Todos sentimos medo. É normal e é bom, pois o medo é que
nos protege da exposição a perigos e nos preserva a vida. Trata-se de uma condição
psicológica previsível, desejada e saudável, no entanto, todos nós ouvimos, em
várias fases de nossa vida, conselhos para “não ter medo”.
Coisas do tipo: “vou apagar a luz, mas não tenha medo, a
mamãe está no quarto ao lado”; “não tenha medo da prova, você vai se sair bem”;
“vá para a entrevista e não tenha medo, o entrevistador não morde”. Lembra-se?
E quando alguém deseja falar no afirmativo diz: “tenha coragem”, o que não é o
mesmo que não ter medo, e sim ter capacidade para enfrentá-lo e vencê-lo.
O medo é definido como um fenômeno psicológico com forte
caráter afetivo, marcado pela consciência de um perigo ou de um mal. Mas,
preste atenção: o medo nasce do perigo, mas também das incertezas. E nas
incertezas pode morar um perigo real, mas o mais provável é que more um perigo
imaginário.
Males da modernidade. Vivemos uma era de incertezas, e,
portanto, do medo escondido nelas. Se você tem sentido os efeitos da
desconfiança com relação à política, à economia, à paz mundial, está sofrendo
do mesmo mal que milhões de outras pessoas que lêem o jornal ou assistem ao
noticiário e são assaltados pelas notícias do desaquecimento da economia, da
falta de empregos, da insegurança que não é apenas física, mas também social,
moral e emocional. Os medos morais, de perder o emprego, do dinheiro não
chegar, da crise aumentar, são até maiores, porque mais presentes, do que os
medos físicos, dos assaltos, do terrorismo, das epidemias.
Para viver melhor, temos que aprender a separar os dois:
o medo do perigo do medo da incerteza. E depois disso temos que aprender a
lidar com as incertezas, diminuindo seu sentido abstrato. Equivale a dizer:
transformar as incertezas em situações conhecidas, portanto sob controle. Para
tanto, aumentar a percepção, a informação, o conhecimento e a cultura geral,
são os melhores atalhos.
Se você tem medo, por exemplo, de perder o emprego, há
coisas que podem ser feitas para diminuir esse medo, pois, pense um pouco, ele
habita o território das incertezas. Se, por outro lado, você tem certeza que
está fazendo tudo o que pode, da melhor maneira possível, para atender às
necessidades de sua empresa, não precisa ter medo. Mais do que isso: se você
tem certeza que está ajudando sua empresa a atender às exigências do mercado
também da melhor forma possível, seu medo será ainda menos consistente.
No entanto, digamos que apesar de fazer o melhor pela
empresa e a empresa fazer o melhor pelo mercado, ainda assim você perdeu o emprego.
É hora de acionar outra certeza: a de que você fez o melhor pelo seu emprego,
mas fez mais ainda pela sua empregabilidade. Atualização, comunicação,
flexibilidade, contatos, saúde, cultura abrangente. Pronto, o mundo continua conturbado
e injusto, mas não é mais uma imensa incerteza, pois sempre haverá espaço para
pessoas preparadas, capazes e autoconfiantes.
Robinson Crusoe, amadurecido por sua experiência, isolado
na ilha, teria comentado com o amigo Sexta Feira: “se há uma coisa que aprendi aqui,
é que o medo do perigo é sempre muito maior do que o próprio perigo”. Não
podemos simplesmente não ter medo. Seria imprudência.
Mas podemos desenvolver a coragem para lidar com ele. E o
aumento da consciência, da verdadeira noção da realidade, sobre nós e sobre o
mundo atual, creia, é o melhor caminho.
Texto de Eugênio Mussak
Fonte: http://www.sommaonline.com.br/blog/medos-reais-e-imaginarios-eugenio-mussak
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