Por Paulo Kretly
O principal papel do líder do século XXI é comunicar às pessoas seu valor e seu potencial de forma tão claras que elas acabem por vê-los em si mesmas.
Um líder eficaz inspira e influencia os demais, principalmente por meio de seu exemplo de vida. Mas se o exemplo, ou melhor, o bom exemplo é uma das bases de sustentação da ponte que possibilita o acesso às outras pessoas, a comunicação eficaz é a garantia de que essa ponte será de fato atravessada; e não se limita à forma como você se expressa, estende-se à forma como você abre espaço para os outros se expressarem.
Qualquer um que já tentou conversar com aquele tipo de líder que fala o tempo todo, ignorando ou desvalorizando a opinião de membros da sua equipe, sabe quão desagradável essa experiência costuma ser. Quem age assim pode até pensar que está se comunicando, mas com certeza não está.
A comunicação eficaz pressupõe uma interação entre as pessoas, uma troca ou uma partilha de opiniões, informações e mesmo sentimentos e emoções. É dessa forma que surge a empatia que estreitará os laços entre os líderes e seus funcionários, fortalecer os relacionamentos e promover a cooperação da equipe.
Para que esses objetivos sejam atingidos, há dois critérios que o executivo de liderança deve levar em considerar. O primeiro deles é saber que para falar é preciso antes saber como ouvir. Deixar alguém falar enquanto secretamente contamos os segundos que faltam para a conversa chegar ao fim não é saber ouvir.
Ocupar a mente com outros assuntos ou planejar as respostas que daremos a seguir enquanto alguém está falando também não é saber ouvir. Um líder que age assim não consegue entabular um diálogo sincero, nem uma conversa útil e gratificante. Essa pessoa pode até pensar que “fez sucesso”, que impressionou os demais com sua demonstração de conhecimento ou erudição, com sua sagacidade e seu domínio das palavras quando, na verdade, seus subordinados estão pensando coisas do tipo: “como meu chefe é chato”, ou “como um líder pode não ouvir uma palavra do que eu digo?”.
Por mais que você acredite que tenha algo a dizer ou a ensinar a alguém, nunca conseguirá fazer com que suas palavras atinjam esse propósito se não houver empatia entre você e seus interlocutores. E, muitas vezes, ao deixar o outro falar, você pode acabar percebendo que não há nada a “ensinar” ou “aconselhar”: a própria pessoa tem condições de encontrar em si mesma as respostas que procura, pois liderança não é apenas uma escolha, mas sim uma posição.
Como diz Mary Kay Ash, fundadora da Mary Kay Cosmetics, “Muitos dos problemas que ouço não requerem que eu ofereça soluções. Soluciono a maioria apenas ouvindo e deixando que a parte afligida fale. Se eu ficar ouvindo por tempo suficiente, a pessoa acaba encontrando uma solução adequada”.
O segundo critério está em valorizar ao invés de criticar. Poucas coisas são tão eficazes quanto as críticas para minar um relacionamento. Não estou querendo dizer com isso que um líder deve distribuir elogios de forma inconseqüente, nem tampouco apelar para a lisonja ou para a bajulação.
Aqui, o ponto crucial é saber discutir sem jamais ferir a auto-estima da pessoa com a qual você está discutindo. Isso só é possível se você se dispuser e entender em vez de atacar, a perguntar em vez de acusar, a permitir que o outro exponha seus motivos e intenções e, principalmente, se o deixar perceber que ele é capaz de encontrar uma solução digna para o problema.
Essa demonstração de confiança fará com que a pessoa se sinta valorizada em vez de sentir-se humilhada ou acuada, abrindo caminho para que o conflito seja resolvido de forma eficaz.
Conforme disse Goethe, “trate um homem como ele é e ele será para sempre como é. Trate um homem como ele pode e deve ser e ele se tornará o que pode e deve ser”.
Paulo Kretly é presidente da empresa de consultoria FranklinCovey e autor de Figura de Transição – O Poder de Mudar Gerações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário