E assuma mais riscos. Ou alguém assumirá no seu lugar.
Há pouco tempo, conheci um executivo que possui uma
experiência muito interessante. Ele havia trabalhado por quase seis anos num
ministério, em Brasília, responsável por contratos e gerenciamento operacional
de gastos de um programa governamental que contava com aporte de milhões de
dólares vindos de um banco internacional de desenvolvimento. Promovia as
licitações necessárias, as contratações, enfim, cuidava de todos os
procedimentos burocráticos. Após sair do governo, teve uma rápida passagem pela
iniciativa privada: menos de três meses como diretor administrativo de uma
empresa de comunicação. Foi demitido.
Na semana passada, liguei para ele e
perguntei se podia contar a história nesta coluna. Ele autorizou, com a
seguinte frase: "Apanhei para aprender, tomara que meu aprendizado ajude
alguém a não cair na mesma armadilha".
A armadilha à qual ele se referia era o medo.
Sua norma
de conduta era cumprir rigorosamente todos os procedimentos previstos nos
manuais, seguir as regras religiosamente, agir dentro de todas as formalidades
possíveis. Ao mesmo tempo, tentava a todo custo evitar "trombadas" e
"disputas". Tinha medo de se envolver em conflitos, medo de ser repreendido
por alguma auditoria, medo de ser acusado de alguma falha administrativa.
Vivia
numa constante "operação-padrão". Esse "treinamento"
imposto pela rigidez burocrática do serviço público levava a duas conseqüências
imediatas: as coisas demoravam para andar e nunca surgia uma solução inovadora.
Quando ele aplicou esse método numa empresa privada, descobriu que gerava ainda
uma terceira conseqüência, invisível em seus anos de governo: prejuízo.
O medo trava a criatividade e a produtividade. E isso
não vale apenas para quem esteve num cargo público. O desemprego, a diminuição
do número de postos de executivos, as incertezas sobre o futuro, a competição
acirrada, tudo isso tem disseminado o medo também fortemente na iniciativa
privada, entre profissionais de todas as áreas.
Os profissionais têm medo de perder o emprego. Os
executivos têm medo de perder o status profissional -- e, em conseqüência, o
status social. Os empresários e acionistas têm medo de perder a empresa. E
todos, por mais que busquem, não encontram respostas prontas na experiência
passada ou nos manuais do presente. É cada vez mais difícil traçar cenários
futuros num mundo em transformação acelerada. Vivemos numa "bolha do
tempo".
Nessa bolha, a principal arma que possuímos é o
"método da tentativa e erro", em lugar dos ensinamentos tradicionais
e das teorias consagradas.
Tentar coisas diferentes, apostar em inovações, sem
nunca ter certeza de que vai dar certo. Experimentar. O nó da questão é que o
medo inviabiliza essa postura. Quem tem medo não arrisca, fica paralisado e não
encontra caminhos novos. As normas, os procedimentos e os hábitos empresariais
são adotados como "escudos" para justificar a paralisia.
A essência do mercado é o risco. Isso quer dizer
imaginar, descobrir novas formas de atuação, às vezes atropelar hábitos e
manuais, para ser diferente e melhor.
"É assim que tem de ser feito." "São
essas as normas." "Há uma série de procedimentos que devemos cumprir
antes disso." Essas frases vão se tornando comuns numa situação de
amedrontamento.
Você tem usado essas frases?
Se a resposta é sim, está na hora
de enfrentar seus medos e assumir mais riscos.
Ou alguém os assumirá no seu
lugar.
Artigo de autoria de Simon M. Franco publicado na
Edição 800 da Revista EXAME
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