Jorge estava cansado das dificuldades
financeiras, da burocracia estatal, da queda nas vendas, da injustiça que é ser
empresário em um território hostil de inacreditável regime trabalhista e
tributário. Empregava mais de trezentos funcionários e cada vez mais sentia-se
pressionado e inquieto com a corrupção epidêmica. Não era assim que aprendera
com seu pai, um homem ético e visionário, cujo destino abraçou-o cedo demais.
Afundou-se na poltrona da biblioteca pensativo sem saber o que fazer para sair
da situação que mais se parecia com o fundo do poço. Em algum momento o furor
do sucesso havia sido corrompido pelo medo do fracasso, e, assim o negócio
familiar caminha para uma recuperação judicial.
Então, ouviu o tamborilar de passos
pequenos, uma respiração leve chegou a ele. Sorriu, deveria ser sua filha.
Porém quando a porta abriu, às três da manhã, era um menino, algo em torno dos
nove anos, vestido com uma capa preta de estrelas, chapéu alongado e uma varinha
de plástico na mão. Quem é você?, perguntou, para receber de volta uma resposta
que o surpreendeu: "Sou mágico, um menino mágico".
Jorge ficou imóvel, estaria sonhando?
O garoto deu uma risada curta e com um truque fez aparecer uma chave com
aparência antiga e desgastada. Venha comigo, o menino disse, preciso lhe
mostrar algo. Desceram por uma escada que não existia, não em sua casa. Estou
sonhando?, perguntou-se.
"Quem é você? Não tenho tempo
para brincadeira!", falou com uma rispidez maior do que gostaria, mas o
menino apenas apontou para as portas.
Eram três portas talhadas em madeira
com desenho de folhas rústicas. Pegue a chave, Jorge. E assim ele fez. Sentiu
uma pontada no coração, pois lembravam exatamente as portas da casa do avô, o
primeiro empreendedor da família. Ficou sem palavras.
O menino apresentou cada uma delas e o empresário repetiu mentalmente. A da esquerda se chama "impossível", a do centro "possível" e a da direita é a porta "segurança".
O menino apresentou cada uma delas e o empresário repetiu mentalmente. A da esquerda se chama "impossível", a do centro "possível" e a da direita é a porta "segurança".
Cada uma delas tem um poder
específico, faça a sua escolha.
Ponderou sobre a representação de cada
escolha. Olhou novamente para o garoto, e isto o fazia ficar tranquilo. Amanhã
nada vou lembrar mesmo, pensou, é um sonho, não existe magia neste mundo, aqui
é tão somente um tempo fraturado. Mesmo assim, continuou o jogo.
Girou a chave na porta impossível.
Seu queixo caiu, porque havia um espelho e viu que ele era o menino mágico. E
depois, a através do espelho outros meninos da mesma idade e cada um disse o
nome: Charles Chaplin, Santos Dumont e Bartolomeu de Gusmão. Os quatro foram
brincar de arte, de avião, de balão e por fim do ponto que os unia: o
impossível! Uma simples palavra que fora o motor propulsor das invenções e das
pequenas e grandes revoluções. Ele redescobriu que coisas possíveis foram
feitas do impossível, de homens e mulheres que acreditaram mais do que outros.
Então compreendeu tudo e levantou-se
da poltrona num pulo. Algo fazia pulsar o seu coração mais rápido. Compreendeu
que o menino mágico sempre estivera próximo, mas pela seriedade do mundo ele o
esquecera em algum canto da memória.
Jorge descobriu que a crise, é, antes
de tudo, uma questão de perspectiva. A dele havia mudado. O seu menino mágico
lhe provou que empreender é uma aventura e, como se sabe, existem os riscos, os
acidentes, as quedas e a redenção, mas acima de tudo, havia a grande jornada.
E, por ela, valia a pena.
Rodrigo Bertozzi
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