Muita gente ainda me pergunta, até hoje, como tomei uma
decisão tão radical de sair do mercado financeiro, mais particularmente do
Citibank, para me aventurar com um negócio próprio. As dúvidas vêm principalmente
dos alunos da graduação, para quem trabalhar em uma grande multinacional é tudo
de bom. Na época, a aventura fazia todo o sentido. Para quem se lembra, 2001
era o grande momento da Nova Economia, o primeiro grande movimento das empresas
de internet.
Muitos altos executivos do banco estavam fazendo a mesma
coisa. Apesar disto, só depois de alguns anos é que encontrei as explicações
para algumas decisões que tomei na minha vida profissional. Elas vieram na
forma de uma palestra do hoje consultor de liderança Robert Wong que assisti em
2003 e que tomei a liberdade de adaptar neste artigo.
As pessoas passam por fases diferentes em suas
trajetórias de carreira de acordo com suas necessidades. Assim, no começo as
pessoas precisam de alguma forma de remuneração, qualquer forma de ganho que
possa atender suas necessidades básicas de sobrevivência, como se alimentar, se
vestir e ter algum lugar para dormir. Este primeiro degrau da pirâmide é o
trabalho. Muitas pessoas com pouca ou nenhuma qualificação sobrevivem neste
esquema, como serventes de pedreiro, camelôs, ajudantes de cozinha, e outras
atividades informais e de baixa remuneração.
Logo eles conseguem formalizar sua condição e passam para
o outro nível, o emprego. A característica do emprego é que a atividade executada
em troca de um salário é reconhecida formalmente com registro na carteira
profissional e todos os direitos legais relacionados. Justamente estes direitos
é que garantem o atendimento de outra necessidade básica das pessoas, a
segurança. Estão nesta categoria as secretárias, os office boys, os porteiros,
as empregadas domésticas, operadores de caixa e outros, também com baixa qualificação
e remuneração idem. Estes dois primeiros degraus da pirâmide cobrem a maior
parte das atividades da população economicamente ativa.
Com um pouco mais de ambição, o jovem não se contenta com
o atendimento destas necessidades básicas e busca um reconhecimento maior da
sociedade. Este tipo de necessidade é atendido no próximo nível da pirâmide
conhecido como profissão. Qualquer pessoa que adquire algum nível de
conhecimento ou habilidade específica já se caracteriza como mão de obra
qualificada e se enquadra em outra faixa de remuneração e reconhecimento. Esta
categoria abrange desde os torneiros mecânicos até os médicos e advogados.
O próximo nível é o da carreira em si. Ter uma
especialização, para muitas pessoas, é apenas o primeiro passo na sua carreira.
O objetivo delas na verdade é maior, elas querem crescer na sua profissão e é
aí que surgem os cargos e promoções. Um analista de sistemas quer se tornar
analista senior, depois um gerente de sistemas e então um diretor de
informática. A remuneração cresce na mesma proporção, ampliando a possibilidade
de atender mais necessidades, desejos e sonhos. Nada mais natural, portanto,
que as pessoas acreditem que a carreira seja a etapa final da pirâmide, afinal,
o que mais pode existir para quem chegou à presidência de uma grande empresa
multinacional?
Acontece que não é o fim ainda, pois a necessidade maior,
de autorrealização, muitas vezes não é atendida neste nível. Já conheci muitos
altos executivos de grandes organizações que se sentem deprimidos com o poder e
longe de se sentirem realizados. Também já vi muitos deles abandonarem suas
carreiras para fazer algo totalmente diferente. O topo da pirâmide, assim, pode
ser denominado de missão, ou seja, aquilo que procuramos para nos sentirmos
completos, um senso de propósito que vai além da remuneração e do poder.
Nossa sociedade de valores capitalistas acaba mascarando
e escondendo esta importante etapa de nossas vidas, nos levando a acreditar que
o topo da carreira é o topo da pirâmide. Se não percebemos isso a tempo,
desperdiçamos nosso tempo em busca de realizações vazias de propósito e
perdemos oportunidades de fazer o que realmente faz sentido.
Algumas pessoas, assim como eu, na medida em que vão
avançando na carreira, começam a se sentir desconfortáveis com o ambiente, se
sentem deslocadas e cada vez menos dispostas a jogar o jogo do poder. Ao se dar
conta que existe ainda outro degrau na pirâmide, nos livramos deste fardo e
passamos a procurar atividades que deem este senso de propósito. É isso que
justifica porque altos executivos se dedicam a atividades sociais,
assistencialistas, de sustentabilidade, ou simplesmente se tornam
empreendedores.
Empreendedores possuem, em geral, este senso de missão
desenvolvido de forma mais apurada e forte. Muitos dos fundamentos que movem os
empreendedores em seus empreendimentos e explicam sua determinação e
persistência estão embasados em uma visão de futuro bem consolidada e um senso
de propósito claro e maior do que o mero ganho financeiro.
Sabendo disto, é hora de questionar o direcionamento que você está dando para sua carreira. Pode até ser que empreendedorismo não caiba nas suas expectativas, mas pare para pensar no que você julga importante na sua carreira: será que é isso mesmo? Ou será que está na hora de dar um novo direcionamento no qual você possa estar mais próximo do que realmente tem significado para você?
Para fazer esta auto análise, lembre-se de tirar o
dinheiro e o poder da frente, pois podem estar encobrindo sua visão para o que
é verdadeiramente importante. Não se esqueça que em algum momento no passado
estes pontos eram de fato importantes na sua vida, mas na medida em que sua
carreira se desenvolve e as necessidades vão mudando, estes mesmos pontos
passam a perder importância para que outras coisas se sobressaiam. Se você não
sabe o que pode ser mais importante do que dinheiro e poder, procure descobrir
ou o caminho que você está trilhando pode estar errado!
Por Marcos Hashimoto