segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não seja adequado

Para ser valorizado, você precisa ser maior do que o próprio cargo

A cena se repete. O profissional está num processo de seleção no qual são exigidas diversas qualificações. Ele é aprovado, começa a trabalhar na empresa e descobre que nada do que foi exigido antes será usado no seu dia-a-dia.

O exemplo clássico é o conhecimento de línguas estrangeiras. Muitas organizações exigem que o candidato a uma vaga saiba inglês ou espanhol, mas esses idiomas nunca são necessários na atividade para a qual ele é contratado.

Esse tipo de situação gera desconforto. As empresas parecem querer pessoas superqualificadas para desempenhar funções que não requerem grandes qualificações.

Esse desconforto atinge todos os tipos de profissional. Os que têm as qualificações exigidas podem ficar frustrados ao perceber, após a contratação, que elas não eram indispensáveis. Os que não as têm reclamam do excesso de exigências. Afirmam que têm as competências necessárias para a vaga em disputa, mas são injustamente afastados de qualquer chance.

Para desfazer essa ambigüidade, é preciso que tenhamos consciência de que a avaliação de um candidato não se restringe mais às habilidades específicas do cargo ocupado.

Um profissional que domina uma língua estrangeira, tem pós-graduação ou possui especializações é sempre mais valorizado, mesmo que essa língua, pós-graduação ou especialização não tenham relação direta com seu trabalho. Isso porque esses conhecimentos aparentemente excedentes indicam que se trata de alguém com capacidade de aprendizado, interesse no autodesenvolvimento e maior amplitude de visão.

O mesmo vale para quem já está empregado. É comum a queixa de subaproveitamento por parte de profissionais que sabem muitas coisas que não usam diretamente em seu trabalho. No entanto, se não possuíssem esse excedente de saber, essas pessoas provavelmente não estariam ocupando aquele cargo. É por saberem mais do que o necessário que elas se mantêm empregadas.

Uma organização moderna precisa desses excedentes de saber. O profissional também. Essas reservas de conhecimento constituem uma energia potencial acumulada. É isso que permite à empresa reagir prontamente a novos cenários e a novos desafios, que surgem cada vez com mais freqüência.

Essa reflexão nos propõe um desafio. Qual é nosso tamanho em relação ao cargo que ocupamos? Em quanto nós conseguimos exceder as exigências de nossa função atual?

Ao contrário do que parece, se nós somos perfeitamente adequados, se preenchemos exatamente aquilo que é necessário, sem nenhuma sobra, já entramos perigosamente na região da insuficiência.

Buscar a excelência -- e, antes disso, a competitividade no mercado -- significa possuir sempre mais habilidades do que o necessário, saber sempre mais do que o suficiente. Em outras palavras, ser sempre melhor do que o cargo que ocupamos, seja qual for o nível dentro da estrutura empresarial. Pois os profissionais perfeitamente adequados nunca são lembrados para subir na carreira. São, também, mais facilmente substituíveis por outros profissionais igualmente conformados com os limites de seus cargos.
 
Artigo de autoria de Simon M. Franco, publicado na Edição 812 da Revista EXAME

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