ANTONIO CARLOS TEIXEIRA DA SILVA
Havia um paradigma de que o bom profissional era aquele que permanecia anos a fio na mesma empresa construindo uma carreira.
Alguns afirmam que a rotação de emprego gera suspeitas sobre a maturidade, que ainda não se encontrou na vida, não sabe o que quer, é de difícil adaptação, inconstante. Se trocou de emprego várias vezes é porque tem algum problema. E, em breve adotará a mesma atitude, deixando a nova empresa na mão. Enfim, uma personalidade não muito confiável.
Os mais antigos entravam como ascensorista ou office boy e chegavam ate a presidência da Empresa. Isto é coisa do passado. Hoje o profissional necessita habilidades pessoais e profissionais muito bem desenvolvidas para competir neste mercado globalizado.
Recentemente iniciou-se uma campanha para criar um outro paradigma: o profissional tem que trabalhar e mudar de emprego com frequência para adquirir experiências diferentes. Se assim não proceder é porque é acomodado, incompetente, burocrata, não tem ambição, tem medo de novos desafios, não quer crescer. Ou ainda, não está globalizado.
Quem cria ou aceita paradigmas não pensa. Apenas reorganiza seus preconceitos.
Pode ser que um pessoa passou a vida inteira na mesma empresa por comodismo. Mas isto não é uma regra. Ou aquele que mudou frequentemente de emprego é porque tem uma personalidade insconstante. Também pode ser, mas não necessariamente.
As pessoas que defendem um ou outro paradigma esquecem-se de que para tudo tem uma causa. E é nas causas que deveremos buscar as respostas.
Cada caso é um caso. Não existe regra.
A pessoa pode ter ficado trinta anos na mesma empresa porque realizou-se, gostou do trabalho, gostou dos desafios, gostou do mercado, aprendeu, evoluiu, fez cursos, conheceu gente interessante dentro e fora da empresa, fez uma carreira de sucesso, viajou, ganhou dinheiro e inúmeras outras razões que legitimam esta permanência . Ficou feliz . Sentiu-se realizado. Então para que mudar? Só para dizer que mudou? Se for assim, a pessoa estará mais preocupada com o que os outros poderão pensar dela do que com ela mesma.
No outro extremo há o profissional que passou por muitas empresas. Qualquer um pode não ter se adaptado a uma empresa, a sua cultura, a seus superiores, a falta de oportunidades, a sentir que o espaço era muito pequeno para suas ambições e muitas outras razões. Ou ainda, sentiu-se competitivo para buscar posições melhores no mercado.
Ah! Mas isto só pode acontecer uma ou duas vezes. Se as empresas não serviram para ele é ele que não serve para as empresas, diria o defensor do outro paradigma.
Não podemos esquecer que o ser humano nunca estará pronto, definido. Ele muda, evolui, cresce, cria. Uns mais do que os outros, é claro.
A defesa destes paradigmas presta um grande desserviço, principalmente aos jovens que estão entrando no mercado profissional.
Recentemente, após uma palestra que realizei, fui abordado por três jovens na faixa de 22 anos, em final de Faculdade e entrando no mercado.
Eles estavam preocupadíssimos em obter uma definição cartesiana sobre o que deveriam fazer: ficar numa empresa muito tempo ou trocar de emprego frequentemente?
Eles queriam uma e apenas uma resposta certa para este problema colocado como se houvessem apenas duas respostas.
Fiquei tão sensibilizado com aquela dúvida gratuita na cabeça deles que fiquei conversando por mais de uma hora, após a palestra, para demonstrar que as duas alternativas são corretas.
Tentei explicar a eles que a ênfase do nosso sistema educacional e cultural é nos ensinar que existe apenas uma resposta certa. Mas não existe apenas uma resposta certa para cada problema. Existem várias, mas as pessoas aprenderam que existe apenas uma resposta ou ainda, quando encontram uma resposta apenas já se dão por satisfeitas. Param de procurar respostas alternativas depois de encontrar a primeira. Isto é lastimável, porque é após a segunda, terceira, décima alternativa que você tem opções para escolher a melhor. É preciso pensar diferente.
É uma irresponsabilidade dar uma orientação tão restrita: ou isso ou aquilo.
Precisamos entender que ninguém tem a bola de cristal. A vida é um quebra cabeça – só que não vem com o desenho na caixa para você saber como se monta. Às vezes, nem dá para saber como se monta ou ainda, se todas as peças estão disponíveis.
No final acho que aqueles três jovens entenderam que ficar muito tempo na mesma empresa como mudar dependerá de inúmeros fatores que são imprevisíveis: Você vai estar satisfeito com o que a empresa lhe oferece? Ela vai estar satisfeita com o que você está oferecendo? Também depende da personalidade de cada um. Depende dos rumos que sua vida vai tomar tanto a nível pessoal como profissional.
Claro que todos querem ter sucesso profissional e orientam-se para este objetivo. Porém, parte do que constitui sucesso é a combinação do momento certo com a oportunidade. Howard Schultz disse " a maioria de nós tem que criar as próprias oportunidades. Devemos estar sempre preparados para agarrar uma oportunidade que estamos vendo e os outros não." Isto pode acontecer numa única empresa ou em várias.
Estas pessoas que defendem ou tentam criar um novo paradigma não estão acostumadas a pensar criativamente, buscando alternativas. Não conseguem pensar diferente. Ainda não se deram conta de que quanto mais alternativas produzirem melhor será a qualidade da idéia escolhida.
E eu lanço aqui uma nova campanha: todo paradigma é falso.
O importante é a pessoa estar com a mente aberta, estar consciente de seus valores e definir o que quer criar na sua vida e no seu trabalho.
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