quarta-feira, 16 de julho de 2014

Missão da empresa X missão do indivíduo


Como um indivíduo pode se tornar um líder? E como seus objetivos pessoais são os mesmos da empresa?

A leitura do romance épico Musashi de autoria de Eiji Yoshikawa, sobre a vida do mais famoso samurai japonês do século 17, é uma obra que compõe de forma magistral os duros estágios pelos quais tem de passar um guerreiro para alcançar a perfeição técnica, e através do cultivo de princípios do zen-budismo, alçar a linhagem de maior e mais sábio dos samurais.

"... Seja como for, não permitirei a mancha em minha honra servindo a um segundo amo apenas para livrar-me das auguras. Que meus filhos sigam os passos do pai, honrem seu nome e não o vendam por um prato de comida". Testamento de um samurai - Miyamoto Musashi.

A época do samurai Musashi é tão próximo e real para o japonês moderno como o é a guerra-civil para o norte-americano, ao contrário o estereótipo de "animal econômico" e de orientação coletiva do japonês moderno, na verdade, mostrando esses como m grupo de centenas de milhares de samurais, ferozmente individualistas, autodisciplinados, esteticamente sensíveis e princípios elevados.

Musashi viveu no ápice dos samurais, em seu início era somente mais um pequeno selvagem com prática em esgrima, procurando honras e fama através de combates contra outros espadachins. Porém, quando é capturado por um monge zen-budista, ficando três anos confinado numa masmorra, sem outras alternativas, inicia o processo de reflexões e leituras que o fizeram enxergar um novo sentido para sua vida, assim como novos usos para sua força e habilidades descomunais, trilhando assim um caminho de busca pela perfeição espiritual e marcial (YOSHIKAWA, 1999).

Segundo Covey (2004, p.130), a missão pessoal baseada em princípios corretos torna-se o mesmo tipo de modelo para o indivíduo. Funcionando como uma constituição pessoal, uma base para tomadas de decisões importantes, cruciais em sua vida. E uma base para a tomada de decisões cotidianas, em meio ao turbilhão de circunstâncias e emoções que afetam sua vida. Ela confere ao indivíduo a mesma força eterna, nos momentos de mudança.

Ou seja, o samurai tornou-se líder de sua própria vida quando utilizando dos princípios do Budismo, escreveu sua própria missão, a busca pela perfeição espiritual e marcial. Observando atentamente para a missão, notamos que quando o ser adquire este senso de missão, conquista a essência de sua própria pró-atividade, passa a comandar ao invés de ser comandado pela vida, através de sua visão (capacidade de ver a frente ou se concentrar no agora) e em seus valores (certo e errado) o mesmo dirige sua vida.

Passa a ter o ponto de partida básico, a partir do qual estabelece metas de curto e longo prazo, tendo assim a força semelhante a uma constituição baseada em princípios corretos, para servir eficazmente de padrão de comparação ao uso mais eficaz do tempo, dos talentos e da energia nesse momento acontece à transição, onde o guerreiro samurai inicia uma longa jornada de autoaperfoiçamento.

Segundo Covey (2004, p.160), a liderança pessoal não é uma experiência isolada, ela não começa e termina só na identificação da missão. Pelo contrário, trata-se de um processo contínuo de fixação da óptica e dos valores que se encontram a frente, ter em mente uma boa afirmação (positiva, pessoal, voltada para o presente, visual e emocional).

Ao analisar o que de fato o indivíduo ou empresa faz e os seus anseios, identifica claramente quais são suas metas, as metas fornecem a estrutura e a orientação precisa para identificar se o indivíduo está dentro ou fora da missão pessoal.

Problemas acontecem quando o indivíduo ou a empresa não entende sua própria missão, lutando somente para se tornar mais eficaz na vida é o fato de não pensarem de modo suficientemente abrangente, perdendo o senso de proporção, o equilíbrio, a natureza de ter um ambiente pleno e satisfatório, exemplo de descolamento de missão é o funcionário que é consumido pelas extensas horas extras na empresa, deixando de lado os relacionamentos sociais, fazendo isso em nome de sucesso profissional, e perdendo os relacionamentos mais preciosos da vida.

O autor Covey (2004, p.168), diz que declaração de missão é vital para organizações bem-sucedidas, desenvolver a missão da organização deveria ter o envolvimento de todos e de modo significativo - não somente dos altos escalões do planejamento estratégicos, mas todos. O envolvimento dos colaboradores no processo vai determinar a qualidade do produto final e se torna um dos fatores mais importantes para garantir a eficácia da missão.

Ilustremos o exemplo da empresa IBM que possui três pilares enfatizados desde o treinamento de um colaborador ou prestador de serviço. Inicialmente a IBM acompanha o processo de treinamento existente na empresa, onde é ensinado que a mesma preza três coisas: dignidade do individuo, excelência e dedicação, ou seja, todo o resto pode mudar: clientes, produtos, processos e até mercado, mas estes três pilares não mudarão, criando uma espécie de osmose deste conhecimento que passa de colaborador para colaborador.

Estes pilares representam o sistema de crenças e valores da IBM, fornecendo uma base na formação de cultura organizacional, ações de liderança, e a estabilidade profissional compartilhada por aqueles que lá trabalham.

Manter uma missão não é somente preencher um quadro com frases bonitas e de efeito, é preciso ação. Voltando ao exemplo da IBM o autor Covey (2004, p.169), conta como em uma de suas palestras no na IBM de Nova York havia um funcionário que passou mal e foi levado ao melhor centro médico da região. Porém, como o mesmo morava na Califórnia e sua mulher estava alarmada pelo fato de não ter o marido perto, a IBM junto da família do colaborador decidiu mandá-lo de volta para casa, reservando outro excelente hospital californiano. Os custos com alocação, passagens, remédios, residência devem ter ultrapassado a faixa dos milhares de dólares, mas a IBM acreditou na dignidade do individuo, mostrando que está bem fixada no seu pilar.

O autor Covey (2004, p.169), desmistifica o motivo do fracasso de algumas organizações. Um dos problemas fundamentais das organizações é que as pessoas não comprometem com as determinações que outras pessoas fazem para suas vidas. Elas simplesmente aceitam para se medir a aderência de uma declaração de missão são levantadas as seguintes perguntas: 

- Quantas pessoas aqui dentro sabem que vocês têm uma missão?
- Quantos de vocês sabem o que ela contém?
- Quantos de vocês estiveram envolvidos em sua criação?
- Quantos de vocês realmente acreditam nela e a usam como quadro de referências ao tomar decisões?

O autor Covey (2004, p.169), continua sua análise sobre fatores de sucesso na aderência da missão, desenvolvendo a seguinte frase: "Sem envolvimento não há comprometimento. Podemos muito bem dar metas e uma missão aos colaboradores, se acabaram de entrar na empresa, muito irão cumpri-la, porém quando as pessoas se tornam mais maduras, elas desejam o envolvimento, o envolvimento significativo. E se não o possuem (o envolvimento desejável), não aceitarão mais estas metas impostas, criando um problema motivacional grave, a organização que deseja colaboradores trabalhando com uma família vai precisar de tempo, paciência, habilidade, envolvimento, coragem e a integridade para harmonizar sistemas, estruturas e estilos de visão distintos, fundamentando estes em pilares (tais como a IBM fez) criando uma cultura de valores verdadeiros".

Uma missão organizacional que reflete os valores e a visão mais profundos compartilhados por todos que pertencem à organização - cria uma grande unidade e um imenso envolvimento. Gera na mente e no coração das pessoas um quadro de referências, um conjunto de critérios e orientações, por meio dos quais eles poderão governar suas vidas, em harmonia com o âmago imutável que caracteriza a organização.

Sem uma missão pessoal plenamente desenvolvida e constantemente utilizada o samurai Musashi teria vivido e morrido como mais um medíocre espadachim de sua era, mas ao adotar para si a missão de se aperfeiçoar continuamente, transcendeu, superando obstáculos e indo além, no fundo a escada para o sucesso estava dentro de sua própria mente.


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