A
perda de dinamismo da economia brasileira já começa a ter reflexos no
mercado de trabalho. Embora a taxa de desemprego de 6%, medida pelo
IBGE, ainda revele uma situação de estabilidade, os últimos números divulgados
apontam para o enfraquecimento do quadro de emprego no País. No primeiro
semestre do ano, houve uma redução de 21% nas contratações formais
(com carteira assinada), ante o mesmo período do ano passado, segundo
o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do
Trabalho. Foi o pior resultado para o período desde 2009. A perda de vigor do
mercado de trabalho tem sido puxada pelo setor industrial, que cortou 120 mil
pessoas em junho, retração de 3,3% ante maio, de acordo com o IBGE.
As empresas estão
tendo de se ajustar à desaceleração da economia e ao avanço da inflação,
segurando custos administrativos e, em alguns casos, segurando
contratações. “Não demitimos ninguém de nosso quadro de empregados fixo,
mas estamos administrando a contratação de vagas, priorizando as que vão trazer
maior volume de venda e deixando para depois as que são de suporte”, afirma
Roberto Mar Orellana, gerente de Desenvolvimento Organizacional da Coca-Cola
Femsa no Brasil. A multinacional, maior engarrafadora de Coca-Cola
do mundo, manteve os investimentos previstos.
Na Basf, a ordem é
reduzir custos de impressão, telefonia e viagens. "Nesse momento,
essas são as únicas ações que estão sendo tomadas", afirma o
vice-presidente de RH da empresa, Wagner Brunini. Segundo ele, "não
houve alteração nas contratações por substituição."
A Epson do
Brasil, que recentemente expandiu sua linha de produção, empregando mais
de 100 pessoas, informa que pretende continuar contratando, mas está
atenta à evolução da economia. “Planos de contratação ou investimento são
continuamente revisados e ajustados de acordo com a situação”,
afirma Silvia Ikeda, supervisora de RH.
A economista Ana
Belavenuto, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), alerta que há pelo menos dois anos a indústria passa
por um momento difícil. Fatores macroeconômicos, como o câmbio elevado, têm
dificultado a recuperação desse segmento. “As políticas de subsídios adotadas
pelo governo nos últimos tempos não foram suficientes para que a indústria
voltasse a crescer e a contratar pessoal, mas permitiu que a situação não se
agravasse”, afirma Ana.
Em relação ao futuro,
a especialista, que até há pouco tempo aguardava um crescimento pequeno da
indústria, viu o cenário mudar recentemente para pior, em razão,
principalmente, das constantes revisões para baixo do Produto Interno Brito
(PIB). “Acredito que, no curto prazo, a indústria não irá se recuperar e não
contribuirá para a geração de novos postos de trabalho.” A economista do Dieese
destaca que o quadro é preocupante, pois a indústria poderia gerar um efeito
positivo em toda economia. “O setor de serviços e o comércio dependem em partes
da indústria para continuar crescendo”, afirma.
As incertezas dos
consumidores por conta da perda de fôlego da atividade prejudicaram as vendas
da Coca-Cola no País no segundo trimestre deste ano, segundo informações
divulgadas pela imprensa. O volume de vendas da bebida ficou estável no
período na comparação com os mesmos meses do ano passado, quando houve
crescimento de 6%.
“Mantivemos nossa
linha de investimento no País, mas estamos mais cautelosos em executar gastos”,
afirma o executivo da Coca-Cola Femsa. O plano de contratação da companhia
também precisou ser revisto. As vagas operacionais e temporárias foram
ajustadas. O ritmo de contratação da empresa também foi alterado, com aumento
no tempo de recrutamento. Ele diz ter esperanças de retomar o ritmo
normal de contratação nos próximos meses. “Nosso negócio é muito sazonal, mas
estamos com boas expectativas para o segundo semestre. Esperamos que a economia
se recupere”, afirma.
A Basf, cuja matriz
declarou nesta semana dificuldade em atingir sua meta de lucro prevista
para o ano em razão do encolhimento dos mercados europeus e do crescimento
mais lento na China, alega estar preparada para o atual momento de volatilidade
da economia brasileira. "Os nossos investimentos são estudados por muitos
anos e por diversas perspectivas, desta forma, o que foi planejado anteriormente
permanece sem alterações", diz Brunini, lembrando que a empresa atua há
mais de cem anos na América do Sul e está acostumada a lidar com
tempos mais difíceis.
Apesar de não
descartar planos de contingência, em virtude de dados macroeconômicos, como a
inflação mais alta e a valorização do dólar, a Epson do Brasil também
afirma que as perspectivas para os próximos meses são positivas e por
isso manteve o programa de contratações. “As contratações cresceram
significativamente alinhadas à previsão do aumento do volume de produção”, diz
Silvia Ikeda, supervisora de RH.
A Alog Data Centers do
Brasil, do ramo de TI, também se mostra otimista em relação ao futuro. A
empresa, que conta atualmente com 500 colaboradores, inaugurará em breve, no
Rio de Janeiro, um novo datacenter. "Cada
vez mais as empresas precisarão de infraestrutura de datacenter premium para viabilizar seus negócios e
estaremos lá para atendê-los", afirma Victor Arnaud, Diretor da companhia.
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