Por que
você precisa se identificar com a cultura da sua empresa
Num
trabalho recente para uma empresa do sul do país, encontrei a reprodução de uma
situação que tem se tornado extremamente comum. Deparei com um profissional com
excelente qualificação técnica, grande experiência e um profundo senso de
responsabilidade. Em sua ficha, constava também que ele estava há muito tempo
na organização. Acontece que aquele profissional nunca tinha passado do escalão
médio. Seu perfil era de diretor. Seu papel era de subgerente. Qual a razão
dessa contradição? Ao entrevistá-lo, o mistério se desfez para mim: ele era, na
cultura da empresa, um estranho no ninho.
A cultura
de uma empresa não é algo abstrato. Ela diz respeito a um conjunto concreto de
formas de agir, de se expressar, de se comunicar, até mesmo de se vestir. Há
códigos implícitos de conduta e de comportamento que são decisivos e constituem
a personalidade da empresa. Quem não estiver sintonizado com esses códigos
dificilmente conseguirá ter boas chances de crescimento. Não se trata de achar
que todos os profissionais devem ser clones uns dos outros, mas de perceber o
imenso peso que a identificação com a cultura tem hoje no desenvolvimento da
carreira.
O caso
desse profissional era de total falta de afinidade cultural. A empresa tinha
raízes na tradição germânica e um ambiente circunspecto, um tanto silencioso e
muito formal. Muitos colegas tratam-se por "senhor". No meio disso, o
nosso subgerente primava pelo humor, chegando a fazer algumas ironias com a
seriedade dos outros. Um sujeito expansivo, muito inteligente e que gostava de
contar "causos" e de dar risadas.
O que a
empresa via nisso? Falta de confiabilidade. "Não dá para confiar, ele é
meio moleque", disse um dos diretores. "É inteligente, muito bem
preparado, mas é um pouco fora do padrão." Havia ali um talento
subaproveitado por falta de afinidade cultural. Esse foi o diagnóstico que
apresentei para o caso. Conversei sobre isso com a direção da companhia, mas
sabia de antemão que ele dificilmente seria mais bem aproveitado ali.
Com extrema
correção e sentido ético, os diretores concordaram com minha avaliação.
"Realmente será difícil ele passar para um escalão mais alto, mesmo tendo
qualificação para isso. Sinta-se à vontade para conversar sobre isso com ele e,
se conhecer alguma oportunidade profissional na qual ele se encaixe, ajude-o a
crescer", disse o diretor de recursos humanos. Três meses depois, tive a
oportunidade de oferecer àquele subgerente um cargo de direção numa empresa de
comunicação na qual ele se encaixava culturalmente. Ele ainda está lá, numa
posição de destaque.
Esse caso é
uma grande lição. Ele indica que precisamos fazer avaliações constantes de
nossa vida profissional, não apenas do ponto de vista da qualificação e do
desempenho, mas também do ponto de vista da afinidade entre a nossa
personalidade e a da empresa. Diversos casos de carreiras empacadas podem ser
explicados por essa falta de afinidade. A empresa não demite o profissional,
pois ele é competente, mas não permite seu crescimento, porque ele é diferente.
Nesses
casos, a melhor solução nem sempre é buscar uma nova posição. Podemos também
aprender a agir e a nos comportar de forma diferente. Desde que -- é claro --
isso não signifique nenhuma violência à nossa própria forma de ser e de pensar.
Artigo de
autoria de Simon M. Franco, publicado na Edição 806 da Revista EXAME
Nenhum comentário:
Postar um comentário