Tenho
acompanhado com apreensão leitores e amigos manifestando suas insatisfações
para com a vida. São sentimentos diversos que transitam da frustração por
conquistas não alcançadas, passando pela desmotivação decorrente da falta de
reconhecimento, até a mera desilusão diante da falta de perspectivas.
Refletir
a este respeito levou-me a reler a obra "Em busca de sentido - Um
psicólogo no campo de concentração", de Viktor Frankl, fundador da
logoterapia, considerada a terceira escola vienense de psicoterapia (as outras
duas são as de Freud e Adler). Trata-se do fascinante relato autobiográfico do
autor acerca de sua experiência como prisioneiro em Auschwitz e outros campos
durante a Segunda Guerra Mundial.
Para
a logoterapia, a busca do indivíduo por um sentido na vida é a força motivadora
primária para o ser humano. Frankl apresenta pesquisa feita com quase oito mil
alunos de 48 universidades que perguntados sobre o que consideravam "muito
importante" naquele momento, 16% declararam "ganhar muito
dinheiro" e 78% afirmaram "encontrar um propósito para a vida".
Outro
exemplo recente foi a pesquisa realizada no início de 2013 pelas consultorias
DMRH e Nextview apontando que quatro em cada dez executivos brasileiros estão
dispostos a mudar de empresa porque buscam um trabalho alinhado aos seus
propósitos e valores.
Mas
esta angústia existencial, a dúvida sobre se a vida vale a pena ser vivida,
evidentemente não se restringe ao âmbito profissional. Ela assume contornos
maiores, manifestando-se num estado de tédio e apatia através dos quais a
pessoa vai morrendo interiormente e lentamente.
Como
bem pontuou Frankl, as emoções são como algo em estado gasoso. Tal como um gás
preenche de forma uniforme e integral todo um espaço vazio, assim a tristeza, a
solidão, a angústia e o sofrimento ocupam toda a alma humana. Por sorte,
analogamente, o mesmo se aplica à menor das alegrias.
Por
isso, não basta o mero interesse primitivo em se preservar a vida. É essencial
que cada pessoa identifique sua missão (do latim missio, o enviado) e ouça sua
vocação (do latim vocatio, o chamado) nesta busca por propósito, a qual pode
ocorrer a partir de três caminhos básicos: (a) pela necessidade de se concluir
um trabalho qualquer que será legado à humanidade e que depende exclusivamente
de seu protagonista; (b) pelo sofrimento, tal qual o experienciado pelos
prisioneiros nos campos de concentração ou por alguém que luta contra uma
doença incurável; e (c) pelo amor, o bem último e supremo que pode ser
alcançado pela existência humana - e não necessariamente o amor físico, mas o
amor espiritual, até mesmo inanimado.
Em
sua busca por um sentido para a vida, lembre-se de que embora o sucesso seja
perseguido do ponto de vista profissional, e a felicidade, no âmbito pessoal, é
preciso salientar que ambos devem ser decorrências naturais. Por isso, pare de
persegui-los e, quando você não mais se lembrar deles - sucesso e felicidade -,
fatalmente acontecerão em sua vida. Tenha também em mente que ambos são
transitórios. Afinal, se você fosse feliz o tempo todo, não seria feliz em
tempo algum...
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