O convite para gerir uma nova área pode ser sua grande
chance
Há ocasiões em que a empresa surpreende um de seus
executivos com um convite inesperado: comandar uma nova área com a qual ele não
tem intimidade. Recentemente, tive de acalmar um diretor financeiro que me
procurou atrás de orientação. "Eles querem que eu assuma a diretoria de
gestão de pessoas e não entendo nada disso. Estão querendo me fritar!"
A primeira observação que fiz ao aflito executivo foi
que hoje, cada vez mais, o profissional deve ser polivalente. Um executivo tem
como missão comandar uma equipe, uma área, um setor e mesmo a empresa toda.
Isto é, o executivo deve ser especialista em organizar, comandar, estimular o
grupo sob sua direção, obter os melhores resultados. E deve ser capaz de fazer
isso em qualquer área da empresa.
Em segundo lugar, sugeri que ele analisasse a própria
atuação na diretoria financeira. O que poderia ter chamado a atenção da
empresa, na forma como organizou seu setor, nas decisões que tomou, nos
conflitos que enfrentou? Em suma, o que o fez aparecer como um candidato a
dirigir a área de gestão de pessoas? De fato, ele mostrou que tinha conseguido
fazer de seu grupo de trabalho uma verdadeira equipe. Sem ter se dado conta que
estava operando algumas inovações, ele tinha conseguido instituir na diretoria
financeira uma forma de trabalho que não era praxe nas outras áreas: reuniões
de avaliação, aproximação entre chefes e chefiados, estímulo por resultados.
O terceiro ponto, talvez o mais importante, é que
transitar por algumas áreas estratégicas da empresa é uma forma de preparação
para ocupar cargos mais altos -- quem sabe, a presidência. Não há dúvida de que
a gestão de pessoas é hoje vital para qualquer companhia, embora muitas delas
não tenham se dado conta. "A empresa está investindo em você, não está
querendo fritar coisa nenhuma", concluí.
Esse caso é um dos exemplos mais claros do modo de
funcionamento das empresas que estão buscando modernizar-se e dos desafios que
isso traz para os profissionais que as integram. Quando dizemos que não basta
ser especialista em alguma coisa, não se trata de uma afirmação teórica: é algo
que se apresenta na realidade na forma de desafios para nossas carreiras.
Recusar a direção da gestão de pessoas, no caso desse executivo que me
procurou, significaria para ele a perda de uma oportunidade de crescimento, por
causa da insegurança de enfrentar questões nas quais não se via como
especialista.
É evidente que, ao fazer uma proposta como essa, a
empresa aposta também na capacidade de aprendizado de seu executivo. Ele
precisará estudar, ler, freqüentar eventos. E eis aqui mais um princípio que é
bastante prático: a necessidade de nunca parar de aprender. Ao fazer o convite,
certamente a empresa avaliou todas essas questões. O que o profissional deve
fazer, e eu também sugeri isso a ele, é ser explícito e solicitar o apoio da
organização nessa fase de transição. Pode pedir para fazer um curso rápido, no
Brasil ou no exterior, antes de assumir o cargo, ter a possibilidade de montar
a própria equipe contratando novos profissionais, contratar uma consultoria
externa para fazer um diagnóstico do setor e outras coisas assim.
Se você, caro leitor, for surpreendido um dia por um
convite desse tipo, comemore: é um momento de crescimento na carreira, para o
qual a última coisa a fazer é dizer não. Se um executivo deve ser especialista
em alguma coisa, sua especialidade deve ser, exatamente, a de ser executivo.
Artigo de autoria de Simon M. Franco, publicado na
Edição 813 da Revista EXAME
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