Em uma conversa que gravei com ele na casa onde mora, em
Londres, o filósofo suíço Alain de Botton contou que, quando está passando por
uma daquelas fases de angústia e insatisfação a que todos nós estamos sujeitos,
inclusive os filósofos, ele costuma ir ao aeroporto de Heathrow para observar a
movimentação de aviões e passageiros. Segundo de Botton, ao ver os aviões
decolando e aterrissando, e as pessoas chegando e partindo, ele se lembra do
quanto o mundo é cheio de possibilidades: lugares que não conhecemos, pessoas
que nunca encontramos, histórias para serem vividas, novas chances, novas
paisagens…
Essa constatação faz com que ele volte para casa mais preparado
para entender o que está vivendo e, eventualmente, para sair do imobilismo em
que os estados sombrios costumam nos fazer mergulhar.
Nada
mais saudável do que essa mudança de foco. Às vezes, precisamos reeducar o
olhar, exercitar a visão que se acostuma a, preguiçosamente, contemplar as
mesmas imagens. Quando olhamos o mundo pela mesma perspectiva, nossa percepção
vai se afunilando.
Passamos a enxergar nossos problemas de forma distorcida, a ter
uma interpretação limitada da nossa própria realidade. Viajar é uma das
maneiras de combater esse olhar viciado. Mas não é preciso atravessar países e
continentes para aguçar a visão, nem é necessário se deslocar até o aeroporto
mais próximo. Às vezes, basta pegar um caminho diferente na hora de ir para o
trabalho, mudar a janela de casa de onde se costuma olhar a rua, ler o livro de
um autor que nunca lemos, ver um filme que sacode nossas crenças, conversar com
alguém que nos faz pensar.
É
muito fácil nos acomodarmos numa vida que não nos preenche e acumular
frustrações como se fossem inevitáveis. Quando paramos de olhar para os lados,
acabamos estacionando ou criando raízes na infelicidade. Às vezes, um
acontecimento inesperado nos arranca dessa inércia existencial: uma perda, uma
doença, uma mudança de planos – tudo isso pode nos fazer enxergar melhor. Mas
talvez o ideal mesmo seja avaliar a visão periodicamente, em vez de esperar até
que algo nos atropele, confronte nossas convicções e nos obrigue a sair do
lugar.
Ler
mais, conversar mais com quem nos questiona, observar o deslocamento dos aviões
ou dos pássaros, abrir janelas, aprender uma língua, fazer uma longa caminhada
em silêncio, meditar… São infinitas as possibilidades para ampliar nosso foco,
aguçar nossos sentidos e, eventualmente, nos ajudar a enfrentar circunstâncias
de vida e estados de espírito que podem parecer incontornáveis.
Por
Leila Ferreira
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