Domenico De Masi, o que
você pode esperar do futuro, na vida, na carreira e no mundo?
Para os próximos 20 anos,
vislumbro dez tendências relacionadas ao trabalho e à vida.
Por que dez? Porque
precisamos de modelos. E que modelo melhor que Deus e seus dez mandamentos?
1. Longevidade: A Aids, o
analfabetismo e boa parte dos tipos de câncer serão debelados. A inseminação
artificial estará na ordem do dia. O dióxido de carbono na atmosfera será
mínimo.
Os cegos verão através de
aparelhos. Transplantes de órgãos, naturais e artificiais, permitirão viver
mais. Passaremos dos 100 anos, e com boa saúde.
2. Tecnologia: Um único
chip será mais potente do que todos os computadores juntos do Vale do Silício
de hoje, terá o mesmo tamanho que um neurônio e custará 1 centavo. Todo o
trabalho intelectual repetitivo será executado por máquinas, como ocorreu com o
trabalho manual neste século.
3. Trabalho e formação:
Será cada vez mais difícil fazer uma distinção precisa entre trabalho, estudo e
tempo livre. A educação, intensa e permanente, ocupará boa parte da vida.
Os horários perderão
importância. O que contará no trabalho serão os resultados, não o tempo para
fazê-los. A remuneração será calculada de acordo com o valor agregado e as
metas atingidas.
Haverá, decerto, um novo
pacto social para redistribuir a riqueza, o trabalho, o conhecimento e o poder.
Uma guerra sem cartel será travada entre a criatividade e a burocracia.
Ninguém vai fazer trabalho
braçal por mais de cinco anos. Donas de casa e estudantes devem ser
remunerados, assim como os desempregados. Trabalhos voluntários e obras sociais
estarão por toda parte.
4. Onipresença:
Estaremos em contato com qualquer um, em qualquer lugar, por celular e
Internet. À distância, aprenderemos, trabalharemos, amaremos e nos
divertiremos.
Corremos o risco de nos
tornarmos virtuais demais, por falta de contato direto com outras pessoas. O
sedentarismo desse modo de vida pode nos tornar obesos.
Mas a cirurgia plástica
resolverá isso – modificaremos o corpo e a fisionomia a bel-prazer. Graças a
novos remédios, controlaremos ou melhoraremos nossos sentimentos.
5. Tempo livre: A maior
longevidade e o apoio da tecnologia aumentarão as horas de ócio. Ironicamente,
o problema do próximo século será como ocupar o tempo livre de forma a evitar o
tédio.
Cresceremos
intelectualmente? Tenderemos à criatividade ou à dispersão? Prevalecerá a
violência ou a harmonia? São perguntas ainda sem resposta.
O que se pode afirmar
é que teremos de nos preparar para ocupar o tempo livre da mesma forma que nos
preparamos hoje para trabalhar.
6. Androginia: As
mulheres estarão no centro da sociedade. Valores considerados femininos (emotividade,
subjetividade, flexibilidade) serão incorporados pelos homens. No estilo de
vida, prevalecerá a androginia.
7. Estética: Como a
perfeição técnica deve ser um requisito, o que vai fazer a diferença são as
qualidades formais. Ou seja, forma vai ser tão ou mais importante que conteúdo.
Daí as atividades estéticas
virem a ser valorizadíssimas – assim como ocorre hoje com as científicas.
8. Ética: Numa
sociedade voltada à prestação de serviços, a fidelidade do cliente será a maior
vantagem competitiva. A ética de um profissional será seu mais alto patrimônio.
Apenas os homens de caráter
vencerão nesse mundo. Da mesma forma que a sociedade industrial é relativamente
menos violenta do que foi a medieval, a sociedade pós-industrial será menos
violenta do que a industrial.
9. Subjetividade: Mais
do que hoje, o que diferenciará profissionalmente uma pessoa da outra serão
seus gostos e seu comportamento. As pessoas devem fazer só as coisas pelas
quais se apaixonem e só trabalharão em áreas que as motivem. A motivação será
um fator muito competitivo.
10. Qualidade de vida:
As pessoas não aceitarão trabalhos que as impeçam de viver bem. Uma vez que
viver mais será fato consumado, a preocupação será como viver e não o quanto
viver.
Estarão em alta a disponibilidade
de tempo, de espaço, de autonomia, de silêncio, de segurança e de convivência.
Trecho extraído do livro O
Ócio Criativo
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