quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Planeje-se

Há alguns anos, ao ser convidado para participar de um debate num desses programas de mesa redonda, conversava na sala de espera com os outros participantes sobre o assunto que abordaríamos ao vivo. O tema: “planejamento para o ano seguinte”. O curioso é que ali, naquela sala, tínhamos dois exemplos extremos que elucidavam bem o assunto: um jovem profissional, cujo lema era “deixe a vida me levar” e outro, extremamente metódico que planejava bem os passos que dava, tanto em sua vida pessoal, como na profissional. 

Rafael tinha pouco mais de 30 anos e se encontrava em meio a um furacão em sua vida. Depois que se formou bacharel em publicidade, nunca mais voltou a estudar e, tão pouco, galgou bons degraus pelas empresas pelas quais passou. Rafael não conseguira muitas coisas desde que saiu da casa dos seus pais. Morava de aluguel com sua esposa, seu único filho estudava numa escola pública e as parcelas de seu carro viviam atrasadas. Pra piorar a situação, havia acabado de ser demitido e encontrava dificuldade em sua recolocação. Segundo ele, só conseguia entrevistas para cargos irrelevantes e, pior, mesmo esses o recusavam, alegando que sua formação não condizia com a idade média de profissionais com aquelas qualificações. 

Já Juliano era seu oposto. Não havia completado 30 anos ainda e já tinha carro quitado e apartamento financiado. Sua trajetória profissional era muito próxima da considerada ideal para jovens da sua idade. Já havia assumido sua primeira gerência e considerava-se estável na profissão. Sem contar as viagens nacionais e internacionais que fez pela empresa, garantido-lhe experiências realmente valiosas para seu currículo. Juliano era casado, tinha uma esposa que trabalhava tanto quanto ele, e o filhinho do casal estudava em uma das melhores escolas da cidade. Seu carro não era o do ano, e seu apartamento ficava num bairro mais afastado. Porém, eram seus e, pouco a pouco, o casal conquistava mais e mais notoriedade em suas profissões. 

Perguntando aos dois sobre alguns hábitos, pude perceber a diferença crucial que fazia com que ambos tivessem tomado rumos tão diferentes na carreira/vida. Não foram as oportunidades, pois Rafael passou por empresas boas. Eu diria, inclusive, que Rafael tivera mais condições de se dar bem do que Juliano, mas, por não se planejar adequadamente havia deixado passar chances que talvez jamais recupere. 

Juliano contou um pouquinho de sua rotina e relatou que, ano após ano, planeja o que farão (ele e a esposa) no próximo ano. Segundo ele, as prioridades financeiras sempre são voltadas ao desenvolvimento profissional/intelectual de ambos, inclusive do filho que, desde pequeno, já frequenta aulas de inglês. Juliano contou-nos, inclusive, que o planejamento do ano seguinte já estava praticamente pronto e que, dentre os planos, estava a entrada da esposa num curso de mestrado. 

Perguntei se todos os planos foram possíveis de executar até hoje. E, em meio a risos, disse-me que eles nunca conseguiram concretizar todos os planos colocados no papel, pelo contrário. Porém, a cada vez que detectavam a inviabilidade de um projeto, percebiam outras oportunidades com os ensejos que haviam criado para a execução do plano anterior. E, assim, iam adequando suas possibilidades às suas vontades e, principalmente, ao plano maior da vida dos dois. A propósito, eles não faziam apenas os planos ano a ano. Possuíam, na verdade, um planejamento traçado a longo prazo, para quando ambos estivessem aposentados. 

Admirado com o que eu escutava, perguntei quais eram os planos de Rafael. Esse, atônito, apenas riu e me respondeu que nunca havia planejado um ano de sua vida. Segundo ele, nem mesmo aquelas promessas tradicionais de ano novo eram feitas, já que considerava melhor aproveitar as oportunidades que apareciam esporadicamente.
Não preciso esconder minha decepção com sua resposta, já que disse isso diante dele naquele dia. Todos precisamos planejar nossos anos e, principalmente, nossas vidas. Com a chegada do fim do ano, chega também a hora de colocar isso no papel. Por isso, não perca a coluna Talento em Pauta da próxima terça e aprenda a planejar o seu ano de 2011. 

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