNP (Positivo, Negativo, Positivo), ou seja, no lugar de começar a conversa falando de um aspecto negativo, deve-se começar ressaltando algo de positivo que o profissional tenha feito (ou qualidade comportamental), mas propondo melhorias - sejam elas comportamentais, técnicas ou referentes a uma situação pontual.

Tente identificar se o profissional está passando por algum momento - pessoal ou profissional - difícil, que possa estar comprometendo seu rendimento e satisfação. 

Dê espaço para o profissional falar. Mostre-se aberto ao diálogo.

Em conjunto, tentem chegar a um senso comum para evitar que o mesmo erro ou comportamentos ocorram. 

Mostre-se aberto para ouvir qualquer dificuldade ou até mesmo qualquer crítica que impeça de alguma maneira a boa produtividade do profissional.
 

Muitas ferramentas de apoio comportamental e técnico - como coaching e mentoring - estão disponíveis atualmente em um grande número de empresas. Elas ajudam enormemente no relacionamento profissional e pessoal entre membros da mesma e de diferentes equipes. Em organizações que ainda não fazem uso desses recursos, é possível manter um ambiente de transparência apenas com respeito e abertura ao diálogo. Dessa forma, situações como a exemplificada aqui podem ser tratadas com naturalidade, sem o risco de se perder importantes talentos devido à falta de bom relacionamento e à existência de uma gestão tirânica. 

Irene Ferreira Azevedo

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