Luiz
Carlos Hummel Pires
O “emprego” e a felicidade pessoal
O “emprego” e a felicidade pessoal
Foi em um desses eventos para executivos, sobre planejamento estratégico que encontrei um antigo vizinho e que me fez lembrar do Sr. Luigi Bianco.
Gigio – era assim que todos nós o
chamávamos - era um sapateiro no bairro do Brás em um tempo que já faz parte da
história, quando, por lá, falava-se meio cantado, influência da forte imigração
italiana.
O velho Gigio, não tão velho – não
passava dos quarenta – embora, para nós, meninos de doze e treze anos que jogávamos
bola na rua, ele era um senhor - tinha a simpatia e o respeito de toda a
vizinhança: além de ser um bom sapateiro, era solidário e prestativo com todos,
na alegria e na tristeza, sempre pronto a ajudar, além de suas falas filosóficas
que narrava tão bem à sua platéia: seus fregueses que ficavam por ali enquanto
ele dava uma “manutenção” em seus pares de sapato.
Ninguém como ele colocava tão bem uma
meia-sola, os sapatos saíam como novos de sua oficina! Ele realmente gostava da
sua profissão.
Foi uma de suas falas que me fez
lembrar do bom artesão: estava eu em sua sapataria com ele a costurar uma bola
de capotão – ia ter “jogo contra” e a “redonda” tinha que estar em forma! –
quando chega o filho da Dna. Maria do 21, com um par de sapatos, o único que
ele tinha, para arrumar. O menino, mais velho do que eu, estava com um ar não
sei se de preocupado ou assustado e o Gigio também notou, tanto que foi logo
perguntando:
- Hei, paisà! Qual é o problema? Porquê
esta cara de choro? – responde o menino: É “seu” Gigio, fui fazer um teste lá
na Matarazzo do Belenzinho e fui reprovado, vou ter que continuar trabalhando
na venda do senhor Adiz. Emprego como aquele não se encontra todo dia...
- “Bella Roba” – respondeu-lhe o
sapateiro – Se perdeu a oportunidade de arrumar um novo emprego hoje, amanhã arruma
outro igual ou melhor! – e continuou ele – Emprego é como sapato: você tem que
escolher bem, não é só o modelo que importa, precisa calçar de acordo com o seu
pé, se a firma tem uma imagem pra fora bonita, mas com um ambiente de trabalho
schifoso é como sapato da moda que aperta os dedos do pé: todo mundo admira,
mas você sofre um bocado para andar e não vê a hora de chegar em casa para se
livrar dele. Agora, se o sapato for largo, também não é bom, é como um emprego
honesto como você tem hoje e que não dá muita importância e não se dedica o necessário
– cuidado! Um dia o sapato sai do seu pé e você perde algo que só vai perceber
a falta quando não tiver mais.
- Por isso, caro amigo, encontrando um
emprego, não importa se é em uma grande companhia ou se vai lhe pagar um rio de
dinheiro, o que importa é se o que você faz lhe agrada e o ambiente seja bom,
que haja vida! Neste caso, use sapatos com cadarços e amarre bem eles, e sinta
o seu caminhar firme e pra frente. Este vale a pena segurar!
Claro que a gente fica triste, pois
emprego é uma segurança, segurança da sua cabeça que você hoje não vai
entender, mas, mais tarde, vai saber que a coisa mais importante desta vida é a
sua própria vida, é fazer o que se gosta, a felicidade é só sua, de ninguém
mais. Por isso, tira esse ar de tristeza da cara e avanti... a vida tem muito
para lhe oferecer e o trabalho é uma dessas coisas, mas, lembra, não é tudo! O
par de sapatos é importante para proteger os pés, mas você nasceu sem eles.
Muito tempo já se passou! O jovem
preocupado em nossa história, que, por coincidência, encontrei naquele evento
sobre planejamento estratégico, ocupa hoje uma posição de diretor financeiro em
uma grande empresa e continua com aquele olhar triste. Quase lhe perguntei
sobre os seus sapatos...
Hoje não existe mais bola de capotão,
muito menos sapatos que recebem meia-sola, tanto a bola como os sapatos são
produtos descartáveis.
E os empregos? Estes se diversificaram
um bocado! Poucos ganham muito e muitos procuram uma oportunidade em um mercado
cada vez mais técnico e competitivo. Tem-se que andar muito, gastar muita sola
de sapato para encontrar, nem sempre, um emprego que se ajuste à nossa satisfação.
Mas, é bom lembrar: o novo par de sapatos não precisa estar na moda e nem
custar um dinheirão. Como diria o velho Gigio com seu sotaque romano: O
importante é ser honesto e ter um emprego decente – Bons tempos aqueles...
E você, anda com os seus sapatos
firmes? Não esqueça de lhe dar uma manutenção, uma engraxada de vez em quanto,
para preservar o couro e ele lhe responder de forma macia ao seu pisar. Agora,
se eles estão lhe apertando os pés, dê um jeito de trocá-los e se não for
possível, procure amolecer o couro, consulte um velho sapateiro para ajudá-lo
ou, caso contrário, você continuará a sofrer, mas mantendo as aparências!
Fonte: http://www.selecta-es.com.br/
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