quinta-feira, 9 de junho de 2011

“Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”

É muito comum encontrarmos pessoas que ocupam posições de liderança comportando-se de acordo com o lema acima. Este descompasso entre o discurso e a ação gera perda de credibilidade e a consequente desmoralização desses líderes a ponto de seus liderados afirmarem: “teus atos soam tão alto aos meus ouvidos que me impedem de ouvir a tua voz”. 

Em contrapartida, a coerência entre o que se diz e o que se pratica conferem autoridade moral para quem assim age de modo a obter, por decorrência, a adesão dos seguidores à sua postura transparente. É importante ressaltar que a reputação de tais líderes autênticos deve ser construída ao longo de toda sua vida pela consistência de seu comportamento fundamentado em princípios e valores sólidos. Eis porque se costuma dizer que “caráter é aquilo que você faz quando ninguém está vendo”.
 

Infelizmente, em nossa realidade brasileira estamos impregnados pelo espírito do (anti) herói Macunaíma que buscava seus próprios interesses procurando levar vantagem em tudo através do famoso jeitinho.  Tal filosofia é exteriorizada por frases do tipo: “eu sou mais eu”; “cada um na sua”; “salve-se quem pude”; “todo mundo faz, por que não eu”?  Uma das primeiras demonstrações deste traço cultural remonta à era do Brasil colonial, podendo ser constatada já na carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei D. Manoel, no fim da qual ele solicitava favores para seu genro, Jorge de Osório.

“Para os amigos, tudo; para os inimigos, a força da lei”, frase atribuída a Getúlio Vargas refletindo um ranço clientelista, apregoando uma relação privilegiada da classe dominante em relação à legislação vigente. Em decorrência, a lógica da lei dependeria do lado em que se está: Muitas pessoas são capazes de fazer um discurso inflamado contra o nepotismo, durante um happy hour com os colegas, mas, sem qualquer pudor, pedem a um político amigo que arranje um emprego para seu filho.

“A oportunidade faz o ladrão” é outro argumento comumente adotado por aqueles que tentam explicar uma apropriação indébita como um ato de fraqueza perfeitamente justificável. Afinal, deixar de aproveitar uma oportunidade oculta pelo anonimato é que seria uma tremenda “burrice”, apregoam os “amigos do alheio” de plantão.

Se quiser fazer um exame de consciência, veja como você agiria nas seguintes situações hipotéticas:
• Ao encontrar, numa rua deserta, uma carteira contendo 700 reais em notas de 100, além de documentos, o nome e o endereço de seu dono.
• Ao constatar que recebeu um troco a mais num caixa de supermercado.
• Ao perceber que a pessoa sentada ao seu lado no metrô acaba de se levantar para descer, esquecendo no banco um celular que só você viu.
• Ao ouvir de um guarda de trânsito uma “insinuação” de que poderia deixar de lhe aplicar uma multa por excesso de velocidade em troca de um “agrado” no valor de 10% do referido montante, mais a vantagem de se livrar dos pontos em sua carteira de habilitação.
• Ao considerar uma proposta de redução de 30% no preço de uma consulta, se aceitar pagá-la sem a necessidade de recibo.
• Quaisquer que sejam as suas respostas, você estaria agindo de acordo com seus princípios e valores. 
A conclusão para estas reflexões é que honestidade é uma questão de essência, não de quantidade ou de ocasião. Assim, é tão corrupto o político que desvia polpudas verbas públicas para sua conta particular em paraísos fiscais quanto um cidadão comum que sonegue imposto de renda sob o argumento de que os governantes não prestam.
Américo Marques Ferreira (Consultor Sênior do Instituto MVC, Autor de programas de T&D à distância sobre Gestão de Pessoas, Mudança e Team Building)

Nenhum comentário:

Postar um comentário