Um diploma
na parede e notas elevadas no boletim nem sempre são garantia de sucesso
profissional futuro; entenda os motivos.
São Paulo
– Sair da formatura com notas elevadíssimas em todas as disciplinas não é
garantia de que o recém-formado seja um excelente profissional. Ao contrário.
Especialistas
consultados por EXAME.com são unânimes ao afirmar que entre os conhecimentos
compartilhados nas universidades brasileiras e o que o mercado de trabalho
exige para o crescimento na carreira há uma grande lacuna. E não estamos
falando apenas de preparo técnico.
“Faltam
aquelas competências que os americanos chamam de “soft skills”, como
comunicar-se bem, avaliar o que cada um é capaz, montar e motivar uma equipe,
além de uma série de outras coisas que levam à uma performance melhor”, diz
Armando Dal Colletto, diretor acadêmico da Business School São Paulo.
1 Ser
multicultural (na prática)
Fora a
possibilidade de ter um intercambista na turma ou estudar por um período em uma
universidade estrangeira, poucas são as iniciativas oficiais de muitas
universidades por aí para colocar os alunos em contato direto com diferentes
culturas.
No mercado
de trabalho o cenário é outro: o chefe pode ser coreano, o colega da mesa ao
lado, espanhol, a empresa parceira, indiana e o cliente, chinês. A falta de
profissionais qualificados no país, a internacionalização das empresas
brasileiras e o desembarque de grupos globais por aqui aproximou a rotina
corporativa do cenário de Babel.
E inglês
fluente não é tudo. De detalhes culturais para negociar melhor até gestos
pequenos que contribuem para um boa convivência: “É preciso um entendimento das
diversidades”, afirma Dal Coleto.
2 Trabalhar
em equipe
Não se
engane: os tradicionais trabalhos em grupos da faculdade quase não preparam
ninguém para atuar em uma equipe. Motivo? “Quando organizam os grupos de
trabalho, os alunos escolhem seus amigos, pessoas com quem se identificam e, no
mínimo, a partir de pontos que os aproximam”, diz coach educacional Renato
Casagrande.
Na vida
profissional, a história é diferente. Ninguém (exceto o próprio chefe) escolhe
com quem vai trabalhar. E, ao contrário da tônica típica dos grupos de
faculdade (em que as pessoas tendem a ser parecidas), para uma equipe dar certo
no trabalho é essencial que seja composta por pessoas com perfis complementares
e, portanto, diferentes, afirma o especialista.
“E, além
de tudo, os alunos não aprendem a compartilhar ideias: Para facilitar a própria
vida, dividem tarefas”, diz Casagrande.
3 Fazer
networking
Seja por
ficar centrado no próprio círculo de amigos e até por uma questão cultural, a
faculdade raramente desmistifica a capacidade de fazer networking ou expandir
sua rede de contatos profissionais.
“As
pessoas têm vergonha de se aproximar dos outros com uma segunda intenção”, diz
Gustavo Furtado, fundador da Tricae. E as universidades quase nunca criam meios
para que esta visão seja mudada. “Nos Estados Unidos, em todo e qualquer evento
as pessoas são estimuladas a se apresentar e falar a sua história”, diz.
4 Ser
interdisciplinar
Na
faculdade, as disciplinas até podem ser apresentadas em dias ou semestres
diferentes. Mas, na rotina corporativa, o conhecimento adquirido de cada uma
delas deve ser usado de forma integrada – algo que, infelizmente, o ensino
tradicional ainda não sabe manejar.
“As
pessoas aprendem a resolver problemas de forma separada e, de repente,
precisarão resolver todos estas questões em um problema só”, diz o coach
educacional Renato Casagrande.
5 Falar em
público
“Nas
apresentações de trabalho, geralmente, só fala quem já tem boas habilidades de
comunicação. O mais analítico tende a não falar”, diz Joseph Teperman,
sócio-diretor da Flow. E, na carreira, apresentar-se em público é quase um
requisito básico em todas as carreiras – mesmo que seja para uma plateia
composta apenas por seus chefes.
6 Como
escolher a carreira
A decisão
por qual curso superior seguir é apenas o primeiro passo em direção a escolha
da carreira que é mais coerente com você. Assim que o diploma é entregue na
colação de grau é que começam as verdadeiras escolhas decisivas para a
trajetória profissional.
O problema
é que a faculdade ensina pouco para este momento. “Não há parceria com as
empresas ou consultorias de recrutamento. O profissional sai da faculdade sem
saber onde estão e quais são as principais oportunidades do mercado”, diz
Furtado, da Tricae.
Muitas
vezes, sem saber muito bem qual rumo seguir. “A pessoa acaba seguindo a
carreira daquele primeiro estágio que ela conseguiu ou parte para um jogo de
tentativa e erro”, diz Teperman.
7 Liderar
e gerir pessoas
Exceto por
quem se aventura em uma empresa júnior, centros acadêmicos, atléticas ou outros
movimentos estudantis, raras são as chances que um graduando tem para treinar a
arte de liderar uma equipe. E isso demanda inteligência emocional, resiliência,
capacidade para delegar e motivar pessoas. “Tem uma parte da rotina do
executivo, que nem um curso de pós ajuda”, afirma Maurício Trezub, CEO da
Ciashop.
8 Contratar
“Contratar
pessoas para trabalhar com você não é a mesma coisa que convidar um colega para
fazer um trabalho”, diz Maurício Trezub, CEO da Ciashop. E muita gente só
descobre o tamanho deste desafio quando tem que recrutar pela primeira vez.
“A ajuda,
muitas vezes, vem de um superior imediato”, diz Teperman. Mas nem sempre
aparece. “Muitos acham que as únicas pessoas boas são aquelas que são espelho
deles próprios em vez de profissionais com características complementares aos
deles”, afirma.
9 Negociar
Nas
estruturas tradicionais que a maioria dos cursos de graduação estão assentados
há pouco espaço para que o aluno tenha voz e, consequentemente, aprenda a
negociar. No máximo, as discussões e os acordos são fechados dentro dos grupos
de trabalho – feitos, geralmente, com pessoas parecidas. “Não se aprende a
vender ou comprar uma ideia. As pessoas chegam muito ingênuas no mercado”, diz
Teperman.
10 Ler
ambientes
No mundo
corporativo é preciso ser autêntico, mas também é essencial se adequar. “Antes
de se soltar é importante entender qual é a cultura daquela área para, então,
vestir a máscara corporativa”, diz Teperman. Na faculdade, esta adequação
raramente é uma exigência. “Se você era da turma da frente nunca foi obrigado a
sentar com a turma de trás”, afirma.
11 Portar-se
em uma reunião
“As
empresas estão mais participativas e menos patriarcais. Com isso, os mais novos
são envolvidos nas reuniões desde cedo”, afirma Teperman. Seja por não saber
ler ambientes direito, negociar ou falar em público, poucos recém-formados
estão prontos para encarar esta missão.
Fonte: V2V
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