O ser humano manifesta um
poder enorme quando trabalha de acordo com a própria vocação. O artigo comenta
algumas problemáticas do tema e sugere três reflexões básicas para você constatar
se segue, realmente, a sua vocação.
Grande parte do potencial do ser humano se manifesta
quando se trabalha por vocação. Entretanto, ainda existe certo preconceito com
o trabalho, como se fosse algo que servisse apenas para suprir as nossas necessidades.
Ver o trabalho como um mal necessário não só bloqueia o nosso potencial, como
diminui o prazer de viver do ser humano.
Passamos a maior parte do tempo trabalhando. O indivíduo
não vocacionado sofre muitas frustrações durante esse período e a grande quantidade
de crises vivenciadas invadem as demais áreas da vida dele. Os problemas de
trabalho influenciam substancialmente o comportamento familiar e social. O
ofício que deveria iluminar as diversas esferas da vida passa a poluí-las, nesse
caso. Não me surpreende a busca de outros caminhos de satisfação do ser humano,
como a busca de prazer obsessivo nas drogas, no culto ao corpo e ao sexo, no
álcool e no consumismo.
Educar é muito mais do que informar. Este é outro grande
problema vocacional do Brasil. Você conhece alguém que pode dar aquilo que não
tem? Ou conhece alguém que pode ensinar o que não sabe? Se o professor não for
realmente vocacionado para o ensino, como ele poderá ajudar a despertar a
vocação do aluno? Educação provém da palavra latina educere, ou
seja, promover de dentro para fora as potencialidades do indivíduo. Educar é
criar um laço profundo que permite ao jovem trazer à tona as potencialidades
vocacionais, ou seja, tirar de dentro. O professor precisa ter interesse na
vocação dos alunos.
As escolhas profissionais de muitas pessoas se deram por
outros motivos que não são os vocacionais: o lucro, o status, as carreiras
tradicionais e, principalmente, as projeções familiares. De alguma forma os
pais influenciam os filhos a fazer algo que não conseguiram, ou a exercer uma
profissão mais segura e “estável”. A pressão do mercado, os maus conselhos dos
parentes e a falta do devido apoio dos pais complicam muito as escolhas dos
jovens.
A vocação é uma questão poderosa para superar tudo o que
foi citado: o conceito de trabalho como um mal necessário, as exigências
neuróticas da vida profissional, algumas deficiências do ensino e o grau de
insatisfação por ter que sobreviver a qualquer preço, ocupando o nosso tempo
com o que não é da nossa natureza.
Vamos definir o conceito. A palavra vem do latim vocatio,
que quer dizer “convocação”, ou seja, ser chamado. Então, é importante
refletir: “para quê eu fui chamado a este mundo? E quem, ou o quê me chamou?”.
Nós, seres humanos, somos chamados por algum motivo e não nascemos por acaso.
Além do motivo, existe algo que nos chama: o destino. É o destino que chama o
ser humano. Então, a vocação é a convocação do destino de um ser humano para
que ela possa se realizar. A vocação aponta a direção que ele deve assumir para
se realizar na vida e ser feliz.
No livro “Como reconhecer a sua vocação?”, Michel
Echenique esclarece questões fundamentais para você que está lendo este artigo
e quer descobrir qual é a sua vocação. Aqui vão três perguntas básicas para
você responder a si mesmo:
1. O que você gosta de fazer? – Todo trabalho direcionado
pela vocação coincide com o que gostamos de fazer, pois vai de acordo com a
vontade do indivíduo. Reflita sobre o que você faz de útil sem obrigação de
fazer. O prazer de trabalhar aumenta a energia do indivíduo e o desejo de
trabalhar mais. Conheço mulheres que são profissionais competentes, mães,
esposas, musicistas e voluntárias que ainda não se contentaram e querem
produzir mais! Com certeza elas gostam muito do que fazem.
2. O que você quer realmente fazer? – Napoleon Hill foi
muito assertivo quando mencionou “o que quer que a mente do homem possa
conceber e acreditar, ela pode realizar.” Não basta querer, há de querer muito.
Quando você tem tudo bem definido na sua mente, é capaz de fazer acontecer
qualquer coisa e realizar o que quer. Estou tratando de uma força na qual não
vê limitações, que supera qualquer dificuldade.
3. O que você faz bem feito? – Sentir satisfação no
começo é fácil. Fazer bem feito é sentir satisfação do início ao fim do
trabalho. Um trabalho bem feito gera admiração nos demais, naturalmente. Um
concerto de Vivaldi é harmonioso e lindo, não precisa de explicação. A estátua
de Davi, de Michelangelo, continua bela há centenas de anos. O trabalho faz bem
tanto para você, quanto para os demais.
Quando conseguimos integrar esses três elementos num
trabalho que tenha ritmo e constância, podemos ter encontrado a nossa vocação.
Em nenhum momento eu lhe contei algum “atalho” para o seu caminho realização e
plenitude na vida. Se alguém lhe oferecer algum caminho “mais fácil”, desconfie
bastante. Você não escolheu a sua vocação, ela escolheu você. Cumprir com
a convocação da natureza é uma dádiva de quem tem muita coragem e disciplina.
Escreva as respostas para essas perguntas num papel, ele
servirá como um espelho que vai lhe permitir enxergar dentro de si mesmo. Não
adianta culpar o governo, os pais, o marido e o professor pelas escolhas que
não foram autênticas na sua vida. Atender ao seu chamado é uma decisão sua.
Por Marcelo Sousa
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