sábado, 12 de fevereiro de 2011

Você tem consciência de sua autoimagem? - Carlos Hilsdorf

Em um inesperado momento de sua vida, você se depara com uma imagem refletida no espelho da existência. Olhamos, olhamos novamente, voltamos a olhar e, após grande hesitação, reconhecemos: trata-se de nós mesmos!

Trata-se de um “nós” refletido em uma imagem que desconhecíamos ou, talvez, insistíamos em não reconhecer. Somos incrivelmente hábeis para fugir de nós mesmos e tremendamente covardes para nos buscar por trás das aparências.

Mas esta imagem, cedo ou tarde, aparece e com ela vem uma dor forte e intensa: a dor de descobrirmo-nos como somos e não como gostamos de pensar que somos.

Este “outro” no espelho da existência, parece tão diferente de nós. Não que seja mais feliz ou mais triste... é diferente, muito diferente.

Esta imagem, às vezes é trazida pela sinceridade de um verdadeiro amigo (aquele que diz o que precisamos ouvir); às vezes é trazida por uma dor de amor (onde quem amamos, desiludido por alguma situação, desabafa o que sempre pensou e nunca revelou a nosso respeito), outras vezes é trazida pela reflexão, psicoterapia ou busca espiritual.

Corajosos, nos achamos covardes.
Fortes, nos reconhecemos fracos.
Altruístas, nos surpreendemos egoístas.
Vencedores, nos descobrimos com inveja.
Humildes, visualizamos nossa vaidade.
Pacíficos, encontramos a raiva.
Religiosos, nos vemos sem fé.
Bons, nos percebemos ainda maus.
Belos, nos vemos distorcidos.

Distorcidos pelas lentes da realidade!? Que tipo de distorção é esta que nos mostra como somos?

Esta imagem choca e nos faz parecer monstros aos nossos próprios olhos. Caem as escamas que impediam a nossa visão... E a luz fere os olhos acostumados à escuridão.

Vivemos muito tempo no escuro, onde podemos dizer coisas sem olhar nos olhos e acertar os cabelos sem, de fato, olhar no espelho.

O espelho do outro, o espelho de quem nos ama, o espelho de quem amamos, o espelho do amigo, da amiga, do pai, mãe, irmão, professora...

O espelho do outro revela uma imagem que é nossa. Por que tardamos tanto em ver a nós mesmos como somos?

Não, não é somente por medo e covardia, é também por falta de maturidade. Este dom que o tempo traz aos que o buscam verdadeiramente. A maturidade não é obra do tempo, é obra de um coração sincero que viaja no tempo.

Não somos monstros! Não somos santos! Somos homens e mulheres em busca de nós mesmos.

Em um determinado momento, em um inesperado momento de sua vida, uma imagem aparece em “um espelho”. Não a trate como um desconhecido. Trata-se do seu próximo mais próximo, aquele a quem devemos amar primeiramente no exercício de amar ao próximo, alguns milímetros, metros ou quilômetros, mais distantes.

Este desconhecido somos nós mesmos. A imagem no “espelho” pede ajuda! Ela precisa ser reconhecida e auxiliada, não consegue respirar, sufocada por aquilo que fingimos ser.

Não somos santos nem monstros. Somos seres humanos, que, de tão humanos, não nos reconhecemos disfarçados por trás do herói que gostaríamos de ser. Heróis são pessoas comuns que encontram a si mesmas! 

Por isso são fortes, porque não estão divididas entre o que são e o que pensam ser. Simplesmente vivem como são: autênticas.

A dor da autenticidade é o preço da descoberta do caminho que leva à felicidade.

Seja feliz! Viva a autenticidade. Vai doer, todo nascimento implica algum tipo de dor, mas a vida celebrará com sorrisos o que as lágrimas da descoberta evidenciam, ao lavar olhos, como que eliminando as imagens passadas.

Na ausência da autenticidade não há vida, somente a morte do nosso verdadeiro “eu”.

Monstros não refletem sobre seus sentimentos, erros e acertos. Tornar-se “santo” é uma meta, não um ponto de partida. Todo “santo” teve um passado e todo “pecador” terá um futuro!

Ninguém vencerá o mundo sem conhecer o mundo, ninguém transcende a matéria sem ter sido “matéria”. Nossos erros são apenas virtudes que ainda não aprenderam a direção...

Ou, por acaso, você nunca parou para pensar que um teimoso pode tornar-se persistente? O teimoso é um indivíduo egocêntrico que está mais preocupado em ter razão que em encontrar a razão. O teimoso caminha em círculos. Já o persistente, possui metas mais claras, aceita opiniões e toda a ajuda que o auxilie a chegar lá. O persistente aprendeu a caminhar em linha reta, na direção de seus objetivos e metas. Enquanto persistência é uma virtude, teimosia é um defeito. 

Quando damos uma direção à teimosia e nos libertamos das ilusões de nossas egotrips, aprendemos a ser persistentes.

Faça de seus erros, razões para acertar. Seres humanos não aprendem com seus erros, aprendem consertando seus erros...

Neste exato momento, há uma imagem refletida no “espelho” deste texto. Não a trate como um desconhecido...


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