segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Síndrome da Pressa: mais uma ameaça à saúde dos profissionais


O estresse é um mal comum a pessoas de todas as partes do mundo, das mais variadas idades e profissões. Recentemente a Isma-Brasil (International Managente Association) confirmou que a essa realidade é muito mais preocupante do que muitos imaginam. Pesquisas realizadas pela entidade destacam que 70% dos brasileiros economicamente ativos sofrem de estresse. Inclusive, estudos científicos comprovam que 60% das doenças são determinadas pelo nível de estresse e o estilo de vida que as pessoas levam. Como efeito dominó, surge em cena a chamada Síndrome da Pressa, um mal que leva os indivíduos a realizarem tudo com mais rapidez em decorrência das exigências do mundo globalizado. Vale salientar que a classe médica alerta que esse quadro de ansiedade permanente pode transformar-se em doença e já acomete cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros.

Para conhecer e saber como se prevenir contra a Síndrome da Pressa, o RH.com.br entrevistou Andrea Bacelar, neurologista e vice-presidente da Associação Brasileira do Sono. Segundo a médica, o tratamento mais indicado para esse mal é reduzir a velocidade do próprio corpo e administrar melhor o tempo para todas as atividades. "A Síndrome da Pressa gera demonstração de impaciência, pouco interesse do indivíduo pelo o que os outros falam, demonstração de intolerância com as pessoas que têm um ritmo mais lento", assinala. Como ninguém está livre dos efeitos estressores, essa entrevista certamente é do seu interesse. Afinal, ela pode ajudá-lo a se prevenir da Síndrome da Pressa. Aproveite a leitura!

RH.com.br - Recentemente, a Isma-Brasil (International Management Association) revelou dados sobre o estresse em brasileiros economicamente ativos. Quais foram as informações que mais despertaram a preocupação dos especialistas na área da Saúde?
Andrea Bacelar - O estresse foi uma das preocupações mais acentuadas no estudo da Isma-Brasil. O estresse até um determinado limite, é saudável e necessário para os trabalhadores em geral. Porém, o que devemos ficar atentos é quando ele passa deste limite considerado saudável, uma vez que pode desencadear uma série de doenças, a partir de alterações psico-fisiológicas. Estas alterações afetam, inclusive, o sistema imunológico.

RH - Quais os principais fatores que contribuem para essa realidade da saúde do trabalhador no Brasil?
Andrea Bacelar - Não apenas no Brasil, mas em todo mundo, observamos que as muitas pessoas querem resultados rápidos, seja em tratamentos médicos, no trabalho e, inclusive, na sua vida pessoal. Algumas pessoas sabem lidar melhor com o tempo, outras já possuem uma predisposição ao desenvolvimento do estresse. Hoje em dia, é muito difícil encontrar alguém que não tenha que cumprir horários e prazos. Somos cobrados diariamente a realizar o melhor, superar nossos próprios limites. Porém, há pessoas que se cobram demasiadamente e entram em um processo de grande estresse que acaba desencadeando doenças que precisam ser tratadas, mas nem sempre o são. As conseqüências para essas pessoas, geralmente, são desagradáveis.


RH - Os dados apontados pela Isma-Brasil assinalam para uma nova preocupação: o surgimento da Síndrome da Pressa. Quais os principais sintomas das pessoas que são acometidas por este mal?
Andrea Bacelar - A Síndrome da Pressa é o nome pelo qual é conhecido o Padrão Comportamental tipo A. Mas vale ressaltar que ele não é uma doença. É apenas um passo para adquiri-las. Quem sofre deste mal, em geral, é uma pessoa que tem uma grande necessidade de fazer tudo e sempre de forma rápida. Essas pessoas têm bastante dificuldade em se concentrar. A impaciência, a irritabilidade e o acúmulo de atividades, por exemplo, são características importantes a serem analisadas. Os momentos para esses indivíduos de lazer são raros e, quando ocorrem, não são devidamente aproveitados.

RH - Existe um perfil predominante para quem é acometido pela Síndrome da Pressa?
Andrea Bacelar - Sim, existem algumas características que percebemos em indivíduos com padrão comportamental Tipo A como, por exemplo: um aperto de mão firme, andar acelerado, respostas abreviadas nas conversas, tendência a cortar os finais das palavras, hostilidade constante em situações que acreditam que irão perder tempo, hábito de interromper quando os outros falam e irritabilidade com falas explosivas. Estas são algumas características que traçam o perfil de pessoas acometidas pela Síndrome da Pressa.

RH - Esse mal decorrente do ritmo acelerado das pessoas pode ser considerado uma doença ocupacional?
Andrea Bacelar - A Síndrome da Pressa é decorrente das exigências do mundo moderno. As doenças ocupacionais estão relacionadas exclusivamente às questões relacionadas ao trabalho. Obviamente, as cobranças por produtividade e a eficiência nas empresas influenciam, e muito, o aparecimento da Síndrome da Pressa. Contudo, essa síndrome pode acometer até mesmo em crianças, não estando relacionada obrigatoriamente apenas a essas questões que citei.

RH - Quais as principais consequências que a Síndrome da Pressa provoca à saúde física e emocional das pessoas?
Andrea Bacelar - O indivíduo ansioso vive em posição de constante alerta físico e psíquico. O reflexo em seu corpo revela-se em dilatação das pupilas, aceleração do coração, divergência do sangue para musculatura voluntária, aumento da glicose circulante e até mesmo dilatação dos brônquios. Ser um apressado compulsivo aumenta o risco de infarto, úlceras, gastrites e pode prejudicar, consideravelmente, as relações pessoais. Este distúrbio também apresenta sintomas como, por exemplo, hipertensão, problemas cardiovasculares, dores musculares difusas e distúrbios do sono por apresentarem um estado de hiperalerta emocionais - a sensação de angústia e ansiedade -, bem como comportamentais, que se refletem no abuso do consumo de álcool, cafeínas e excitantes do sistema nervoso central.

RH - Quais os impactos que a Síndrome da Pressa gera ao desempenho do trabalhador?
Andrea Bacelar - O ambiente de trabalho, em muitos casos, contribui decisivamente para o aparecimento da Síndrome da Pressa e é onde percebemos os grandes impactos. Alguns indivíduos tornam-se agressivos e extremamente competitivos. Eles estão sempre querendo produzir mais, porém em menos tempo. Contudo, a dificuldade em se concentrar é uma das características que pode atrapalhar o desempenho do profissional. A criatividade também poderá ser enfraquecida pela permanência repetitiva e a forma com que encaram, ou melhor, como essas pessoas querem resolver os problemas de forma imediata.

RH - A Síndrome da Pressa também afeta a vida pessoal do trabalhador?
Andrea Bacelar - Sim e bem diretamente. Uma pessoa que esteja sofrendo deste mal não consegue relaxar nem mesmo nas horas de lazer. Estão sempre tensas e com a sensação de que não há tempo a perder. Este mal não afeta apenas a vida profissional, mas também a vida pessoal. O Padrão Comportamento Tipo A faz com que as pessoas tornem-se mais repetitivas e egocêntricas. Elas têm dificuldade em deixar os outros se expressarem e impaciência ao ouvir. Por isso acredito, sim, que a Síndrome da Pressa pode afetar diretamente a vida pessoal de qualquer um.

RH - Os profissionais considerados workaholics sofrem obrigatoriamente da Síndrome da Pressa?
Andrea Bacelar - Não necessariamente. Porém, os workaholics, antes visto como ótimos funcionários para empresa, em médio prazo são os que mais apresentam algum tipo de doença, seja ela psicológica ou física. Além do mais, pela exaustão a que eles se submetem, acabam possuindo uma margem de erro maior. Não acho bom generalizar, mas acredito que muitos workaholics apresentam sintomas da Síndrome da Pressa. A dificuldade em se desligar do trabalho, mesmo em períodos de lazer ou de folga, é um destes indicadores. É bom ressaltar aqui, mais uma vez, que a síndrome não é uma doença, mas sim uma alteração no padrão comportamental e pode atingir homens e mulheres de qualquer idade, inclusive crianças.

RH - Para se livre da Síndrome da Pressa, qual o primeiro passo a ser dado?
Andrea Bacelar - O primeiro passo é o desejo de mudar. Depois disso, é necessário o acompanhamento de um psicólogo com experiência no assunto. Mas, é importante perceber que, ter pressa nem sempre deve ser encarado como um problema. A grande questão é saber manejá-la e lembrar que algumas atividades exigem calma. Existem pessoas que também precisam destas características e que, se souberem ajustar e utilizar a pressa no momento certo, não serão acometidas da síndrome.

RH - Quem sofre da Síndrome da Pressa, obrigatoriamente tem que ser afastado do trabalho para se tratar?
Andrea Bacelar - Depende do caso. Acompanhamento psicológico é importante e pode ser conciliado com o trabalho. Porém, algumas pessoas precisam sair da rotina de estresse para realizar um tratamento. Acredito que valorizar os momentos fora do trabalho, como aumentar um pouco o tempo de almoço, evitar cafeína, seja um grande passo. Outros vão necessitar de medicação.

RH - Quais as medidas profiláticas que as pessoas podem tomar para se defender da Síndrome da Pressa?
Andrea Bacelar - Diminuir a velocidade do corpo, tentando dividir melhor o tempo. Atividades físicas também são fundamentais. Existem medidas muito simples medidas para evitar a síndrome: planejar e se organizar com antecedência, definir prioridades, acordar meia hora mais cedo e sem ter necessidade em se apressar e aprender a dizer "não". As mudanças no modo e estilo de vida são fundamentais. Além de aprender a trabalhar com as emoções e com as preocupações.

RH - Em relação às organizações, que ações podem ser aplicadas para evitar que seus profissionais sejam vítimas da Síndrome da Pressa?
Andrea Bacelar - Algumas empresas já estão adotando programas de ginástica laboral, que é a prática realizada voluntariamente de atividades físicas desenvolvida pelos trabalhadores no próprio local de trabalho. Este tipo de programa tem como objetivo oferecer aos seus funcionários bem-estar físico, comportamental e mental.

Fonte: http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_Vida/Entrevista/6760/sindrome-da-pressa-mais-uma-ameaca-a-saude-dos-profissionais.html

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