O estresse é um mal comum a pessoas de todas as partes
do mundo, das mais variadas idades e profissões. Recentemente a Isma-Brasil
(International Managente Association) confirmou que a essa realidade é muito
mais preocupante do que muitos imaginam. Pesquisas realizadas pela entidade
destacam que 70% dos brasileiros economicamente ativos sofrem de estresse.
Inclusive, estudos científicos comprovam que 60% das doenças são determinadas
pelo nível de estresse e o estilo de vida que as pessoas levam. Como efeito
dominó, surge em cena a chamada Síndrome da Pressa, um mal que leva os indivíduos
a realizarem tudo com mais rapidez em decorrência das exigências do mundo
globalizado. Vale salientar que a classe médica alerta que esse quadro de
ansiedade permanente pode transformar-se em doença e já acomete cerca de 30%
dos trabalhadores brasileiros.
Para conhecer e saber como se prevenir contra a Síndrome da Pressa, o RH.com.br
entrevistou Andrea Bacelar, neurologista e vice-presidente da Associação
Brasileira do Sono. Segundo a médica, o tratamento mais indicado para esse mal
é reduzir a velocidade do próprio corpo e administrar melhor o tempo para todas
as atividades. "A Síndrome da Pressa gera demonstração de impaciência,
pouco interesse do indivíduo pelo o que os outros falam, demonstração de
intolerância com as pessoas que têm um ritmo mais lento", assinala. Como
ninguém está livre dos efeitos estressores, essa entrevista certamente é do seu
interesse. Afinal, ela pode ajudá-lo a se prevenir da Síndrome da Pressa.
Aproveite a leitura!
RH.com.br - Recentemente, a Isma-Brasil (International Management
Association) revelou dados sobre o estresse em brasileiros economicamente
ativos. Quais foram as informações que mais despertaram a preocupação dos
especialistas na área da Saúde?
Andrea Bacelar - O estresse foi uma das preocupações mais acentuadas no
estudo da Isma-Brasil. O estresse até um determinado limite, é saudável e
necessário para os trabalhadores em geral. Porém, o que devemos ficar atentos é
quando ele passa deste limite considerado saudável, uma vez que pode
desencadear uma série de doenças, a partir de alterações psico-fisiológicas.
Estas alterações afetam, inclusive, o sistema imunológico.
RH - Quais os principais fatores que contribuem para essa realidade da
saúde do trabalhador no Brasil?
Andrea Bacelar - Não apenas no Brasil, mas em todo mundo, observamos que
as muitas pessoas querem resultados rápidos, seja em tratamentos médicos, no
trabalho e, inclusive, na sua vida pessoal. Algumas pessoas sabem lidar melhor
com o tempo, outras já possuem uma predisposição ao desenvolvimento do estresse.
Hoje em dia, é muito difícil encontrar alguém que não tenha que cumprir
horários e prazos. Somos cobrados diariamente a realizar o melhor, superar
nossos próprios limites. Porém, há pessoas que se cobram demasiadamente e
entram em um processo de grande estresse que acaba desencadeando doenças que
precisam ser tratadas, mas nem sempre o são. As conseqüências para essas
pessoas, geralmente, são desagradáveis.
RH - Os dados apontados pela Isma-Brasil assinalam para uma nova
preocupação: o surgimento da Síndrome da Pressa. Quais os principais sintomas
das pessoas que são acometidas por este mal?
Andrea Bacelar - A Síndrome da Pressa é o nome pelo qual é conhecido o
Padrão Comportamental tipo A. Mas vale ressaltar que ele não é uma doença. É
apenas um passo para adquiri-las. Quem sofre deste mal, em geral, é uma pessoa
que tem uma grande necessidade de fazer tudo e sempre de forma rápida. Essas
pessoas têm bastante dificuldade em se concentrar. A impaciência, a
irritabilidade e o acúmulo de atividades, por exemplo, são características
importantes a serem analisadas. Os momentos para esses indivíduos de lazer são
raros e, quando ocorrem, não são devidamente aproveitados.
RH - Existe um perfil predominante para quem é acometido pela Síndrome da
Pressa?
Andrea Bacelar - Sim, existem algumas características que percebemos em
indivíduos com padrão comportamental Tipo A como, por exemplo: um aperto de mão
firme, andar acelerado, respostas abreviadas nas conversas, tendência a cortar
os finais das palavras, hostilidade constante em situações que acreditam que
irão perder tempo, hábito de interromper quando os outros falam e
irritabilidade com falas explosivas. Estas são algumas características que
traçam o perfil de pessoas acometidas pela Síndrome da Pressa.
RH - Esse mal decorrente do ritmo acelerado das pessoas pode ser
considerado uma doença ocupacional?
Andrea Bacelar - A Síndrome da Pressa é decorrente das exigências do mundo
moderno. As doenças ocupacionais estão relacionadas exclusivamente às questões relacionadas
ao trabalho. Obviamente, as cobranças por produtividade e a eficiência nas
empresas influenciam, e muito, o aparecimento da Síndrome da Pressa. Contudo,
essa síndrome pode acometer até mesmo em crianças, não estando relacionada
obrigatoriamente apenas a essas questões que citei.
RH - Quais as principais consequências que a Síndrome da Pressa provoca à
saúde física e emocional das pessoas?
Andrea Bacelar - O indivíduo ansioso vive em posição de constante alerta
físico e psíquico. O reflexo em seu corpo revela-se em dilatação das pupilas,
aceleração do coração, divergência do sangue para musculatura voluntária,
aumento da glicose circulante e até mesmo dilatação dos brônquios. Ser um
apressado compulsivo aumenta o risco de infarto, úlceras, gastrites e pode
prejudicar, consideravelmente, as relações pessoais. Este distúrbio também
apresenta sintomas como, por exemplo, hipertensão, problemas cardiovasculares,
dores musculares difusas e distúrbios do sono por apresentarem um estado de
hiperalerta emocionais - a sensação de angústia e ansiedade -, bem como
comportamentais, que se refletem no abuso do consumo de álcool, cafeínas e
excitantes do sistema nervoso central.
RH - Quais os impactos que a Síndrome da Pressa gera ao desempenho do
trabalhador?
Andrea Bacelar - O ambiente de trabalho, em muitos casos, contribui
decisivamente para o aparecimento da Síndrome da Pressa e é onde percebemos os
grandes impactos. Alguns indivíduos tornam-se agressivos e extremamente
competitivos. Eles estão sempre querendo produzir mais, porém em menos tempo.
Contudo, a dificuldade em se concentrar é uma das características que pode
atrapalhar o desempenho do profissional. A criatividade também poderá ser
enfraquecida pela permanência repetitiva e a forma com que encaram, ou melhor,
como essas pessoas querem resolver os problemas de forma imediata.
RH - A Síndrome da Pressa também afeta a vida pessoal do
trabalhador?
Andrea Bacelar - Sim e bem diretamente. Uma pessoa que esteja sofrendo deste
mal não consegue relaxar nem mesmo nas horas de lazer. Estão sempre tensas e
com a sensação de que não há tempo a perder. Este mal não afeta apenas a vida
profissional, mas também a vida pessoal. O Padrão Comportamento Tipo A faz com
que as pessoas tornem-se mais repetitivas e egocêntricas. Elas têm dificuldade
em deixar os outros se expressarem e impaciência ao ouvir. Por isso acredito,
sim, que a Síndrome da Pressa pode afetar diretamente a vida pessoal de
qualquer um.
RH - Os profissionais considerados workaholics sofrem obrigatoriamente da
Síndrome da Pressa?
Andrea Bacelar - Não necessariamente. Porém, os workaholics, antes visto
como ótimos funcionários para empresa, em médio prazo são os que mais
apresentam algum tipo de doença, seja ela psicológica ou física. Além do mais,
pela exaustão a que eles se submetem, acabam possuindo uma margem de erro
maior. Não acho bom generalizar, mas acredito que muitos workaholics apresentam
sintomas da Síndrome da Pressa. A dificuldade em se desligar do trabalho, mesmo
em períodos de lazer ou de folga, é um destes indicadores. É bom ressaltar
aqui, mais uma vez, que a síndrome não é uma doença, mas sim uma alteração no
padrão comportamental e pode atingir homens e mulheres de qualquer idade,
inclusive crianças.
RH - Para se livre da Síndrome da Pressa, qual o primeiro passo a ser
dado?
Andrea Bacelar - O primeiro passo é o desejo de mudar. Depois disso, é
necessário o acompanhamento de um psicólogo com experiência no assunto. Mas, é
importante perceber que, ter pressa nem sempre deve ser encarado como um
problema. A grande questão é saber manejá-la e lembrar que algumas atividades
exigem calma. Existem pessoas que também precisam destas características e que,
se souberem ajustar e utilizar a pressa no momento certo, não serão acometidas
da síndrome.
RH - Quem sofre da Síndrome da Pressa, obrigatoriamente tem que ser
afastado do trabalho para se tratar?
Andrea Bacelar - Depende do caso. Acompanhamento psicológico é importante
e pode ser conciliado com o trabalho. Porém, algumas pessoas precisam sair da
rotina de estresse para realizar um tratamento. Acredito que valorizar os
momentos fora do trabalho, como aumentar um pouco o tempo de almoço, evitar
cafeína, seja um grande passo. Outros vão necessitar de medicação.
RH - Quais as medidas profiláticas que as pessoas podem tomar para se
defender da Síndrome da Pressa?
Andrea Bacelar - Diminuir a velocidade do corpo, tentando dividir melhor o
tempo. Atividades físicas também são fundamentais. Existem medidas muito
simples medidas para evitar a síndrome: planejar e se organizar com
antecedência, definir prioridades, acordar meia hora mais cedo e sem ter
necessidade em se apressar e aprender a dizer "não". As mudanças no
modo e estilo de vida são fundamentais. Além de aprender a trabalhar com as
emoções e com as preocupações.
RH - Em relação às organizações, que ações podem ser aplicadas para evitar
que seus profissionais sejam vítimas da Síndrome da Pressa?
Andrea Bacelar - Algumas empresas já estão adotando programas de ginástica
laboral, que é a prática realizada voluntariamente de atividades físicas
desenvolvida pelos trabalhadores no próprio local de trabalho. Este tipo de
programa tem como objetivo oferecer aos seus funcionários bem-estar físico,
comportamental e mental.
Fonte: http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_Vida/Entrevista/6760/sindrome-da-pressa-mais-uma-ameaca-a-saude-dos-profissionais.html