Texto de: KÁTIA MELLO.
COM MARTHA MENDONÇA, SOLANGE AZEVEDO, LÍVIA DEODATO, MARIANA SHIRAI, FERNANDA
COLAVITTI, FRANCINE LIMA, MARIANA SANCHES, PAULO MOREIRA LEITE E LUÍS ANTÔNIO
GIRON
Uma das primeiras fontes de conselhos
de que há registro foram os oráculos da Grécia Antiga. A eles recorriam reis e
generais antes de tomar decisões de vida ou de morte. O mais famoso de todos os
oráculos era o de Delfos. Ao pé do Monte Parnaso, era considerado pelos gregos
o centro do Universo. Lá, as sacerdotisas de Apolo revelavam suas profecias. Ao
perguntar se deveria atacar os persas, o rei Creso, de Lídia, recebeu o
seguinte conselho: “Se você o fizer, destruirá um grande império”. Creso
lançou-se à batalha sem entender que o império derrotado seria o dele. Não
basta, portanto, receber um bom conselho. É preciso interpretá-lo de forma
correta.
ÉPOCA revela o melhor conselho que 21
brasileiros de sucesso afirmam ter recebido na vida. Eles também contam de quem
receberam o conselho e em que situações ele foi útil. Os presidenciáveis José
Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva revelam o norte de sua vida e de sua
paixão pela política; a atriz Juliana Paes traz na memória um dito do pai; o
escritor Paulo Coelho fala sobre a magia ensinada por seu mestre no início da
carreira; a modelo Gisele Bündchen conta a lição de vida que recebeu de um
médico. Muitos dos conselhos a seguir são universais – e os personagens desta
reportagem decidiram compartilhá-los com você.
Pare e respire
"Um
profissional naturopata (que trabalha com medicina natural) me disse:
‘Pare e respire’. Ele me mostrou a importância que essa atitude tinha. Isso foi
há cinco anos. Desde então, aprendi quão valioso é parar e estar consciente
sobre minha respiração. Quando estamos muito ansiosos, não conseguimos nos
centrar. Ao nos concentrarmos na respiração, vivemos muito mais o momento e
temos mais consciência de nossas atitudes e de nosso corpo. Com certeza, a
respiração correta ajuda a nos manter em equilíbrio. Hoje em dia, uso essa
prática e sinto a diferença. Controlo mais a ansiedade, minhas emoções e
aproveito muito mais cada momento da minha vida."
Gisele
Bündchen, 29 anos,
gaúcha, top model
Cumpra metas traçadas com disciplina
e constância
"Minha mãe, Jutta Batista, me
fez entender que ter disciplina faz uma enorme diferença na vida. Eu tinha por
volta de 13 anos quando ela conversou comigo sobre o assunto. Acordar cedo,
cumprir as tarefas, os horários, ser sempre pontual nos compromissos. No fundo,
tudo é disciplina, e ela me ajudou em todos os aspectos. Eu sofria de asma
quando criança. Minha mãe sabia que uma das maneiras de me curar era nadando.
Então, ela me incentivou na natação, me fez ter disciplina e dedicação. Segui o
conselho e me curei da asma. O que ela me ensinou também foi absolutamente
vital para meu trabalho, como empreendedor e criador de novos negócios. Cumprir
as metas traçadas, com disciplina e constância, e executar os projetos até o
fim. Cumprir todas as regras, sem pular etapas. Graças a esse conselho, também
continuo a fazer exercício pelo menos duas vezes por semana. Tenho 52 anos e
uma saúde de ferro."
Eike Batista, 52 anos, carioca, empresário
Eike Batista, 52 anos, carioca, empresário
Nada acontece sem esforço
"O melhor conselho que recebi
veio do meu pai. Eu sempre uso a frase que ele me dizia: ‘Peça a Nossa Senhora
e não saia correndo atrás, para ver o que acontece’. Não acontece nada se a
gente não se esforçar, se não trabalhar, não tiver um planejamento. Ou seja, só
ficar na expectativa e não mergulhar, não encarar, não enfrentar os problemas.
Minha primeira atitude é sempre correr atrás, não fugir do problema, ir atrás
dele para resolvê-lo. Eu sempre procuro entender as questões com profundidade e
ver quais são as soluções. Procuro adotar uma estratégia para resolver, ver
todas as formas e os ângulos de determinado problema para depois pedir a Nossa
Senhora e sair correndo atrás. Outra frase que meu pai dizia é: ‘Nunca chame o
lobo para se defender do cão’. Se você não é suficientemente apto para lidar
com um problema, não se meta nele. Não pense que, ao chamar alguém mais esperto
do que você, ele vai te ajudar. Pode até atrapalhar."
Roger Agnelli, 50 anos, paulista, empresário
Roger Agnelli, 50 anos, paulista, empresário
Nunca se explique
"Era 1964. Eu tinha 30 anos e
estava fazendo pós-graduação nos Estados Unidos. No Brasil, o golpe militar
trouxe um clima em que qualquer coisa era subversão. Não era preciso fazer nada
para ir preso. Muitos amigos meus foram assassinados. Eu escrevia artigos
falando de liberdade, nada explícito contra o regime, mas é claro que eu era
contra ele. E assim ganhei inimigos. Eu tinha sido pastor. Pessoas que não
gostavam de mim dentro da igreja começaram a me fazer acusações. Nada era
claro. Nunca sabemos direito como são as coisas. Chegavam mensagens do tipo
‘consta que existe um documento contra você’ e tal. Eram ameaças. E, naquela
época, até provar que focinho de porco não era tomada elétrica... Eu quis me
defender. Publiquei artigos em revistas americanas para me explicar. Não houve
repercussão. Foi então que meu professor de filosofia na universidade, muito
sábio, me deu o melhor conselho que já me deram na vida. Ele me disse: ‘Rubem,
nunca se explique. Para seus amigos, não é preciso se explicar. Para seus
inimigos, é inútil se explicar’. Eu tentei seguir o conselho. Sempre tento, mas
muitas vezes eu desobedeço. Ninguém segue conselho, né?"
Rubem Alves, 76 anos, mineiro, escritor, educador
Rubem Alves, 76 anos, mineiro, escritor, educador
O estudo traz uma releitura da vida
"Dos 5 aos 14 anos, morei com
minha avó Julia, em Mecejana, no Ceará. Eu morava numa casinha de palha, a 10
quilômetros da casa do meu pai. Ficava numa capoeira. Minha avó era uma pessoa
muito inteligente, capaz de decorar um livro inteiro de cordel apenas de ouvir
a história umas duas vezes. Como ela não sabia ler, meu pai lia para ela, e ela
me contava as histórias. Ou as cantava em forma de cantoria, como os
repentistas. Foi com ela que aprendi os rudimentos do cristianismo. Ela tinha
um catecismo feito de papel-cuchê, com umas ilustrações belíssimas da Capela
Sistina, que mostrava desde a Criação até o Apocalipse, o fim do mundo. O livro
não tinha escrita, só ilustração. Era feito para analfabetos. Minha avó dizia
que no Ceará havia padres, freiras e tudo isso. No meu imaginário de criança,
ao ouvir tudo isso, eu comecei a dizer que, quando eu crescesse, seria freira.
Todas as vezes que eu dizia isso, ela me aconselhava a estudar. Dizia que
freira não podia ser analfabeta. E cresci com esse conselho. Quando fiquei
doente, resolvi cuidar da minha saúde e ser freira. Fui para um convento, onde
fiquei dois anos e oito meses. Foi assim que comecei a estudar. Para ser
freira, eu tinha de aprender a ler. Eu tinha 16 anos e meio quando fui para Rio
Branco para ser freira. E continuo tentando me curar do analfabetismo até hoje.
Analfabeto é também quem não consegue fazer uma leitura em relação aos tempos
que está vivendo, quem não consegue ler os valores que se quer reforçar ou
outros que a gente precisa mudar. Enfim, a alfabetização é um processo
contínuo; é dar outra significação à vida."
Marina Silva, 51 anos, acreana, senadora
Marina Silva, 51 anos, acreana, senadora
Pense em como ajudar as crianças
"Eu era viúva havia cinco anos e
estava tomando lanche com meus cinco filhos à noite, quando o telefone tocou.
Era maio de 1982. No telefone, estava o meu irmão dom Paulo Evaristo Arns, na
época o cardeal de São Paulo. Ele me contou que vinha de uma reunião da ONU.
Eles pediram a dom Paulo que pensasse sobre como a Igreja poderia ajudar a
expandir o uso do soro oral para as mães, com o intuito de evitar a
desidratação, causada pela diarreia. E ele me aconselhou a pensar em como fazer
isso. Foi, para mim, um momento de muita emoção. Na ocasião, eu era diretora da
Saúde Materna Infantil do Estado do Paraná e o partido político no governo
havia mudado. Apesar de eu não pertencer a nenhum partido político, eles me
tiraram da direção da Secretaria da Saúde. Eu me sentia subutilizada quando dom
Paulo me telefonou, parecia que Deus estava me abrindo uma grande porta:
ensinar as mães a cuidar melhor de seus filhos. Depois que meus filhos foram
dormir naquela noite, eu planejei a Pastoral da Criança inteira. Eu queria
salvar vidas."
Zilda Arns, 75 anos, médica, sanitarista
Zilda Arns, 75 anos, médica, sanitarista
Cuide mais das qualidades
"Certa vez, eu estava
conversando com o Robert Gallo, que descobriu o vírus da aids, e ele disse:
‘Você é um rapaz criativo. E nós, pessoas criativas, temos de tomar mais
cuidado com nossas qualidades que com nossos defeitos’. Porque os defeitos você
sabe quais são e pode se defender deles, mas, das qualidades, não. Os criativos
criam tantas coisas que depois não conseguem levar adiante o que criam, e isso
pode ser uma arma contra a própria pessoa. O Gallo me disse isso na casa dele,
num almoço, em 1995. Ele me conhece, sabe sobre meu trabalho aqui no Brasil, e
a gente vivia trocando ideias. Ele falou por experiência própria, porque, esse
tipo de conselho, nunca ouvi em lugar nenhum. Ele é muito entusiasmado com suas
ideias e toma esse conselho para si mesmo. Eu também tenho essa tendência de
pensar coisas diferentes, de ser empreendedor, de pensar assim: ‘Vamos fazer’.
Ao mesmo tempo, reflito: ‘Será que tenho condição de levar até o fim?’. Se você
é preguiçoso, toma precauções contra a preguiça. É mais fácil. Agora, se você é
generoso, essa generosidade pode te destruir também. Hoje, sou muito cuidadoso
e, quando surge algo novo, penso no tempo que aquilo me tomará e de onde eu vou
tirar tempo para aquilo. Porque pode chegar uma hora em que não haja tempo para
mais nada. Então é preciso decidir, pensar bem."
Drauzio Varella, 66 anos, médico
Drauzio Varella, 66 anos, médico
Na vida, às vezes o ótimo é inimigo
do bom
"Quando eu era presidente da
UNE, em 1963, conheci o Juscelino e visitei-o algumas vezes. Ele pretendia se
candidatar a presidente em 1965 e, numa das conversas, puxou o assunto. Eu
disse, e estava certo, que a UNE e o movimento estudantil não tinham maior
importância eleitoral (apesar de que, na época, eram muitíssimo mais fortes do
que hoje), nem se engajavam em eleições, mas que, se isso fosse acontecer,
nosso candidato seria o Miguel Arraes, então governador de Pernambuco. Ele
comentou, muito amavelmente, sorrindo: ‘Na vida, às vezes, o ótimo é inimigo do
bom. O Arraes é ótimo, eu sou bom. Cuidado que podemos ficar sem os dois. Ficar
com o ruim’. Aludia a Lacerda, a quem combatíamos diariamente. Se fosse mais
pessimista, poderia ter aludido ao golpe e à ditadura que o cassou (e me
condenou e exilou). Não foi bem um conselho, foi uma reflexão, que assimilei na
hora, até porque correspondia à minha forma de analisar e fazer política."
José Serra, 67 anos, paulistano, governador do Estado de São Paulo
José Serra, 67 anos, paulistano, governador do Estado de São Paulo
A magia está nas coisas simples da
vida
"J., meu mestre e amigo, no
início do ano de 1986 me disse para fazer o caminho de Santiago de Compostela.
Até aquele momento, eu achava que o mundo do oculto era cheio de mistérios,
merecia uma vida inteira de dedicação e um considerável afastamento da
realidade. Quando comecei a peregrinação, acreditava que estava prestes a
realizar um dos maiores sonhos da minha juventude. Meu guia, Petrus (nome
fictício), era para mim o bruxo D. Juan, e eu revivia a saga de Castañeda em
busca do extraordinário. Petrus, entretanto, resistiu bravamente a todas as
minhas tentativas de transformá-lo em herói. Isso tornou muito difícil nosso
relacionamento, até que entendi que o extraordinário reside no caminho das
pessoas comuns. O mágico reside nas coisas simples da vida – é apenas uma questão
de estar aqui e agora, conectado com tudo o que nos rodeia. Hoje em dia, essa
compreensão é o que possuo de mais precioso, me permite fazer qualquer coisa, e
vai me acompanhar para sempre."
Paulo Coelho, 62 anos, carioca, escritor
Paulo Coelho, 62 anos, carioca, escritor
Seja política
"Quando minha mãe, Cláudia,
entrou no meu quarto numa manhã sugerindo que eu me candidatasse a vereadora,
dei risada. Nove anos depois de sofrer o acidente de carro que me deixou
tetraplégica, dedicava quase todo o meu tempo à ONG Próximo Passo, que criei
para promover pesquisas para a cura de paralisias. E eu odiava política. Era
daquele tipo de leitor que pulava a seção de política do jornal. Minha mãe
passou quase um ano repetindo aquele que, descobri tempos depois, foi o
conselho mais importante da minha vida. Acabei me filiando ao PSDB apenas para
agradá-la e ver se ela se esquecia do assunto. Ao contrário, ela passou a
insistir mais. Comecei a campanha só 40 dias antes da eleição. Todo o material
que eu tinha eram uns santinhos impressos por ela. Eu mesma distribuía nas
calçadas de São Paulo, com alguém me empurrando na cadeira de rodas. Acabei
tendo votos o bastante para ser a terceira suplente do partido. Dois anos
depois, ocupei uma cadeira na Câmara. E percebi que poderia ampliar o meu
trabalho com a política. Hoje, já sou autora de três leis para melhorar o
acesso aos 3 milhões de deficientes que vivem em São Paulo. Em 2008, me
candidatei a vereadora outra vez. Fui a mulher que conquistou o maior número de
votos, 79.912, em disputa para a Câmara dos Vereadores do Brasil. Tudo por
causa da insistência da minha mãe."
Mara Cristina Gabrilli, 41 anos, psicóloga, publicitária e vereadora paulistana
Mara Cristina Gabrilli, 41 anos, psicóloga, publicitária e vereadora paulistana
Sucesso ou fracasso não são para
sempre
"Em 1998, eu fazia um espetáculo
chamado Um tal de Dom Quixote, com a Companhia Bando de Teatro
Olodum. Meu papel era o de Sancho Pança. Quando a crítica do espetáculo saiu na
imprensa, me fazia enormes elogios. Disse que eu havia roubado a cena. O título
era: ‘Um tal de Sancho Pança’. Fiquei exultante e fui mostrar a crítica à minha
diretora, Cica Carelli. Ela me disse: ‘Mas por que você está comemorando tanto?
Saiba que não existem nem sucesso nem fracasso permanentes’. Na hora, fiquei
chateado por ela ter cortado a minha onda. De lá para cá, vi que é exatamente
assim. Devemos ser comedidos nas alegrias e nas tristezas da profissão. O
conselho que ela me deu, na verdade, formou parte de minha personalidade, pauta
quem sou hoje. Depois de fazer televisão e de ficar mais popular, com novelas
de grande sucesso, sempre penso nisso e comento sobre o que faço com o máximo
de normalidade. Eu me tornei realmente consciente da possibilidade desses altos
e baixos. Isso me ajuda muito a ter equilíbrio no trabalho e na vida."
Lázaro Ramos, 30 anos, baiano, ator
Lázaro Ramos, 30 anos, baiano, ator
Somos todos seres iguais
"Certa vez, eu estava melindrada
por ter de conversar com o reitor da universidade onde estudava. Eu tinha 19
anos, e meu pai me disse: ‘Nunca tenha medo ou timidez ao falar com quem quer
que seja. Lembre-se sempre de que somos todos homens mortais, iguais, acima de
qualquer cargo, profissão e status. Mesmo se estiver diante da maior autoridade
que você reconheça, encare-a de igual para igual. Nem de cabeça baixa, pois não
deve ter vergonha, nem de nariz em pé, pois tem de manter a humildade. Encare-a
de frente, como iguais que são’. Essas palavras me acompanham sempre, são como
um eco do meu pai em mim. Sempre fui muito respeitosa, quase tímida quando mais
menina, e sempre tive medo de dizer não, de desagradar. Uma terapeuta me disse
uma vez que eu sou uma pessoa que gosta de agradar. É verdade. Mas o conselho
do meu pai me ajuda até hoje a não ter medo de me colocar, de questionar. Ele
me fez ser mais forte e confiante."
Juliana Paes, 30 anos, fluminense, atriz
Juliana Paes, 30 anos, fluminense, atriz
Só você pode se derrotar
"Na época da ditadura, eu estava
presa no Dops, em São Paulo. Como as celas estavam lotadas de presos políticos
e havia menos mulheres do que homens, botavam a gente nas solitárias. Então,
fui parar em uma solitária. Estávamos eu e uma jovem de 21 anos chamada Leslie
Denise, a Lelé. Um dia bateram na nossa porta com uma caneca. Pela janelinha,
vimos um velhinho de olhos azuis. Com bandagens nos pulsos, ele disse assim:
‘Oi, meu nome é Jacob Gorender. Como é que vocês se chamam?’. Entre os presos
havia dois estrangeiros do Al Fatah (facção palestina). Um deles nos
contou que o velhinho era o doutor Jacob Gorender. Fizeram barbaridades com ele
e passamos a cuidar dele. Lavávamos sua roupa, amassávamos abacate, botávamos
açúcar, limãozinho. Ficamos amicíssimas dele. A gente o achava velho, mas ele
tinha 47 anos. Um dia, ele me deu um conselho: ‘Só tem uma coisa que você não
pode fazer’, disse para mim e para Lelé. ‘Vocês não podem achar antecipadamente
que eles (do Dops) sabem tudo, porque, se você achar que eles sabem tudo,
que entendem tudo e são tão poderosos, vocês já se derrotaram’. Então, na vida,
você não pode achar nunca que as pessoas sabem tudo ou são tudo. Se você não
for capaz de entender o que a outra pessoa quer de ti, como é que ela te
atinge, se você não for capaz de fazer isso, você já perdeu. E a frase dele era
a seguinte: ‘Cuidado. Só você pode se derrotar’."
Dilma Rousseff, 61 anos, mineira, ministra-chefe da Casa Civil
Dilma Rousseff, 61 anos, mineira, ministra-chefe da Casa Civil
A vida é o trabalho do artista
"Minha carreira como artista
plástico estava prestes a acabar em 1994. Logo após a dura recessão dos anos
90, a decisão de me reinventar como fotógrafo parecia não me levar a lugar
nenhum. Embora trabalhasse intensamente, estava sem galeria em Nova York, e o
que ganhava mal dava para sobreviver. Além disso, torturava-me imaginar como
sustentar e educar meu filho, na época com 4 anos. Eu era também professor de
fotografia e desenho na New School for Social Research, em Nova York. Lembro-me
claramente do dia em que comentei com a amiga e curadora americana Tricia
Collins que eu estava pensando em dar mais aulas e encarar uma carreira como
educador e abandonar esse sonho de viver de arte. Tricia me disse que a pior
coisa a fazer é deixar de ser o que somos para ser algo para nossos filhos. Que
o meu filho seria mais orgulhoso de mim como artista do que como o infeliz que
deixou de ser o que queria ser por sua causa. Ela também me ofereceu um projeto
na pequena sala alternativa que dirigia no Soho. Eu disse a Tricia que
trabalharia como um louco para seu projeto. Aí ela me deu um conselho: ‘A vida
é o trabalho do artista. Saia de férias!’. Segui seu conselho à risca e
embarquei para o Caribe, onde conheci as crianças da série de fotografias que
me consagraram. As fotos também fizeram parte da minha primeira retrospectiva,
em Nova York, estabelecendo definitivamente minha identidade pública como
artista plástico e fotógrafo. Meu filho, hoje com 19 anos, é o meu maior fã e
amigo."
Vik Muniz, 47 anos, paulistano, artista plástico
Vik Muniz, 47 anos, paulistano, artista plástico
Celebre sua comunhão com o mundo
"Entrei em crise aos 20 anos. Eu
havia sofrido muitas perdas e acreditava que precisava de psicanálise para
resolver minhas questões. Para mim, era hora de olhar para dentro. Fui atrás de
terapia e consegui uma entrevista com o famoso Hélio Pellegrino, psicanalista e
intelectual brilhante. No dia marcado, fui feliz da vida a seu consultório, na
Zona Sul do Rio de Janeiro. Por uma hora, desfilei todos os problemas que tinha
e outros que achava que tinha. A conversa foi ótima, e eu, ainda estudante,
acabei contando para ele sobre minha paixão pela física e pela natureza. No
fim, me surpreendi com o que ele me disse: ‘Marcelo, acho que você não precisa
de análise. Para mim, a análise é a pró-cura. E você, através de sua procura,
vai se autocurar. E você está já no seu caminho de busca. Continue nutrindo
essa paixão, buscando e celebrando sua comunhão com o mundo, que estará sempre
bem’. Eu nem cheguei a me deitar no divã. Passados 30 anos, eu posso dizer que
encontrei meus caminhos e que ele tinha toda a razão."
Marcelo Gleiser, 50 anos, carioca, astrofísico, professor, escritor e roteirista
Marcelo Gleiser, 50 anos, carioca, astrofísico, professor, escritor e roteirista
Mostre suas glórias com simplicidade
e humildade
"Estava à beira-mar, numa praia
de Varberg, na Suécia, aguardando o início de uma regata. Era final de manhã e
ventava muito. Eu tinha 20 anos e acabara de participar da minha primeira
Olimpíada (Los Angeles, em 1984). O dinamarquês Paul Elvström, o
velejador mais importante de todos os tempos, tinha então 57 anos. Sua
simplicidade – apesar das quatro medalhas de ouro olímpicas e dos 13 títulos
mundiais – chamou minha atenção e eu resolvi lhe fazer um elogio. Paul
respondeu que o mais importante na vida de um campeão não deve ser ostentar
seus grandes resultados. E que as glórias de um vencedor podem ser mostradas
com simplicidade e humildade. Hoje, Paul está com mais de 80 anos e ainda
mantemos contato. Provavelmente, ele não sabe quanto esse conselho foi
importante na minha vida. E procuro passá-lo adiante. Faço palestras por todo o
Brasil e, quando alguém me trata como celebridade, tento mostrar que estamos no
mesmo patamar e que a simplicidade é um valor fundamental na vida de qualquer
ser humano. Isso não deve se aplicar apenas aos campeões no esporte. Mas também
àquelas pessoas que se destacam, seja na política, na economia ou em qualquer
outra área."
Lars Grael, 45 anos, velejador, campeão olímpico
Lars Grael, 45 anos, velejador, campeão olímpico
Planeje sua vida
"Eu tinha 16 anos e meus pais
tinham se separado. Minha mãe assumiu praticamente sozinha minha criação e a de
minhas irmãs. Como qualquer garoto da minha idade, comecei a namorar muito. Ela
via aquilo e temia que eu engravidasse alguma das moças. Na minha família e na
minha comunidade, era muito comum os jovens terem filhos cedo, perdendo muitas
oportunidades na vida. Meu pai parecia não ligar para isso. Ele teve, ao todo,
12 filhos com mulheres diferentes. E sempre repetia que queria que eu desse
muitos netos a ele. Minha mãe pensava diferente: ela queria que eu fosse além.
Um dia cheguei tarde em casa e ela foi enfática. Me disse: previna-se sempre,
planeje sua vida. E comentou sobre todos os nossos conhecidos que haviam
estragado o futuro por causa de uma gravidez indesejada. Senti que a coisa era
séria e percebi tudo o que ela havia superado para falar daquele assunto
comigo, já que sexo e drogas eram tabus na minha casa. Por isso, sempre pensei
nela e me cuidei. Pude seguir meu caminho sem barreiras. Tive liberdade para
investir na minha carreira, arriscar, sem a preocupação de ter de sustentar uma
criança, que é algo de uma enorme responsabilidade. Na hora certa, vou planejar
ter um filho. Tenho três sobrinhos e adoro crianças. E vou ser o maior pai
babão, com toda a tranquilidade."
MV Bill, 35 anos, carioca, compositor, rapper, escritor
MV Bill, 35 anos, carioca, compositor, rapper, escritor
Deixe de lado a opinião dos
outros
"Desde que decidi ser piloto,
recebi orientações bastante úteis. Meu pai logo me alertou que eu precisaria
abrir mão de muita coisa se quisesse realmente chegar aonde pretendia. Na minha
adolescência e juventude, cansei de abrir mão de festas e baladas. Mas acredito
que o melhor conselho partiu do piloto Michael Schumacher. Eu já o conhecia bem
desde 2003, ano em que passei como piloto de testes da Ferrari. Em 2006, fui
seu companheiro de equipe na sua despedida da Fórmula 1. Eu correria ao lado
simplesmente do cara que virou uma lenda e quebrou praticamente todos os
recordes da categoria. Foi quando ele disse para jamais me preocupar com o que
as pessoas, e principalmente a imprensa, falassem a meu respeito: ‘Eles vão
falar bem um dia e falarão mal depois, mas você não deve dar importância. O que
vale mesmo é se concentrar em fazer o seu trabalho da melhor forma possível,
deixando de lado a opinião dos outros’. Foi o que passei a fazer a partir de
então. Essa postura me deixou mais forte mentalmente e me ajudou a superar os
momentos difíceis na F-1."
Felipe Massa, 28 anos, paulistano, piloto de F-1
Felipe Massa, 28 anos, paulistano, piloto de F-1
O tempo atenua a dor
"Eu tinha uns 11 anos quando uma
amiga muito próxima perdeu a mãe. Foi triste demais. Ela estava muito triste, e
eu não sabia o que escrever para atenuar sua dor. Chamei meu pai, e ele mandou
que eu escrevesse que, para aquela dor, não havia remédio e que o tempo traria
um conforto da saudade. Tomei isso para minha vida. Daquilo que não pode ser
resolvido, imediatamente o tempo dará conta."
Ivete Sangalo, 37 anos, baiana, cantora
Ivete Sangalo, 37 anos, baiana, cantora
Decisões, só de cabeça fria
"Um dos melhores conselhos que
já recebi foi de um grande amigo, Paulo Borges. Ele me disse para nunca decidir
nada no calor das emoções. Sempre diga: ‘Vou pensar e respondo amanhã’. Junto
com esse conselho, que lembro sempre, ele me apresentou sua advogada, que
passou a advogar para mim também, isso 12 anos atrás. Ela reforçou o conselho
dado por Paulo e acrescentou: ‘Nunca assine nada sem eu ler’. Sigo os dois
conselhos e sou muito feliz."
Alexandre Herchcovitch, 38 anos, paulista, estilista
Alexandre Herchcovitch, 38 anos, paulista, estilista
Invista no seu potencial
"Minha professora de violoncelo,
Nydia Otero, me disse para estudar na Europa. Muitos foram contra minha saída
do país aos 16 anos. Eu nem tinha terminado a escola. Ela foi firme em me
convencer a ir para a Alemanha, estudar com o italiano Antonio Janigro. Na
época, eu era músico profissional de orquestra. Ela achava que, se eu ficasse
no Brasil, entraria numa rotina brasileira e não chegaria ao máximo do meu
potencial. Segui seu conselho. Meu pai me apoiou porque via essa possibilidade
como a melhor. Minha mãe foi contra. Era o receio típico de mãe, de ver o
primogênito ir embora, sem saber falar alemão, inglês. Eu não tinha bolsa de
estudos. Por dois anos, trabalhei na Orquestra Sinfônica Brasileira. Todo o
dinheirinho que ganhava, poupava. Foi com isso que vivi durante os primeiros
meses fora. Depois, tive de me virar. Meu pai mandava o que podia, mas era
pouco. Toquei em enterros, casamentos, onde era necessário um violoncelista, eu
tocava. A vida era cara, mas nem por um segundo eu me arrependi. O único
momento em que fiquei receoso foi quando o avião começou a subir. Olhei para
baixo e comecei a chorar. Estava indo embora e não voltaria tão cedo. Se
tivesse ficado, minha vida teria sido outra."
Antonio Meneses, 52 anos, recifense, músico e compositor
Antonio Meneses, 52 anos, recifense, músico e compositor
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