Não deixe que esse sentimento atrapalhe sua carreira
Luiz Eduardo, vice-presidente de uma empresa do Rio de
Janeiro (que pediu para ter seu nome trocado), está diante de uma chance de
vingança. Ele pediu demissão de seu último posto, há cerca de dois anos, porque
se considerou traído. Na empresa em que trabalhava, havia surgido uma vaga para
vice-presidente. Luiz tinha todas as qualificações e se preparava havia alguns
meses para assumir o posto. Mas, na hora H, a promoção foi dada a outro
diretor, que tinha ligações pessoais mais próximas com um dos principais acionistas
da empresa. "Não pude suportar o favorecimento e fui à luta. Rapidamente
consegui uma colocação em outra empresa de outro ramo, como
vice-presidente", diz ele.
Mas o que aconteceu nesses anos fez a situação mudar.
Luiz era um diretor fundamental para a antiga empresa e sua saída acabou
gerando impactos negativos. As coisas começaram a piorar e agora ele está sendo
chamado de volta para o cargo de presidente da empresa. Ele está em dúvida.
"Volto para o antigo ninho por cima, dando as cartas, ou permaneço onde
estou, com chances de em algum tempo ocupar a presidência? Voltar seria uma
vingança e tanto contra aqueles que não quiseram me dar a promoção no
passado..."
Diz o ditado que a vingança é um prato que se come
frio. Na vida profissional, é melhor ainda mudar o cardápio e não provar desse
prato. As razões para voltar ou não à antiga empresa não devem incluir o desejo
de desforra. Luiz deveria se concentrar objetivamente nos ganhos e nos
horizontes que a nova proposta envolve.
O que seria da vida profissional dele num retorno ao
antigo ninho? Antes de mais nada, é preciso considerar que ele voltaria a uma
empresa que está em crise. Em vez de dar continuidade a um trabalho vitorioso,
pegaria agora uma companhia que precisa dar a volta por cima. Luiz entraria com
um grau de responsabilidade e expectativa em alta voltagem. Seria presidente, é
verdade, mas numa posição de risco: sempre haveria alguém para dizer que
"tê-lo chamado de volta talvez tenha sido um erro", caso os
resultados não começassem a aparecer rapidamente.
Por outro lado, na atual empresa, ele está em rota
ascendente. Pode atingir o posto de presidente como conseqüência de sua
trajetória de êxitos. É uma perspectiva de crescimento. Ele próprio avalia que
ainda tem muita coisa a aprender e a fazer na empresa em que está.
Ver as coisas dessa forma evita também a tentação de
recusar por vingança. Seria também, afinal, um jeito de se vingar: "Se
eles não me quiseram antes, agora quem não quer sou eu". Ora, se a antiga
empresa não estivesse em crise, se a proposta representasse uma ampliação de
horizontes em relação ao momento profissional que ele vive hoje, o retorno
poderia ser positivo.
A perspectiva mais produtiva, nesse caso, é avaliar os
prós e os contras, pesar o presente e as perspectivas de futuro, e deixar o
passado em seu lugar como algo que precisa ser digerido, assimilado como
experiência e exorcizado, para que não fique como um fantasma a assombrar as
decisões profissionais.
Isso vale para qualquer fase de nossa trajetória profissional.
Agir em função do passado seja como "Aqui eu não piso mais" ou
"Um dia eu volto por cima" significará apenas carregar um peso
inútil, que não ajudará em nada a tomar as melhores decisões e construir,
realmente, uma carreira vitoriosa.
Artigo de autoria de Simon M. Franco, publicado na
Edição 803 da Revista EXAME
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