segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O “Sim” e o “Não” em processos seletivos - Qual é a forma ideal do candidato reagir a um “não”

Por Alexandre Peconick 

Aline Braga, Assistente de RH, conta alguns casos em que os candidatos podem ser lembrados por sua boa reação a um telefonema de feedback

     O processo de recrutamento e seleção não é uma relação mecânica, é humana. O retorno positivo ou negativo influencia decisivamente o destino de vidas humanas, com o perdão do pleonasmo.

     Aline Braga, Assistente de RH do Grupo LET faz uma média de 25 telefonemas por semana para dizer “sim” ou “não” aos candidatos. Ela afirma que até pode existir uma preparação e que “devemos saber a maneira certa de como dizer as informações aos candidatos”. Geralmente quando se dá o feedback aos candidatos a faz-se a opção pelo lado positivo da questão mesmo quando o gestor da vaga não o escolheu. “Nosso foco é sempre aproveitar a motivação do candidato para, no caso dele não ter sido aprovado em um processo seletivo, que ele permaneça em nosso banco de currículos”, explica Aline.

     Ela enfatiza ser uma situação delicada dizer um “não” ao candidato, porque devemos pensar que ele por vez é pai de família, com filhos e esposa, está desempregado. “Há processos seletivos com várias etapas para empresas multinacionais conhecidas e o candidato fica com o nível de expectativa bem alto; devemos pensar com cuidado, caso a caso, em como vamos realizar o chamado “retorno negativo” se o candidato não houver preenchido todos os pré-requisitos da vaga”, esclarece.

     O número de feedbacks negativos é sempre maior do que o de positivos, pelo motivo óbvio de que existem muito mais candidatos do que vagas disponíveis. Além disso, o perfil das vagas é por vezes muito rigoroso.

     Aline lembra a situação de um candidato para o cargo de Conferente. No processo seletivo houve provas de português, matemática e a entrevista final. Tratava-se de uma moça jovem, de 22 anos de nome Juliana. A recrutadora percebeu que Juliana era capaz, mas que estava muito nervosa, então nas provas não tirou a nota mínima para passar. Teve então que dar o “retorno negativo” a ela. Como a moça estava sem e-mail, nesse caso, Aline ligou para ela. Não consegui falar e deixou recado. Depois Juliana retornou a ligação de Aline, agindo de forma simpática, mesmo sabendo que não tinha sido aprovada. Ela disse: “Aline, muito obrigado por você ter me retornado, fiquei muito ansiosa, muita gente não nos dá esse feedback se não passamos em uma entrevista; gostaria de te agradecer porque você me deixou muito à vontade; sei que sou uma pessoa tímida e nervosa, mas obrigada pelo seu apoio e carinho”.

     “A atitude dela me passou a ideia clara de que ela aprendeu com a experiência. Esse retorno da Juliana foi um medidor importante para o meu trabalho”, define Aline.

O caminho das pedras

     A forma correta de se reagir a um retorno negativo não é de forma rancorosa, ao contrário, a atitude correta, a exemplo do que fez a Juliana, é a de agradecimento. RH deve dar muita atenção ao feedback. Um feedback bem dado traz boas soluções a situações do cotidiano em processos seletivos e garante bons candidatos para processos futuros, pois se um candidato não corresponde a um perfil de determinada vaga em disputa hoje, este mesmo candidato pode se encaixar perfeitamente em uma vaga em disputa amanhã.

     Há o caso típico do candidato que foi muito bem nas provas mas não passou na entrevista. E ele questiona: “Mas fui muito bem nas provas, como não passei?” A primeira atitude do profissional de RH, segundo as analistas do Grupo LET, que dá esse tipo de feeback deve ser a de acalmar a pessoa fazendo ela enxergar primeiro que o ponto positivo não anula o negativo, mas é importante de ser enfatizado. Pode-se dizer à pessoa alguma característica da vaga na qual ela não se encaixou no perfil e oferecer a ela alguma dica de melhoria, se esta se mostrar interessada em receber. Porém não é elegante dizer para a pessoa coisas do tipo: “Ah você precisa melhorar seu lado comportamental”. “Isso cria melindres para a pessoa”, justifica Aline. “Não devemos mexer negativamente com a auto-estima de ninguém. Afinal, não somos os donos da verdade e não temos a pretensão de “ensinar alguém a se comportar”. O que podemos dizer as pessoas é “sejam vocês mesmos”. Quem sou eu para falar que “o seu tom de voz não estava muito legal””, conclui ela.

     Feedback é questão de respeito e este é um valor do qual não podemos abrir mão. O feedback é um direito garantido do candidato. “Devemos pensar que do outro lado do telefone está uma pessoa aguardando ansiosamente as informações que, por sua vez, podem mudar radicalmente o destino de sua vida. Para nós é um mero telefonema, mas para as pessoas é um momento marcante de suas vidas”, argumenta Aline.

     Houve casos de pessoas que choraram muito ao telefone, pela emoção do retorno positivo. Aline deu um retorno positivo para um candidato à vaga de Técnico Operador. A pessoa, de nome João, vivia uma situação muito difícil de foro íntimo. “Ele se saiu muito bem e, sinceramente, fiquei muito gratificada em poder ligar para ele e lhe dar esta boa notícia. Quando dei a notícia ele começou a gritar de felicidade pelo telefone, não sabia se ria ou se chorava. Parecia que tinha ganho na loteria”, lembra a profissional do Grupo LET.

     Em outro caso também de candidato a Operador Mantenedor a vaga foi cancelada. Aline ligou para o candidato para informar isso. O feedback de vaga cancelada é importantíssimo.

     Outro ponto: em alguns processos seletivos o tempo entre uma etapa e outra é longo, por vezes, uma ou duas semanas. Se o RH da consultoria não ligar para o candidato ele pode desistir da vaga e ir para outra empresa. A demora no feedback pode perder até mesmo um candidato aprovado. Um feedback bem feito também rende indicações do Grupo LET para outros candidatos. Um candidato que se sente respeitado indica para um amigo qualquer outro processo seletivo do Grupo LET, como asseguram as analistas de RH.

     Já Michelle Rapetti e Gabriela Canella, também do RH do Grupo LET, acreditam que a Analista de RH deve fazer o possível para não deixar transparecer envolvimento com a situação do candidato. “É questão de amadurecimento”, opina Gabriela; “temos que ser imparciais”, dispara. Oferecer a eles um retorno já é o envolvimento necessário que precisam ter; situação esta que não acontece em algumas outras consultorias. “Ouvimos de muitos candidatos que fomos muito importantes para a vida deles e que poucas consultorias passam o retorno negativo”, conta Michelle.

     Ela entende que o retorno negativo é muito mais importante do que o positivo, porque é o negativo que gera aprendizado – crescimento. “Dependendo do candidato e da vaga já aconteceu de orientarmos esse candidato sobre oportunidades de melhoria, às vezes mesmo sendo aprovado damos dicas de postura, entre outras, para processos mais rigorosos”, exemplifica.

     “É muito difícil termos uma autocrítica do candidato em relação a si mesmo no processo seletivo. Já aconteceu do candidato me dizer ser um absurdo ele ser aprovado, dele me dizer que na entrevista ele “ter a certeza de que teria o melhor perfil entre todos para a vaga”, narra Michelle. Que pena, para a Analista de RH quando o candidato tem este tipo de reação ele prova que não era adequado, pois se reage de forma grosseira e egocêntrica em um telefonema imagina o que não fará diante de uma crítica de seu gestor no dia a dia de trabalho?!

     Passando para o outro lado da corda, Michelle também já ouviu um “não” em processo seletivo. Ao mesmo tempo em que ficou muito decepcionada, diz ter acreditado em si e em sua minha experiência. “Usei isso positivamente para aprimorar meu lado questionador e cuidador de mim mesma. Dessa forma, tomei consciência de que nas entrevistas seguintes não poderia cometer os mesmos equívocos. Não se deve pensar que “não fui aprovado porque a pessoas não foi com a minha cara” e sim pensar “o que eu poderia ter colocado a mais na entrevista”, orienta.

     Gabriela Canella, Analista de RH do Grupo LET locada em um dos mais importantes clientes desta consultoria, indica o momento ideal para que um candidato ligue em caso do feedback não ter sido dado: quando dentro do prazo prometido ninguém tiver ligado para ele, então ele pode ligar”. Por incrível que isso possa parecer em pleno ano de 2010 ainda tem gente, segundo Canella que dispara os velhos bordões do tempo da ditadura militar: “Ué, eu não passei?! Você sabe com quem está falando?!” ou então outro de gosto ainda mais duvidoso “Você sabe quem me indicou?!”. Segundo ela, este tipo de posicionamento não funciona mais em processos seletivos coordenados pelo Grupo LET Recursos Humanos.
Gabriela acentua ainda que hoje há menos pressão sobre os ombros da Analista de RH de uma consultoria porque, embora, seja dela a tarefa de transmitir por e-mail ou telefone a “notícia”, a responsabilidade pela decisão da aprovação ou não do candidato é dividida com o gestor da empresa.

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