segunda-feira, 20 de junho de 2011

Explicar as causas de nosso comportamento nos ajuda a mudar?

por Regina Wielenska





Em tese, se sabemos o que causou certo modo de agir, significa que saberíamos, ou estaríamos a um passo de, modificá-lo. Tremendo equívoco.

Quer entender melhor o que se passa?

Primeiro aspecto: estamos acostumados a dizer que fizemos isto ou aquilo porque estávamos nervosos ou tristes (pode ser qualquer outro sentimento, a depender da situação). Assim, atribuímos nosso comportamento a um estado emocional sobre o qual temos reduzida chance de exercer influência direta sobre ele. No entanto, se pensarmos um pouco, a cadeia de eventos causais pode estar bem incompleta. Afinal de contas, o que gerou aquela emoção, sentimento? Resposta simples: um fato 
x e suas circunstâncias. Mas nem sempre a ocorrência de um fato x resulta nos demais acontecimentos que estamos tentando explicar. E aí? “Fui mal na prova porque estava nervosa. Nervosa com o quê? Com o namorado que aprontou, foi sozinho pra balada e me deixou na mão”. E por que ter problema com namorado impediu a menina de ter bom desempenho na prova?

Ela não tinha estudado a matéria com antecedência, aí ficou nervosa e chateada no fim de semana, só pensou na traição do namorado durante esse período e não se dedicou ao estudo. Então provavelmente ela foi mal porque não estudou em tempo hábil, deixou para a última hora, e mesmo se o namorado não tivesse aprontado, talvez ela não conseguisse ter nota suficiente por falta de tempo e de dedicação.

Sem dúvida, no curto prazo, namorar deve ser mais atraente do que estudar alguma matéria insípida, inserida no currículo obrigatório. Então uma análise que afirmasse apenas que “ela foi mal porque se sentiu nervosa” certamente não apontaria como prevenir mais problemas desse tipo.

Há pessoas que até conseguem explicar de um jeito mais elaborado seu comportamento e o dos outros também. Estabelecem relações precisas entre eventos presentes e sua história de aquisição. É o caso da pessoa que afirma que tem dificuldade em confiar nas pessoas porque efetivamente cresceu num lar no qual reinavam as mentiras, dissimulações e as decepções. De fato, dois frequentes mecanismos de aprendizagem são a observação dos padrões de comportamento alheios (e dos efeitos que eles produzem no mundo) e também sentir na pele as consequências dos diferentes jeitos de agir, próprios ou alheios. O problema é se essa história de vida se converter numa justificativa-padrão para os comportamentos destrutivos do presente: eu sou assim porque vivi tais e tais experiências.

Parece uma antiga canção da personagem Gabriela: “Eu nasci assim, vou ser sempre assim, Gabriela...” Precisamos entender que a história pode explicar o passado, as condições de aquisição de um padrão de comportamento. O mistério é descobrir um jeitão de fazer diferente, quebrar a rotina, experimentar outros caminhos. Sair da armadilha pode não ser fácil. O que ajuda muito é desenvolvermos a sensibilidade a dois conjuntos de fatores: ficarmos antenados nos nossos valores e crenças (descobrir o que eu quero pra minha vida, que me trará sentido profundo e ter clareza das minhas regras, das crenças, se elas combinam ou não com os reais contextos nos quais minha vida se desenrola) e prestar atenção no que o meio me oferece em termos de oportunidades, recursos e dicas.

Então não basta saber como um problema se formou em nosso desenvolvimento. O jeito é trabalhar no sentido de transformar o que precisamos. Se experimentarmos novas formas de agir, talvez possamos nos deparar com novos resultados, mas isso requer empenho, um sólido compromisso com as metas que definimos.

Explicar nossas ações é fácil, mas o mais difícil e gratificante é dar conta de mudar. Aí só nos resta arregaçar as mangas e dar uma chance à vida e a nós mesmos. 

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