terça-feira, 10 de dezembro de 2013

CRIATIVIDADE PARA ALCANÇAR RESULTADOS

(Os sete passos da Idéia ao Produto)
SYLVIO ZILBER - Consultor do Instituto MVC

 É surpreendente o número de Empresas que treinam seus colaboradores em criatividade e que não vislumbram resultados posteriores mensuráveis. "Alguns anos atrás uma das maiores companhias de aviação dos EUA gastou MUITO dinheiro treinando seu pessoal para ser criativo e tudo que conseguiu foi criar frustrações", diz Dean Schoerder, professor e diretor do MBA da Valparaiso University (Training Review - Dezembro de 2001).
Em uma organização onde prevalece a estrutura rígida dos organogramas e dominada por regras e padrões, mandar seu pessoal fazer cursos para "sair da caixa" (be out of the box é um dos jargões da criatividade) e quebrar rotinas e paradigmas para depois, assim que os cursos terminam, devolvê-los aos seus cubículos, físicos e mentais, é buscar o mesmo resultado da empresa americana de aviação. Como disse Einstein (na peça teatral "Einstein", de Gordon Wiseman), desenvolver a criatividade é ponto de partida. O processo é mais longo e "suado" do que se imagina.

Criatividade é a etapa do processo que visa PRODUZIR IDÉIAS NOVAS.Desenvolver as habilidades para "pensar diferente" e "perceber o diferente" é um primeiro passo fundamental para fomentar um processo criativo conseqüente. Mas é insuficiente.
Eu mesmo venho dando, há muitos anos, eventos como cursos, seminários e workshops para as pessoas trabalharem seu lado criativo e desenvolverem sua imaginação, intuição, percepção e criatividade. Depois, a grande maioria delas volta para suas organizações e retoma seu dia-a-dia rotineiro e "confortável", deixando os momentos agradáveis do evento como um "tempo de recreio", sem conseguir instrumentalizar os conceitos trabalhados e alavancar sua criatividade no trabalho cotidiano. Eu e eles nos sentimos frustrados. Por quê?

Participei há 4 anos, no Nordeste, de um Encontro de Recursos Humanos com executivos profissionais de todo o Brasil e, durante um trabalho coordenado por uma equipe que utilizava técnicas de psicodrama, foi sugerido que se fizesse uma representação dramática de como eles viam a criatividade nas empresas. Um grupo escolheu fazer chapéus de fada com cartolina e se munir de varinhas de condão. Sua visão acrítica de "soluções mágicas" para o processo criativo me impactou muito. Se descontarmos um pouco o evidente exagero caricatural da solução encontrada, acredito que esta seja uma visão subjacente em muitas organizações.

Transformar idéias em resultados dá bastante trabalho. Costumamos dizer que, no processo criativo, "são necessários 5% de inspiração e 95% de transpiração". E não há exagero nesta afirmação. Estes 5% são fundamentais para quaisquer inovações. Hoje, mais do que nunca, idéias inovadoras são o principal produto de muitas organizações. Para que idéias novas se transformem em resultados, HÁ que ser percorrido um caminho trabalhoso:

1º - O trabalho criativo de gerar idéias e alternativas novas. Estes são parte dos 5% que necessitam de inspiração, talento, intuição e arte. Este é o momento "gostoso" e "divertido" do processo Nesta etapa, quantidade gera qualidade. É conhecida a equação 1/80 (são necessárias, em média 80 idéias para que uma dê resultado). E as muitas ferramentas criativas que exercitamos contribuem para este 1º passo.

2º - O trabalho imaginativo de ampliar o repertório de idéias. O estoque de idéias é a base para as inúmeras patentes registradas pelas Organizações à espera do momento oportuno para serem lançadas no mercado. Em 1998, a Siemens registrou patentes de 1200 "idéias" novas. Já lançaram no mercado menos de 20 delas. Vem daí o conceito atual deBanco de Idéias. Exercitar o raciocínio divergente via instrumentos apropriados, que são muitos, pode nos levar a ultrapassar com êxito este 2º passo.

3º - O trabalho criterioso de selecionar a melhor ideia. A avaliação minuciosa das idéias novas ou estocadas deve levar a uma escolha adequada. Qual deverá ser a ideia mais econômica, mais rapidamente aceitável pelo mercado, mais fácil de produzir, de maior impacto, que está de acordo com as leis, etc. Aqui, as técnicas do raciocínio lógico e convergente devem reger a aplicação de uma Grade de Critérios que leve a ultrapassar esta etapa.

4º - O trabalho metodológico de desenvolver a ideia selecionada (submetê-la a um Check List básico -WWWWWH - quem, o que, porquê, onde, quando e como aplicar a ideia desenvolvida). Aqui o raciocínio ao mesmo tempo divergente / convergente deve prevalecer. A diversidade de uma equipe criativa pode ajudar a enxergar os diversos aspectos da cadeia de produção da Empresa e onde encaixar nela o novo imaginado. Diversidade deve ser entendida não como outra cor da pele e dos olhos ou diferenças de sexos ou raças, mas sim como cabeças diferentes, visões e formações culturais diferentes. Esta é uma das etapas mais férteis e valiosas do processo, que deve levar ao passo seguinte.

5º - O trabalho objetivo, conseqüente da etapa anterior, de formatar a ideia em um produto, processo ou serviço (ela deve resultar em algo proveitoso). Aqui o raciocínio técnico e o conhecimento do "metier" da organização são salvaguardas da efetividade dos resultados deste passo.

6º - O trabalho argumentativo de convencer os outros (colegas, superiores, acionistas) de que a ideia é boa (somente o efetivo comprometimento dos envolvidos leva uma ideia a se concretizar).Nesta etapa é preciso dominar as várias estratégias argumentativas, saber negociar apoios e angariar "sócios da ideia", para transformar o que foi construído até aqui em um resultado palpável. E então avançar para o último passo:

7º - O trabalho sistemático e mensurável de testar e aplicar o que resultou deste processo. As técnicas de pesquisa de mercado, de testes por amostragem e outras são aplicáveis nesta etapa. E então, comprovada a pertinência da ideia transformada em resultado, transformar o resultado em produto, processo ou serviço. E bom proveito (e bons lucros).

No caminho destes sete passos, devemos levar em conta que, muitas vezes, diante de uma dificuldade, em qualquer momento do processo, é preciso recuar alguns passos para refazer certas etapas, para então voltar a avançar com mais força.

Para que estas etapas sejam desenvolvidas (não necessariamente todas nem obrigatoriamente nesta ordem) é preciso, também e preliminarmente, criar um clima organizacional favorável e não repressivo, pois este caminho pressupõe riscos e erros, o que normalmente é abominado em todos os níveis das organizações.
Os riscos e os erros devem ser não somente absorvidos como estimulados. E os resultados devem ser premiados, gerando um clima organizacional criativo. Este é, para mim, o elemento que perpassa por todo o processo dos 7 passos e o mais determinante do sucesso de uma organização que se pretenda inovadora.

Como diz Alan Robinson , co-autor do livro Corporate Creactivity, "as organizações mais inovadoras transformam idéias em soluções de negócios relevantes e incrementam a criatividade como uma parte importante de seu foco estratégico". E ressalta: "Somente 5% do que nós chamamos de 'criatividade' é a ideia em si. O resto é liderar as pessoas para transformarem a ideia em resultado".


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