domingo, 1 de abril de 2012

Loucos e Santos - Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 


A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 


Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 


Deles não quero resposta, quero meu avesso. 


Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. 


Para isso, só sendo louco. 


Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. 


Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. 


Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. 


Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. 


Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. 


Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 


Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 


Não quero amigos adultos nem chatos. 


Quero-os metade infância e outra metade velhice! 


Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. 


Tenho amigos para saber quem eu sou. 


Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril. 


Colaboração: Renata Frischer Vilenky

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