Na Mitologia Grega, Hércules é o filho de Zeus com uma
mortal chamada Alceme.
Desde pequeno, Hércules teve sérias dificuldades de
relacionamentos, chegando a matar seus instrutores. E, como forma de penitência
e também de iluminação, precisou enfrentar os doze trabalhos, nos doze signos
do Zodíaco.
Um dia, o grande “Ser” que presidia os trabalhos de
Hércules ordenou:
“Além do Rio Amínoma, fica o pântano de Lerna. Nesse
pestilento lamaçal habita uma fera que possui nove cabeças, a Hidra. Prepara-te
para lutar contra essa asquerosa criatura. Mas, não pense que as armas comuns
serão suficientes, pois, se uma cabeça for destruída, duas outras aparecerão em
seu lugar.”
E continuou…
“Dou-lhe apenas um conselho: nós nos elevamos quando nos
ajoelhamos, conquistamos nos rendendo, ganhamos dando. Então vá, ó filho de
Zeus, e supere o seu desafio.”
Hércules se dirigiu ao lugar recomendado. Logo que
chegou, o insuportável cheiro do pântano quase o derrotou e as areias movediças
tentavam sugá-lo para dentro da terra. Com muita dificuldade, descobriu a caverna
onde se escondia a Hidra de Lerna.
Dia e noite, Hércules vagou pelo traiçoeiro pântano,
aguardando o momento em que a fera se mostrasse.
Em vão vigiava, até que resolveu arremessar setas de
piche em chamas para o interior da caverna.
A Hidra com suas nove cabeças fumegantes emergiu furiosa.
Sua feiura era assustadora.
A fera atacou Hércules, e este com um golpe certeiro
decepou uma de suas cabeças e outra sucessivamente, mas, a cada cabeça cortada,
outras duas nasciam no lugar e o monstro ia se tornando mais forte.
Então Hércules se lembrou do que dissera o “Ser”: “nós
nos elevamos quando estamos de joelhos”.
Hércules deixou de lado a sua clave, ajoelhou-se, agarrou
a Hidra em suas mãos e a ergueu. Suspensa no ar, a fera perdeu as suas forças.
De joelhos, Hércules sustentava a fera no alto para que o ar purificado e a luz
do sol destruíssem o monstro que era forte na escuridão e no lodo.
A fera se debateu convulsivamente e, aos poucos, foi se
enfraquecendo até que a vitória de Hércules se consumou. Quando as cabeças
caíram, o semideus descobriu a única cabeça imortal, decepou-a e a sepultou sob
uma rocha.
Sem dúvida, esse mito encerra preciosas lições sobre as
relações humanas.
A Hidra permanecia escondida no interior da caverna, tal
qual os nossos muitos medos se escondem dentro de nós. Se Hércules apenas
ficasse esperando que a Hidra se manifestasse, ficaria vagando eternamente pelo
pântano.
Da mesma forma, precisamos enfrentar nossos medos.
Chamá-los para fora, ainda que venham furiosos…
Isso envolve olharmos para dentro de nós mesmos,
ampliando a janela de nosso autoconhecimento. Envolve descobrir quem somos, o
que realmente queremos e por quais valores estamos dispostos a lutar.
O desafio é que a caminhada do autoconhecimento e a
disposição para lutarmos por nossos ideais provocam vários conflitos dentro de
nós mesmos e nas nossas relações com as outras pessoas.
E, diante dos conflitos, precisamos fazer uma escolha:
fugir ou resolver.
Se fugirmos dos conflitos, a Hidra nos destrói.
Mas, por outro lado, se na tentativa de resolvê-los,
transformarmos os conflitos em brigas pessoais, enxergando apenas as nossas
necessidades, estaremos apenas golpeando as cabeças da Hidra e tornando o
monstro do conflito cada vez mais forte.
Por isso, para resolver conflitos, a melhor forma é
sempre levar a Hidra para a luz. Isto é, usar a razão e o bom senso, deixando
de lado os medos e as amarras emocionais que nos impedem de ver a realidade.
Que nos impede de ver as necessidades dos outros.
E, é claro, jamais nos esquecermos da mais preciosa lição
desse mito: a humildade - “nós nos elevamos quando estamos de joelhos”.
Se nos mantivermos em posição de combate, jamais nos
diferenciamos da própria Hidra. Nessa posição, o conflito faz com que nós e os
outros sejam como as feras, lutando imersas nas trevas e no lodo.
Apenas quando baixamos as nossas defesas teremos
condições de tirar a Hidra do pântano e levá-la para a luz.
Por isso, curvarmo-nos diante de nossas dificuldades é um
caminho inteligente e desafiador para transformar conflitos em auto
conhecimento e crescimento pessoal.
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