segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Janela de avião

O mundo está apressado. Nós estamos apressados.

Tão apressados que sequer temos tempo de perceber que já não temos mais tempo para nós mesmos.

Estamos apenas correndo e, muitas vezes, sem sabermos bem para onde estamos indo ou aonde queremos chegar.

E para refletir sobre o tema, compartilho nesse post um texto muito legal que recebi. Infelizmente não sei o autor para dar o justo e merecido crédito, mas deixo o meu sincero reconhecimento por esse belo trabalho que segue adiante.

“Eu era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de voar era enorme…

Eu queria, de qualquer jeito, sentar-me junto à janela e acompanhar o voo desde o primeiro momento.

Queria sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem.

Ao olhar pela janela, via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul. Tudo era novidade e fantasia.

Cresci, terminei a faculdade e comecei a trabalhar.
No meu trabalho, desde o início, voar sempre foi uma necessidade constante.

As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia.

No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal…

O tempo foi passando, a correria aumentando, e eu já não fazia mais questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.

Perdi o encanto.

Pensava apenas em chegar e sair. Acomodar-me rápido e sair rápido.

As poltronas do corredor agora eram uma exigência. Mais fáceis para sair, sem ter que esperar ninguém.

E eu sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

Mas, por um desses maravilhosos ‘acasos’ do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível.

O avião estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona.

Sem pensar, concordei de imediato. Peguei meu bilhete e fui para o embarque.

Embarquei no avião e me acomodei na poltrona indicada: a janela.

Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.

E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara.

Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga.

Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.

Era de um azul tão lindo. Como eu jamais tinha visto.
E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.

Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que eu desprezava aquela vista.

E pensei comigo mesmo se em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela.

Será que eu tinha deixado de olhar pela janela da minha família, das minhas amizades, do meu trabalho e do meu convívio pessoal?

Concluí que, aos poucos e sem perceber, deixamos de olhar pela janela de nossas vidas.

Percebi que a vida também é uma viagem e, se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor.

As paisagens são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que realmente nos mantém vivos.

Por isso, decidi não mais andar pelos corredores.

Quero estar sempre bem próximo da janela para não perder nenhum detalhe”.



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