Não importa o ambiente, quando nos deparamos com um diálogo
cansativo que nos faz olhar para o relógio várias vezes é sinal que a
comunicação que deveria fluir entre as partes envolvidas tornou-se apenas perda
de tempo. E isso acontece tanto no campo pessoal quanto profissional, afinal
todos os profissionais precisam manter um relacionamento diário para repassar,
trocar informações ou ideias condizentes com as atividades laborais. De acordo
com Anderson Rocha, especialista em Gestão de Pessoas, os profissionais que se
tornam bons comunicadores desempenham suas função com maior eficácia e têm mais
chances de ascensão na carreira. "Todos podem ser bons comunicadores,
inclusive as pessoas consideradas tímidas. O diferencial está em como
transmitir o conhecimento e fazer com que a outra parte compreenda a essência da
comunicação", afirma. Em entrevista concedida ao RH.com.br, Anderson Rocha
lembra ainda o fato de que a comunicação não se restringe apenas às palavras,
mas também aos gestos como, por exemplo, um agradável sorriso, um olhar fixo ou
mesmo uma expressão facial sisuda. Confira a entrevista na íntegra e aproveite
a leitura!
RH.com.br - O que leva os profissionais que se destacam no mercado a serem
considerados bons comunicadores?
Anderson Rocha - Esses profissionais têm consciência da importância da
comunicação para a carreira e a utiliza para se destacarem. Eles sabem que
necessitam demonstrar competência, além de possui - lá. Não perdem
oportunidades para mostrar todas as suas capacidades. Eles também sabem que,
praticamente em todos os momentos de suas vidas no campo profissional, terão
que defenderem pontos de vistas, exporem ideias, conduzirem ou participarem de
reuniões, de entrevistas e uma infinidade de outras atividades que nos exigem o
ato de se comunicar bem.
RH - A comunicação realmente ajuda a trajetória de uma carreira de
sucesso?
Anderson Rocha - Sim, ajuda e muito. Quais os profissionais que mais nos
impressionaram ao longo de nossa carreira? Aqueles que mais sabiam ou os que
melhor transmitiam os seus conhecimentos? Aqueles que se retraem mesmo
conhecendo os assuntos abordados ou aqueles que dominando as ferramentas da
comunicação e transmitem com naturalidade e segurança? Lembre-se das pessoas em
sua volta que podem ser ditas "de sucesso". O que elas têm em comum?
Se observarmos essas pessoas, em sua maioria, uma característica que elas
possuem em comum, são a de boas comunicadoras.
RH - Quais as principais competências que os talentos precisam desenvolver
para se tornarem bons comunicadores?
Anderson Rocha - Não existe uma receita mágica para ser um bom
comunicador. Todos podem ser bons comunicadores, mas para isso é muito
importante respeitar o seu perfil, o seu estilo que é único e intransferível. O
autoconhecimento, ou seja, saber quais são suas características quando se
comunica com os outros é fundamental para uma boa comunicação. Se você é uma
pessoa mais discreta ou tímida, não adianta querer contar piadinhas, pois com
certeza não obterá êxito com esse recurso. E isso ocorre muitas vezes, quando
tentamos ser o que não somos, deixando de ser natural. Essa é uma das mais
importantes características dos bons comunicadores. Não existe técnica de
comunicação, por mais elaborada e precisa que seja mais relevante que a que o
profissional aja com naturalidade.
RH - Em um processo seletivo, por exemplo, qual seria o peso da
competência "Comunicação"?
Anderson Rocha - Quais os candidatos mais apreciados em um processo
seletivo: aqueles que se retraem mesmo conhecendo os assuntos perguntados ou
aqueles que transmitem seus conhecimentos de forma clara, com naturalidade e
segurança? Sem dúvida são os que melhor transmitem seus conhecimentos. E só se
transmite os conhecimentos em um processo de seleção, através de uma
comunicação clara onde a mensagem é bem entendida.
RH - As pessoas consideradas tímidas podem se comunicar bem?
Anderson Rocha - Podem e devem se comunicar bem. O conhecimento de
técnicas de comunicação e oratória auxilia o tímido a se expressar com mais
clareza, segurança e convicção.
RH - Quais os entraves mais comuns que as pessoas enfrentam para se
comunicarem bem?
Anderson Rocha - Imagine um advogado dando uma palestra para um grupo de
engenheiros e médicos, utilizando uma linguagem extremamente técnica. A chance
desse profissional obter êxito em sua comunicação é praticamente nula. Só
existe uma boa comunicação se houver o entendimento do outro que nos escuta.
Uma regra de ouro da boa comunicação e sempre adequar a linguagem ao tipo de
pessoa ou público que está nos ouvindo. Para isso, é fundamental ser sempre
simples ao se comunicar. Como disse Leonardo da Vinci "A simplicidade é a
sofisticação máxima".
RH - Atualmente, quais os recursos mais utilizados entre os que desejam
tornarem-se bons comunicadores no campo profissional?
Anderson Rocha - Além das palavras, existe um mundo infinito de nuances e
prismas diferentes que geram energias ou estímulos que são percebidos e
recebidos pelo outro, através dos quais a comunicação se processa. Um olhar, um
tom de voz um pouco diferente, um franzir de cenho ou um levantar de
sobrancelhas podem comunicar muito mais do que está contido em uma mensagem
manifestada através das palavras. A essa modalidade de expressão chamamos de
linguagem não verbal. O fascinante em relação à linguagem não verbal é que
raramente temos consciência da nossa entonação de voz, da postura, dos
movimentos e dos gestos, pois muitas vezes eles podem revelar uma história,
enquanto as palavras estão contando outra. É importante salientar que em muitos
casos, quando suas palavras não estiverem concordando com suas ações, seu
ouvinte acreditará em suas ações.
RH - Quem comunica bem sabe dar e recebe feedback?
Anderson Rocha - Sim. Os bons comunicadores sabem que o feedback é uma
ferramenta de crescimento e de desenvolvimento humano. Eles sabem que através
dele se estabelece um processo de compreensão, respeito e confiança em uma
relação. Mas poucos são habilidosos o suficiente para dizer o que precisa ser
dito sem ferir ou magoar. Uma ferramenta poderosa, para que possamos dizer
coisas que ficam engasgadas e sejam bem aceitas pelos outros é a utilização
correta do chamado feedback sanduíche. Essa prática consiste em começar um
diálogo destacando o que a pessoa faz de bom. Primeiro, elogie algo positivo
que ela tenha feito. Depois de elogiar, comece a abordar os pontos negativos,
destacando as questões nas quais você gostaria que a pessoa melhorasse. Para
encerrar a conversa, volte a dar ênfase em outros pontos positivos que você
perceba no comportamento da pessoa que está à sua frente.
RH - Como a área de RH pode estimular os profissionais, para que esses se
tornem bons comunicadores?
Anderson Rocha - O RH deve ser o facilitador desse processo. Muitos
profissionais não têm consciência de como estão comunicando-se e que em
diversos casos essa má comunicação compromete até mesmo própria imagem da
empresa. A área de Recursos Humanos deve estimular esses profissionais, através
de feedbacks e de treinamentos para que possam desenvolver e aprimorar a
habilidade de se comunicar bem. Em alguns casos observamos que há gestores que
não sabem dar retorno adequado às pessoas. E pior, quase nunca consideram que
podem estar errados quando tentam convencer alguém de suas ideias ou, ainda,
que simplesmente fazem isso de forma inapropriada.
RH - Que orientações o senhor daria a quem deseja ter uma comunicação
fluente e que desperte o interesse das empresas?
Anderson Rocha - Segundo pesquisas, os 30 primeiros segundos de uma fala
são decisivos para criarmos empatia. Por isso, ao iniciar sua comunicação,
sorria, cumprimente as pessoas e demonstre a satisfação e o privilégio de estar
ali. Outra característica muito importante dos bons comunicadores é o olhar.
Quando olhamos nos olhos das pessoas fazemos com que se sintam importantes e
demonstramos respeito e atenção. A voz é outro dos principais instrumentos na
comunicação, devendo passar competência, segurança, autoridade, credibilidade,
propriedade e poder de decisão. Não existe nada pior do que uma voz monótona e
sem entusiasmo. Aquela voz sem melodia, produzida do mesmo jeito, e que acaba
por deixar os ouvintes totalmente desinteressados no assunto, sonolentos,
comprometendo assim, o entendimento da mensagem. Coloque ritmo a sua fala.
Alterne a velocidade e o volume, utilize bem as pausas, as inflexões e as
entonações, para que o ouvinte tenha uma interpretação do sentimento
transmitido pelas palavras. Para finalizar enfatizo que comunicar-se bem é
assumir a responsabilidade pelo entendimento da mensagem pelo outro.