Acomodação e
exibicionismo inadequado são dois dos erros de carreira citados por
especialistas.
Toda trajetória profissional tem altos e baixos. E embora
nem sempre , os tais “baixos”, em muitos casos, podem acontecer por um erro de
cálculo ou de atitude, uma escolha equivocada, uma movimentação de mercado
atrapalhada.
Pensando nisso, EXAME.com foi investigar junto aos
especialistas quais são os piores e mais frequentes erros de carreira que
os profissionais cometem, na hora da escolher a atividade profissional, quando
já estão empregados e quando vão mudar de emprego, carreira ou de profissão.
Confira o que eles disseram:
1 Escolha de carreira não ancorada no autoconhecimento
Escolher uma profissão aos 17, 18 anos é motivo de angústia
para muitos adolescentes. Não é à toa que muitos se decepcionam com o curso e
acabam abandonando ou trocando de graduação ainda nos primeiros anos de
universidade.
“O primeiro erro de carreira é escolher a profissão sem
conhecer a si mesmo”, lembra José Carlos Ignácio, consultor empresarial e
diretor da JCI Acquisition. Não saber quais são as suas aptidões, talentos e quais
atividades que poderiam trazer mais satisfação e realização pessoal prejudica a
tomada de decisão e pode colocar o jovem em uma rota acadêmica e profissional
inadequada.
2 Acomodação
“O profissional não se atualiza e acaba perdendo
oportunidades por conta disso”, diz Walter Tamaki, consultor empresarial e
diretor da Ventana Capital. Passar longe de treinamentos, não buscar novos
conhecimentos e não estar atento às demandas do mercado na sua área de atuação
são alguns dos sintomas da acomodação na carreira.
Fechar-se na baia, fazendo sempre a mesma coisa, e não
investir no desenvolvimento dos seus pontos fracos também são indicativos que merecem
atenção. “O profissional faz apenas um tipo de tarefa, acaba se tornando muito
especializado e não enxerga mais o todo”, explica Tamaki.
3 Não investir na sua imagem profissional
Projetos, treinamentos e atividades mais importantes devem
ser registrados de alguma forma. São eles que vão ajudar a confirmar a sua
competência para o mercado e podem aumentar o valor o seu passe.
Portanto, não apostar em um portfólio de projetos nem
documentar as atividades mais importantes já realizadas é um erro, de acordo
com Tamaki.
4 Achar que merece aumento porque a empresa está dando
resultados
Quando uma empresa em crise dá sinais de recuperação e
começa a gerar resultados positivos, muitos funcionários já logo acham que merecem
aumento de salário, de acordo com Fernando Capella, diretor da Capella
RH.
“Este é um erro típico, decorrente de uma visão atrasada.
Profissionais de qualquer geração caem nesta armadilha e não pensam que o mais
importante na hora de conquistar um aumento é a evolução do desempenho
profissional”, explica Capella.
Para ele, o profissional só aumenta seu potencial de ganho
financeiro na medida em que melhora seu desempenho. “E quando ele insiste em
querer um aumento porque a empresa saiu da crise, cria uma situação
desagradável perante a chefia e acaba se desgastando”, diz.
5 Não assumir a responsabilidade
Quem
incorre neste erro tem sempre uma justificativa na ponta da língua para
isentar-se de assumir a responsabilidade quando algo dá errado. São ótimos em
apontar culpados, mas péssimos na hora de criar soluções.
“Dizem
que a culpa foi do outro, que não tiveram recursos suficientes, que não tiveram
tempo, mas não reconhecem que tiveram a possibilidade de mudar o quadro e não o
fizeram”, diz Tamaki.
6 Exibicionismo
inadequado
Outro
erro, de acordo com Capella, acontece quando o profissional tenta se sobressair
inadequadamente em uma situação de exposição. “Em uma reunião com os diretores,
a pessoa, por exemplo, começa a fazer perguntas que em nada acrescentam apenas
para mostrar conhecimento ou para desafiar os gestores”, explica.
Os
exibicionistas de plantão, segundo o especialista, acabam queimando o filme e
se prejudicando dentro da organização. “Perdem oportunidades de aprendizado. Em
momentos como esse, é melhor ouvir e aprender do que falar”, diz.
7 Não zelar pela
rede de relacionamentos
Lembrar-se
da rede de relacionamentos apenas quando necessita dela, é um equívoco de
carreira, de acordo com Tamaki e com Ricardo Yogui, consultor, professor e
diretor da RYO Consulting. “As pessoas só lembram-se do networking quando são
dispensadas”, diz Yogui.
Investir
na rede de contatos não é colecionar cartões, muito menos, sair adicionando um
sem número de pessoas no LinkedIn, diz o diretor da RYO Consulting. “É ter uma
relação franca e assertiva e colaborar quando possível”, explica.
8 Estipular cargos
como objetivos profissionais
“Quero
ser presidente da empresa”, “quero sentar na cadeira de diretor”, diriam os
mais ávidos por ascensão profissional. Para Ricardo Yogui ter um cargo como
principal objetivo de carreira é um erro. É algo como mirar o topo da escada
sem enxergar os degraus que levam até lá.
“Por
já ter sido diretor de operação de uma multinacional, meus alunos me perguntam
como fazer para chegar lá, mas a pergunta não deve ser esta e, sim, o que é
preciso trabalhar e desenvolver para ter condições de estar sempre progredindo
profissionalmente”, explica.
9 Falta de
alinhamento com princípios e valores da empresa
Está
aí o motivo pelo qual conhecer a cultura de uma empresa é muito importante na
hora de decidir trabalhar para ela. Capella conta uma história de um
profissional que, por não concordar com certas mudanças na sua empresa, começou
a atuar como um formador de opinião negativa dentro e fora dela.
“Ele,
sendo gestor, viajava a trabalho e fazia comentários negativos sobre a empresa
para os clientes, por exemplo”, conta. O resultado foi a sua demissão. “Ele não
esperava que isso fosse acontecer, mas 80% das demissões acontecem por motivos
comportamentais”, diz.
10 Manipular,
divulgar ou usar informações confidenciais em benefício próprio
Capella
também cita o caso de um engenheiro que trabalhava na área de negócios de uma
indústria para explicar como este erro pode ser grave.
“Era
uma pessoa que tinha um futuro brilhante dentro da organização, tinha acabado
de voltar da Europa onde tinha ficado dois anos com recursos da companhia e,
por ter grandes conhecimentos de informática, invadiu a o sistema de
informações da empresa e teve acesso aos salários dos funcionários”, conta.
De
posse destas informações confidenciais começou a revelar valores e dizer que
ganhava pouco e que seus colegas também ganhavam menos do que mereciam. Foi
demitido por justa causa.
“Usar
informações confidenciais por motivos pessoais pode acabar com a carreira de um
profissional dentro de uma empresa”, diz Capella.
11 Tomar o cargo
como identidade
“Ninguém
é diretor, ninguém é presidente, a pessoa está diretor ou está presidente”, diz
Yogui. Mas nem sempre as pessoas entendem isso. O erro é ficar tão deslumbrado
por conta da posição ocupada na hierarquia e começar a mandar e desmandar em
nome da empresa.
“O
ambiente pode levar a isso, mas depois o mercado vai se lembrar das atitudes
das pessoas que não tiveram discernimento para olhar este aspecto”, diz o
especialista.
12 Aceitar um cargo
para o qual não está preparado
Imagine
que você é um tesoureiro e surge a oportunidade de trabalhar como diretor
financeiro de uma grande organização. São duas posições distintas e com níveis
diferentes de responsabilidade.
Caso
não esteja ciente e preparado para as obrigações da nova posição, aceitar o
cargo pode ser um tiro no pé, de acordo com Tamaki. “Aceitar um cargo sem ter
noção clara nem preparo é um erro”, diz o especialista. De acordo com ele, há
profissionais que têm uma ideia errada de suas competências.
13 Fazer
movimentações com base apenas no salário oferecido
Não
levar em conta o seu plano de carreira, os desafios do novo cargo, a cultura e
o momento da empresa, além do impacto da mudança na vida pessoal na hora de
mudar de emprego é um erro frequente, segundo os especialistas. “Trabalhar só
pelo dinheiro é um erro”, diz Ignácio.
Quando
a decisão é ancorada apenas na questão salarial, o risco é que os fatores
ignorados comecem a pesar depois de um tempo, segundo Tamaki.
14 Sair do emprego
sem se preocupar com o impacto na organização
Por
receio de criar potenciais concorrentes, muitas vezes as pessoas não se
preocupam em formar sucessores quando estão de saída de uma organização, diz
Yogui.
De
acordo com ele, preparar o terreno e montar um plano de transição é essencial
quando um executivo planeja deixar uma organização. “A preocupação deve ser a
de causar o menor impacto possível com a sua saída”, diz.
Ele
diz isso a partir de sua própria experiência. Executivo de uma multinacional,
Yogui decidiu mudar de carreira, mas apostou em uma saída planejada, preparou um
sucessor e montou um plano de transição junto ao seu gestor na época. “Até pela
minha postura, quando comecei a dar consultoria, as oportunidades foram
surgindo no mercado”, diz.
15 Mudar de
profissão sem ter um plano de consistente
Uma
mudança radical na vida profissional pressupõe muito planejamento e estudo. “Um
médico que deseje largar a medicina para abrir uma franquia precisa ter um
plano de negócios consistente para que mudança de carreira dê certo”, diz
Tamaki. Caso contrário, as chances de fracasso são grandes.
“Há
pessoas que mudam de profissão ou de carreira baseadas, equivocadamente no
sucesso de alguns poucos ou porque acreditam que é uma atividade com margem de
rentabilidade superior às demais”, lembra o especialista.