Conversei há pouco tempo com um jovem executivo de uma
rede de supermercados que me procurou com uma urgência: estava havia três anos
na mesma empresa e, por isso, considerava-se ultrapassado. "Ficar mais de
três anos no mesmo emprego é coisa do passado, não é? Preciso mudar." Fiz
algumas perguntas sobre a carreira dele, sobre sua situação profissional e
expectativas e rapidamente confirmei minha suspeita inicial: ele realmente não
precisava de outro emprego. Na verdade, estava correndo o risco de prejudicar a
própria carreira com a crença de que tinha de mudar a qualquer custo.
De fato, a diminuição do tempo de permanência dos
profissionais nas empresas tem gerado atitudes perigosas. Muitas vezes, sem se
dar conta, alguns profissionais adotam uma espécie de "carreirismo
inter-empresarial". É um fenômeno que consiste em considerar como valor
absoluto a rápida movimentação na carreira. Em vez de focar nos resultados do
próprio trabalho, nas perspectivas de crescimento na organização, nas
possibilidades que podem se abrir, o profissional joga toda sua energia na
tentativa de receber convites para trabalhar em outro lugar.
Esse frenesi carreirista é extremamente danoso. A
construção de uma carreira brilhante se mede pela obtenção de resultados
brilhantes. Como conseguir resultados realmente impactantes se não nos dermos o
tempo necessário para isso dentro de uma organização? Não há dúvida de que é
importante estar aberto ao mercado, procurar tornar-se conhecido. Mas, antes
disso tudo, é muito mais importante dedicar-se à organização à qual você
pertence como se nunca fosse sair dela. Pode parecer paradoxal, mas é a mesma
sabedoria de Vinicius de Moraes, ao falar do amor: que seja eterno enquanto
dure.
Para quem está sofrendo dessa mesma angústia de
mudança, eu gostaria de repetir o que disse ao meu jovem interlocutor: tenha
calma. Analise sua situação na empresa em que trabalha de maneira objetiva,
realize um inventário das possibilidades e perspectivas de médio prazo ali
dentro. Pergunte-se, ao mesmo tempo, pelos resultados que você tem obtido --
não simplesmente em termos de promoções, mas do ponto de vista das realizações
profissionais. Qual foi o seu grande feito? Essa é a pedra de toque do sucesso
na carreira, não a correria de uma empresa para outra.
Ao perseguir o objetivo de mudar a qualquer custo para
não se achar ultrapassado, o profissional acaba também correndo o risco de
prejudicar o próprio desempenho. Pois querer mudar é querer sair de onde está
-- o que se traduz em menor empenho, menos equilíbrio e mais insatisfação. Isso
trará reflexos negativos diretos na maneira de agir, de pensar, de trabalhar.
Além disso, o cenário de mudanças de emprego mais
rápidas foi muito forte nas empresas de internet, durante a bolha de
crescimento, e é muito mais significativo hoje nos Estados Unidos, por exemplo,
do que no Brasil. Não é uma verdade aplicável indistintamente a qualquer
situação. Eu ousaria mesmo dizer que em nosso país a maioria dos altos cargos
executivos ainda é ocupada por profissionais com muitos anos de casa.
Construir alguma coisa sólida requer tempo, paciência,
dedicação. Ao substituir a pergunta "aonde eu quero chegar" por
"o que eu desejo construir", você conseguirá certamente ir bem mais
longe do que havia sonhado. Pois aí o tempo vai se tornar seu aliado, não seu
inimigo. E é uma grande coisa ter o tempo a nosso lado.
Artigo de autoria de Simon M. Franco, publicado na
Edição 802 da Revista EXAME
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