Em tempos de informação e transformações rápidas, profissionais especializados desaparecem do mercado. Por Paula Balduino
Início de 2011. O mercado encontra-se bastante aquecido em diversos setores. As empresas parecem ter pressa para preencher as suas vagas antes do carnaval. Processos seletivos estão disponíveis em maior número, principalmente em sites de recrutamento, onde os esforços são, em grande parte, melhor canalizados.
Após a crise que assombrou o mercado internacional no ano de 2008, essa parece ser a primeira demonstração positiva no mercado em relação à estabilidade, novas perspectivas e aumento visível do número de empregos oferecidos.
Segundo uma pesquisa entre diretores de empresas, divulgada em dezembro de 2010, no Panamá, “as expectativas mais otimistas são as do Brasil, onde se registra uma tendência de crescimento líquido de emprego de 36%, 5 pontos a mais do que há um ano”.
Em entrevista ao Portal D24AM, Luis Fernando González, gerente regional para a América Central e a República Dominicana da empresa de recursos humanos ManPower, declara que “podemos falar que em 2011 a crise na América já pode entrar para a história”.
Ainda sim, não é raro observar que algumas empresas mantém suas vagas em aberto por um longo período, o que pode indicar a falta de mão de obra qualificada para as funções oferecidas. Sabe-se que algumas funções, como mestre de obras, costureira e marceneiro são profissões que há muito tempo já apresentam certa defasagem.
Em um mundo onde grande parte das coisas se dá no mundo virtual e entre as quatro paredes do escritório, funções que exigem uma mão de obra mais específica já vem perdendo o espaço e a preferência dos mais jovens. Porém, a dificuldade de encontrar profissionais capacitados está chegando também às empresas, atrás de computadores e telefones.
Maria Zélia Gandara, consultora da Interpersona RH discorda em parte e aguça ainda mais a curiosidade acerca do tema: “O mercado de trabalho está mudando sensivelmente, as empresas estão contratando mais, principalmente a construção civil.
O mercado sofreu mudanças consideráveis nos últimos tempos. A mão de obra especializada está ficando mais difícil de ser encontrada e hoje nós temos os profissionais super experientes que se não estão aposentados, estão próximos disso. E ainda temos os recém-formados. Veja que temos uma lacuna de profissionais, com idade entre 35 a 45 anos de idade, explica”
Formação acadêmica em questão
Gandara ainda comenta que o problema da falta de formação é uma via de duas mãos. “Eu diria que é um problema de ambos os lados: das instituições que não oferecem cursos suficientes para a demanda e dos profissionais que não procuraram se especializar e muitas vezes ficam acomodados.
Sem dúvida, com o consumo aquecido, as indústrias estão com sua produção a todo vapor e há, claro, as empresas que estão treinando seus funcionários, fornecendo formação, principalmente as técnicas, para daqui um tempo poder contar com estes profissionais”, diz.
A consultora explica que, para isso, diversas ferramentas são usadas para essa busca, dependendo do segmento da organização e da experiência do profissional. “Um meio de lidar com isso é recrutando candidatos oriundos de escolas tecnicamente capacitadas, fazendo um processo seletivo sólido com etapas que forneçam subsídios para a decisão”, completa.
Já Luís Testa, gerente de Marketing do VAGAS, se vale das estatísticas conseguidas pelos números da própria empresa. “Conseguimos perceber nos números de vagas anunciadas dentro do VAGAS.com.br que estas vem aumentando em ritmo acelerado.
Na comparação entre 2009 e 2010, identificamos os seguintes dados: crescimento de 75% no volume de anúncios de vagas no site de carreira VAGAS.com.br em 2010 se comparado a 2009”, conta. O executivo ainda ressalta o crescimento em cinco áreas no ano de 2010 se comparado a 2009, com índices que superam os 150%.
São elas: Petrolífera, Biomedicina, Construção Civil, Mineração e Geologia. “Não temos dados concretos em relação à época e ao setor industrial especificamente, mas conseguimos afirmar apenas que, sim, o mercado de trabalho em geral está em ritmo aquecido, visto o aumento nos números de vagas divulgadas por nossos clientes”, constata.
Sobre a qualificação profissional, Testa afirma que as empresas que contratam através do site apontam que algumas áreas realmente possuem esse déficit de pessoas qualificadas, em diversos níveis, desde técnicos ou gerenciais. “A construção civil, a área petrolífera e de mineração demonstram esse caso”, exemplifica.
A responsabilidade é de quem?
Será que as empresas não investem na formação dos profissionais ou os profissionais se contentam apenas com uma graduação? “É difícil apontar responsabilidades, pois muitas áreas e setores da economia que hoje carecem de bons profissionais estavam com baixo ritmo de atividade”, explica o executivo.
Há décadas, o país não investia em infraestrutura como está investindo hoje, segundo Testa. “Consequentemente, profissionais com formação técnica (como construção civil) acabavam migrando para outros setores da economia por falta de oportunidade.
Hoje, temos uma falta de mão de obra qualificada neste setor, e não por culpa dos profissionais ou das instituições de ensino. O problema é bem mais amplo”, completa.
Como alternativa, Luís Testa conclui que a saída que algumas empresas vem adotando para contornar esse déficit é criar seus próprios cursos de capacitação que, em alguns casos, tomam proporções de universidades corporativas. As empresas podem utilizar diversas ferramentas, que podem ser capacitação interna de seus profissionais ou incentivo para que esse profissional busque se desenvolver.
Podemos citar o próprio VAGAS como exemplo, na qual seus colaboradores possuem o Projeto Auxílio Desenvolvimento, ou seja, até R$3.600 no ano para investir em cursos de aprimoramento profissionais.
Identificando talentos
E qual a melhor maneira de filtrar profissionais capacitados para o processo seletivo? “Antes de mais nada, as empresas precisam atrair os talentos para a corporação, ou seja, tornar-se objeto de desejo para que esses profissionais capacitados busquem ali a sua colocação”, ressalta Testa.
Outro fator importante é a adoção de tecnologia que o ajude a localizar e identificar esses talentos de maneira mais rápida, barata e eficaz. “Empresas que ainda selecionam candidatos recebendo currículos em papel ou por e-mail, sem dúvida, estão um passo atrás dos seus concorrentes que já adoram soluções de e-recruitment”, defende o executivo.
Outro profissional que segue a mesma linha de raciocínio é Maurício Teles Menezes, sócio diretor daVeralana Recursos Humanos Organização e Gestão. “Sentimos o cenário bastante aquecido nos centros onde atuamos mais fortemente. É difícil dar um diagnóstico generalizado do país, mas pelo menos nas grandes capitais, o clima de contratações é crescente”, explica.
Menezes destaca que na sua empresa, a demanda por profissionais nas áreas de serviços, bancos, logística e call center aumentou muito nos últimos meses. “Estamos convivendo em um clima de expectativa de alta na inflação. Seja pela falta de produtividade, por questões de infraestrutura ou falta de mão de obra. O ponto é que a demanda de contratações continua aquecida”, completa.
Se a demanda continua aquecida, isso significa que as empresas precisam preencher essas vagas, sendo os profissionais capacitados ou não. É certo afirmar isso? “Infelizmente, a minha visão sobre a qualificação destes profissionais não é boa. A dificuldade em encontrar profissionais qualificados é uma realidade com a qual estamos tendo que conviver”, destaca Menezes.
O executivo ainda opina que o problema do país é que a formação básica dos profissionais ainda é muito precária. “Desta forma, todas estas pessoas que estão chegando ao mercado de trabalho terão mais dificuldades com a formação técnica e a qualificação. Por sua vez, levará mais tempo e não acompanhará a nossa necessidade de expansão e crescimento. Este será o grande impeditivo para um desenvolvimento mais rápido e estruturado das empresas”, conclui.
Partindo do princípio de que a responsabilidade sobre a formação básica do indivíduo é algo que se inicia nos seus primeiros anos de vida, Menezes acredita que as instituições de ensino têm essa missão. “Vale destacar também que nem todas as instituições privadas, apesar de serem pagas para isso, formam de maneira adequada profissionais que deverão sair para o mercado de trabalho em pouco tempo”, diz.
O profissional ressalta que o interesse das pessoas em seu desenvolvimento pessoal ou profissional é preponderante na equação. “Além de buscar novas e melhores alternativas de conhecimento e aprimoramento de habilidades, os profissionais interessados em crescer em suas carreiras tornam-se mais questionadores, cobrando das instituições um nível mais alto de ensino”, destaca.
Diagnosticando que o problema está na base da educação de todo um país, Maurício Teles Menezes mostra como o departamento de recursos humanos da empresa pode gerenciar esse tipo de defasagem. “Dinamismo, improviso e perspicácia. Não existe mágica. É saber reter aqueles que são importantes para o negócio da empresa e criar mecanismos de pulverização do conhecimento, formando aqueles que estão chegando”, opina.
Outra solução para a questão é a possibilidade de contratar empresas de e-learning e coaching. O sócio-diretor afirma que a necessidade de formar profissionais que atendam a necessidade de crescimento do país aumentará essa demanda. “As empresas devem criar multiplicadores do saber, principalmente nas áreas técnicas operacionais”, explica.
Segundo Menezes, o RH deve criar mecanismos de identificação e qualificação destes multiplicadores e fazer com que eles pulverizem este conhecimento entre os colegas de trabalho, não deixando a missão apenas para o departamento de RH.
“Hoje, a falta de profissionais é tão grande que estamos observando as questões de sociabilidade, postura ética e vocação para o desenvolvimento profissional e pessoal. Tendo estas características, é possível aprimorá-los tecnicamente na empresa”, opina.
Carlos Mello, diretor executivo da Passarelli Consultores, afirma que 2011 começou aquecido e a busca de talentos no mercado seguirá essa tendência por um período ainda maior. “Tanto as empresas nacionais quanto as multinacionais estão alavancando seus investimentos com base nos dois grandes eventos mundiais que vamos sediar: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Isso tem gerado uma expectativa de negócios muito grande, por isso a demanda tão alta por talentos e profissionais qualificados”, explica.
Voltando à questão da falta de mão de obra em alguns setores, Mello lembra que uma boa solução é repatriar brasileiros que encontraram boas colocações em projetos fora do Brasil. “Fomos buscar engenheiros brasileiros em países da África para atender os projetos de contratação de nossos clientes aqui no Brasil”, conta.
Para o diretor executivo, um dos pilares do sucesso é o planejamento. “Se não existe um planejamento consistente e atual, o futuro fica entregue nas mãos do destino”, diz. Carlos Mello explica que a responsabilidade pelo planejamento na formação e capacitação de profissionais no Brasil vai desde o governo até as instituições de ensino, passando pelos próprios profissionais. “Temos que saber para onde vamos, que recursos vamos necessitar e como vamos conseguir alcançar os objetivos”, opina.
Como dica para os profissionais de recursos humanos, Mello declara que as soluções alternativas são as melhores saídas. “Contratando cursos profissionalizantes para seus colaboradores, buscando talentos em outros setores ou setores similares, buscando talentos fora do Brasil, realizando um planejamento estratégico alinhado com os objetivos da empresa”, enumera o profissional.
Mello acredita que o aumento de ferramentas como e-learning, coaching, entre outras, não se dê por conta da defasagem, mas sim pelo aumento do poder aquisitivo da população. “Existe uma clara indicação no mercado de que os brasileiros estão investindo muito mais em educação hoje do que no passado”, atesta.
Porém, Mello ressalta que a ferramenta a ser utilizada é importante se ela estiver bem planejada dentro do objetivo a ser cumprido. “Cursos profissionalizantes, cursos executivos, palestras educacionais e situacionais, intercâmbio com parceiros estratégicos dentro e fora do Brasil, trabalhar o planejamento de carreira de seus colaboradores (ou ainda ajudá-los a entender a importância da linha do tempo na carreira) podem ajudar, e muito, os gerentes de recursos humanos a contornar as defasagens”, conclui.
***BOX***
Há vagas… Sem candidatos
As exigências de qualificações ou até mesmo a falta de profissionais dificultam os empregadores a preencher as vagas abertas no mercado, segundo especialistas. Em 2010, as empresas citaram a escassez de profissionais qualificados.
Com isso, vagas nem chegam a ser preenchidas ou o empregador tem que abrir mão de alguma exigência para contratar e não correr o risco de ficar com a vaga em aberta. A pesquisa foi feita pelo site G1.
Os 10 profissionais mais escassos no mercado
1 – Analista ou Coordenador Contábil com inglês fluente
“Há três anos estamos com dificuldade nessa área por conta da escassez de profissionais. Quando o Brasil era uma economia de inflação, o setor de contabilidade não era estratégico, e sim operacional. Com o crescimento do país, todas as funções dentro de uma empresa ficaram mais complexas. Mas como a área era operacional, o público perdeu interesse”, diz Fabiana Nakazone, gerente da divisão especialistas do Grupo DMRH.
2 – Consultor SAP com inglês fluente e experiência
Profissional da área de Tecnologia da Informação (TI) que saiba trabalhar e fazer personalizações no programa SAP, usado por empresas para a gestão de negócios. “Precisamos de profissionais com inglês fluente porque o sistema é integrado fora do Brasil e, às vezes, é preciso dar suporte para o exterior”, afirma Fabiana Nakazone, gerente da divisão especialistas do Grupo DMRH.
3 – Profissionais da área de Tecnologia da Informação (TI)
O diretor da Trabalhando.com.br, Renato Grinberg, disse que, além de difíceis de encontrar, os profissionais da área também pedem salários muito altos para sair das empresas onde já estão, pois recebem contraproposta para ficar. De acordo com Leandro Cabral, diretor comercial da Catho Online, a área de TI já vem sinalizando falta de profissionais qualificados desde o início desta década.�
4 – Profissionais da área de vendas e teleatendimento
Levantamento feito com 187 empresas pela Curriculum.com.br mostrou que, além das áreas de TI e engenharia, o setor de vendas também apresenta dificuldades para achar profissionais em 2010. De acordo com Marcelo Abrileri, presidente da Curriculum, não está fácil encontrar um bom vendedor. Renato Grinberg, diretor da Trabalhando.com.br, disse que a área comercial está com forte demanda por conta do crescimento da economia, que exige profissionais do setor. Segundo a Catho Online, vendas e teleatendimento têm, ainda, alta rotatividade.
5 – Coordenador de medicina e segurança do trabalho para o varejo
“A área costuma ser bem forte em indústrias, mas quando o varejo exige a mesma função, é difícil encontrar profissionais que se encaixem no ritmo”, Fabiana Nakazone, gerente da divisão especialistas do Grupo DMRH. De acordo com ela, o volume de pessoas e o estilo do varejo não são os mesmos que os da indústria e não é fácil achar profissionais adequados.
6 – Engenheiros
O mercado precisa de engenheiros em geral, mas especialistas ressaltam escassez maior nas áreas de infraestrutura, projetos e civil. “O Brasil está crescendo e precisamos de profissionais especialistas em obras de grande porte, como rodovias, hidrelétricas e saneamento. Não tem gente preparada para fazer isso”, diz Fátima Brandão, gerente do Foco RH.
7 – Médicos
De acordo com Leandro Cabral, diretor comercial da Catho Online, tem sido difícil encontrar médicos para vagas em diversas especialidades, segundo percepção do site. Cabral diz que faltam profissionais com qualificações e formações específicas.
8 – Secretárias
De acordo com Renato Grinberg, diretor da Trabalhando.com.br, as mulheres têm perdido o interesse pelo cargo de secretária. “Não tem candidatas jovens”, afirma. Segundo ele, algumas empresas até preenchem a vaga de secretária com outros profissionais. O especialista explica, porém, que, quando a empresa começa a crescer, sente a necessidade de um profissional formado na área de secretariado.
9 – Profissionais da área de mineração
De acordo com Leandro Cabral, diretor comercial da Catho Online, foi notada dificuldade no site para encontrar profissionais da área em geral, desde operacional e técnica a engenheiros e executivos. Segundo Cabral, a mineração pede profissionais com formação e qualificações muito específicas. Ele também ressalta que o setor trabalha muito com a indicação de funcionários.
10 – Profissionais da área petroquímica e de energia
De acordo com Leandro Cabral, diretor comercial da Catho Online, a área petroquímica pede formação bastante específica e nem sempre há profissionais disponíveis e qualificados no mercado. No ramo de energia, o problema se repete. “Com os avanços tecnológicos e o aumento da demanda, é cada vez mais escasso o número de profissionais qualificados e prontos para atuar nesse setor”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário